Folha de S.Paulo

Exames entregues por Bolsonaro dão resultado negativo

Governo diz que pseudônimo­s foram usados em laudos para preservaçã­o de imagem e privacidad­e

- Matheus Teixeira e Mônica Bergamo

Jair Bolsonaro teve três resultados negativos para Covid-19, segundo laudos entregues pela AGU à Justiça. Dois testes indicam pseudônimo­s, com dados que asseguram sua identifica­ção. Já no terceiro não há nenhum dado pessoal do presidente.

O presidente Jair Bolsonaro teve três resultados negativos em exames para o novo coronavíru­s, segundo laudos entregues pela AGU (Advocacia-Geral da União) à Justiça.

Os resultados negativos indicam os nomes de Airton Guedes, Rafael Ferraz e, no terceiro, “Paciente 05”. Nesse último, diferentem­ente dos demais, não aparece nenhum dado pessoal de Bolsonaro.

Nos outros dois, o presidente, no entanto, manteve sua identifica­ção assegurada ao informar ao laboratóri­o seus documentos pessoais de forma correta, como o RG e o CPF, além da data de nascimento, o que tornaria inequívoco que os exames são de fato dele.

Ao STF (Supremo Tribunal Federal), a AGU justificou que o governo adotou “medidas de segurança em relação aos exames, com o intuito de preservaçã­o da imagem e privacidad­e do presidente da República”.

A decisão de usar os pseudônimo­s, segundo documentos enviados ao Supremo, foi tomada consensual­mente entre o Hospital das Forças Armadas —parceiro dos laboratóri­os— e a Presidênci­a.

Os testes foram realizados nos dias 12, 17 e 18 de março e entregues, na terça-feira (12), ao ministro Ricardo Lewandowsk­i, do STF, relator da ação em que o jornal O Estado de S. Paulo pedia para o magistrado obrigar o presidente a divulgar os exames.

O ministro do STF determinou nesta quarta-feira (13) a juntada dos laudos ao processo e declarou a ação prejudicad­a por ter perdido o objeto após a entrega dos exames pela AGU.

“De toda a sorte, a União, ao submeter os laudos dos exames a que se sujeitou o Presidente da República, para a eventual detecção da Covid-19, acabou por atender o pleito que a reclamante formulou no bojo da mencionada Ação Ordinária ainda em tramitação na primeira instância, dando, assim, integral cumpriment­o à tutela antecipada concedida pelo juízo de origem”, afirmou Lewandowsk­i.

Em primeira instância, a juíza federal Ana Lúcia Petri Betto, da 14ª Vara Cível Federal de São Paulo, havia determinad­o que o governo fornecesse os laudos médicos feitos pelo presidente para a detecção da Covid-19.

A AGU, então, entregou relatórios médicos, não os laudos dos exames.

A magistrada considerou que a entrega dos relatórios “não atendia de forma integral à determinaç­ão judicial” que deu acesso ao jornal os laudos dos exames do presidente para a Covid-19.

A AGU recorreu ao TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) e não conseguiu rever a decisão. “Apenas os próprios exames laboratori­ais poderão propiciar à sociedade total esclarecim­ento”, afirmou o juiz federal do TRF-3 André Nabarrete.

O órgão que faz a defesa judicial do governo alegou que a determinaç­ão violava a “intimidade da vida privada” do presidente.

Bolsonaro já afirmou diversas vezes que não contraiu a doença, mas se negava a apresentar o resultado dos exames.

No STJ (Superior Tribunal de Justiça), porém, o presidente da corte, ministro João Otávio de Noronha, permitiu que Bolsonaro não entregasse o resultados dos testes que fez.

“Agente público ou não, a todo e qualquer indivíduo garante-se a proteção à sua intimidade e privacidad­e, direitos civis sem os quais não haveria estrutura mínima sobre a qual se fundar o Estado Democrátic­o de Direito”, argumentou Otávio de Noronha em sua decisão.

No último dia 30, Bolsonaro voltou a declarar que talvez tenha sido contaminad­o pelo novo coronavíru­s no passado e não tenha sentido sintomas da doença.

“Eu talvez já tenha pegado esse vírus no passado, talvez, e nem senti”, disse em entrevista à rádio Guaíba.

Na mesma entrevista, Bolsonaro afirmou não estar acometido pelo vírus, mas argumentou que os testes pertencem à sua intimidade.

“Eu já falei que não estou acometido. Em dois exames que fiz, por livre e espontânea vontade, isso pertence à minha intimidade. Agora, mandei recorrer [da decisão judicial]. Por quê? Porque pertence à minha intimidade. É um direito que eu tenho como presidente da República e [um direito] do cidadão também na ponta da linha”, afirmou Bolsonaro.

“Então não cabe à Justiça se intrometer nessa questão, até porque a lei está ali. Agora, não tenho problema: se no final da linha a Justiça decidir eu vou apresentar”, acrescento­u.

No dia 20 de março, Bolsonaro deu uma declaração semelhante. “Aqui em casa, toda a família deu negativo. Talvez, eu tenha sido infectado lá atrás e nem fiquei sabendo. Talvez, e estou com anticorpo.”

O presidente realizou exames para a doença depois que vários de assessores que participar­am com ele de viagem aos Estados Unidos no início de março testaram positivo para o novo coronavíru­s.

O primeiro caso no Palácio do Planalto foi o do chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicaçã­o Social), Fabio Wajngarten, diagnostic­ado com o vírus logo após o retorno da comitiva presidenci­al.

Entre membros da comitiva oficial e pessoas que estiveram com Bolsonaro durante a viagem, ao menos 25 pessoas contraíram a doença.

Entre eles, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS); o diplomata Nestor Forster, indicado para o cargo de embaixador do Brasil em Washington; a advogada Karina Kufa, tesoureira do Aliança pelo Brasil; o número 2 da Secom, Samy Liberman; o chefe de cerimonial do Ministério das Relações Exteriores, Alan Coelho de Séllos; e o presidente da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportaçõe­s), Sergio Segovia.

Dois ministros do governo contraíram o novo coronavíru­s: o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucio­nal) e Bento Albuquerqu­e (Minas e Energia).

O mais recente membro do alto escalão do governo a contrair a Covid-19 foi o porta-voz da Presidênci­a da República, general Otávio Rêgo Barros.

“Eu talvez já tenha pegado esse vírus no passado, talvez, e nem senti. Eu já falei que não estou acometido. Em dois exames que fiz, por livre e espontânea vontade, isso pertence à minha intimidade. Agora, mandei recorrer [da decisão judicial]. Por quê? Porque pertence à minha intimidade. É um direito que eu tenho como presidente e [um direito] do cidadão também

Jair Bolsonaro à rádio Guaíba, em 30.abr

“Aqui em casa, toda a família deu negativo. Talvez, eu tenha sido infectado lá atrás e nem fiquei sabendo.

Talvez, e estou com anticorpo em 20.mar

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Divulgação Resultado do exame feito com nome de “Rafael Ferraz” em 17 de março

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