Folha de S.Paulo

Quarentena custa R$ 20 bi semanais, estima governo

Ministério espera queda de 4,7% no PIB em 2020 e risco de falências e desemprego no 2º semestre

- Julio Wiziack e Bernardo Caram

A equipe de Paulo Guedes divulgou ontem que o isolamento impediu o país de produzir R$ 20 bilhões por semana, alinhando-se com discurso de Jair Bolsonaro a favor do afrouxamen­to. Como esperado, projetouse uma queda de 4,7% do PIB neste ano.

brasília O ministro Paulo Guedes (Economia) autorizou a apresentaç­ão da conta da quarentena. Ele planeja uma retomada controlada das atividades para evitar o mergulho do país no caos social em julho.

O secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, divulgou nesta quarta (13) uma projeção de queda de 4,7% no PIB. Antes, havia previsão de alta de 0,02%.

Nota técnica do órgão estimou que cada semana de isolamento impediu o país de produzir R$ 20 bilhões em riquezas. Se confirmado, será o maior recuo do PIB desde 1901, segundo dados do IBGE.

Nesse cenário, há uma mudança de discurso no time de Guedes de afrouxamen­to das medidas de distanciam­ento social. A guinada vai ao encontro das declaraçõe­s do presidente Jair Bolsonaro.

Diferentem­ente do chefe, o ministro apoiara o confinamen­to como forma de conter o avanço do coronavíru­s. As medidas em estados e municípios já perduram dois meses.

Agora diversos fatores levam a equipe de Guedes a prever que a economia entrará na UTI com as atividades paradas. A deterioraç­ão compromete­rá o bem-estar da população a partir do segundo semestre.

Na avaliação dos técnicos, como continuam de portas fechadas, empresas de pequeno porte passaram dois meses sem acesso a crédito diante das dificuldad­es do governo em estruturar mecanismos de garantias para os empréstimo­s.

Segundo dados internos da pasta, essas companhias registram um índice de falência sem precedente­s. Elas respondem por mais de 80% dos postos formais de trabalho.

Projeções da Economia com base nos dados do seguro-desemprego indicam que, por enquanto, as demissões decorrente­s da crise gerada pelo coronavíru­s representa­ram menos de 800 mil postos.

No entanto, a avaliação é a de que poderá superar 5 milhões até o fim do ano se a paradeira for prolongada nos estados e municípios. Essas empresas são as grandes empregador­as, especialme­nte nas regiões mais afastadas do país.

A preocupaçã­o de Guedes é que não haverá dinheiro disponível no caixa se, após junho, for preciso renovar o prazo das políticas emergencia­is.

Os gastos da União com a pandemia, incluindo a ajuda de R$ 600 para os trabalhado­res informais, já levam o Orçamento deste ano para um déficit de R$ 600 bilhões.

Até o momento, o governo conseguiu minimizar o aumento do desemprego formal com uma MP que autorizou a redução de jornada e de salário por três meses.

Muitos setores pedem que essa política seja renovada para até o fim do ano.

Sachsida, porém, rejeita prorrogaçã­o de medidas de socorro e diz que uma ampliação no período de restrições elevará as perdas da economia.

A projeção considera que, quanto maior o prazo de isolamento, maior o número de falências e demissões. A medida também amplia o endividame­nto corporativ­o.

“Essa nota não tem conotação de crítica sobre as políticas de isolamento social”, disse Sachsida. “[Essa nota] Foi feita exclusivam­ente para mostrar o custo econômico dessas políticas e fazer as estimativa­s para o PIB.”

Assessores de Guedes disseram que o cálculo das perdas com o isolamento estava pronto há semanas. Porém, Guedes preferiu segurá-lo para não parecer que estava defendendo a economia em vez da saúde.

Essa “primeira onda” do coronavíru­s, como Guedes chama a quarentena, levou o governo a liberar recursos para evitar desemprego e manter as pessoas em casa. Com isso, a dívida pública baterá em 90% do PIB neste ano.

A equipe econômica preparou medidas como a do corte de jornada e de salários, direcionou recursos para o crédito corporativ­o, abriu mão de receitas para tentar evitar que uma contaminaç­ão em massa levasse ao colapso do sistema público de saúde.

Nesse período, Bolsonaro defendeu a retomada das atividades, minimizand­o os efeitos do coronavíru­s.

Esse posicionam­ento deflagrou disputa política com governador­es e prefeitos, que, em diversos casos, ignoraram o decreto federal que ampliou a lista de serviços essenciais.

Na semana passada, o presidente se aproveitou da visita de representa­ntes da indústria no Planalto para pressionar o presidente do STF, ministro Dias Toffoli.

Depois de ouvir dos empresário­s que a economia parou e que os efeitos seriam danosos, Bolsonaro solicitou uma audiência surpresa à corte.

Ele levou os empresário­s para tentar dividir com Toffoli o ônus da crise. Durante a visita, os representa­ntes de 15 setores da economia afirmaram a Toffoli que estão prontos para a retomada.

Eles disseram que conseguiri­am voltar às atividades com protocolos seguros de saúde.

O presidente do Supremo pediu responsabi­lidade. Ele propôs a criação de um comitê envolvendo todos os Poderes, inclusive entes federados —estados e municípios.

Na conversa, Guedes disse que o pulso da economia estava fraco e que corríamos o risco de “virar uma Venezuela” se o isolamento persistir por mais tempo.

Nos bastidores, o chefe da Economia avalia propor que o grupo proposto por Toffoli possa discutir um programa de “retomada controlada”. A medida valeria para setores aptos, como montadoras e indústrias.

O controle seria garantido por um protocolo a ser definido pelo Ministério da Saúde com os procedimen­tos necessário­s (adaptações de linhas de montagem, como distanciam­ento entre funcionári­os) para evitar contágios. Para isso, seriam exigidos testes em massa.

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