Presidente quer ampliar adoção da cloroquina até para casos leves
brasília Mesmo após um dos maiores estudos feitos até o momento ter apontado que a hidroxicloroquina não reduziu a mortalidade de pessoas com Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro disse que quer ampliar o uso do medicamento, indicando-o também para casos leves da doença.
Nesta quarta (13), ao sair do Palácio da Alvorada, Bolsonaro se disse “preocupado com o elevado número de mortes” e que falaria com o ministro Nelson Teich (Saúde) para que a cloroquina fosse usada desde o estágio inicial da doença.
“Não é o meu entendimento, que eu não sou médico. É o entendimento de muitos médicos do Brasil e outras entidades de outros países [que entendem] que a cloroquina pode e deve ser usada desde o início, apesar de saberem que não tem uma confirmação científica da sua eficácia”, disse.
O presidente afirmou que usaria o remédio em sua mãe, de 93 anos, mesmo sem qualquer comprovação científica.
“Lógico que não vou forçar o médico, tem muitos médicos que concordam com este tipo de medicamento, e ela usaria a hidroxicloroquina enquanto não tivermos algo comprovado no mundo, temos este no Brasil aqui, que pode dar certo, pode não dar certo. Mas, como a pessoa não pode esperar quatro, cinco dias para decidir, que a morte pode vir, é melhor usar”, disse Bolsonaro.
Na terça, Teich escreveu em rede social que, segundo o Ministério da Saúde, “a cloroquina pode ser prescrita para pacientes hospitalizados” e que o Conselho Federal de Medicina “entendeu a excepcionalidade em que vivemos e possibilitou o uso em outras situações”. “Um alerta importante: a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais. Qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica. O paciente deve entender os riscos e assinar o ‘Termo de Consentimento’ antes de iniciar o uso da cloroquina.”
Teich, que substituiu Henrique Mandetta, já tem mostrado divergências com Bolsonaro. Ele não tem defendido o fim do distanciamento social e ficou surpreso com a edição de decreto presidencial liberando a abertura de academias, barbearias e salões de beleza.
Questionado sobre a falta de sintonia, Bolsonaro disse: “Todos os ministros têm que estar afinados comigo. Todos os ministros são indicações políticas minhas. Quando eu converso com os ministros, quero eficácia na ponta da linha. Neste caso, não é eu gostar ou não do ministro Teich. É o que está acontecendo. Estamos tendo centenas de mortes por dia. Se existe uma possibilidade de diminuir este número com a cloroquina, por que não usá-la?”, indagou.
Ele disse que “quem ficar em casa parado vai morrer de fome” e que “não podemos ficar hibernando em casa”. “Quem não quiser trabalhar fica em casa, porra!”, bradou.
Bolsonaro voltou a criticar o infectologista David Uip, coordenador do comitê de contingenciamento para a Covid-19 do governo de SP por ter se negado a responder se usou o remédio. “Este é o caráter do cara que está ao lado do [governador de SP, João] Doria”, disse.
Muitas pesquisas não têm mostrado bons efeitos da cloroquina. Um dos maiores estudos até hoje não viu redução de mortalidade por Covid entre quem tomou hidroxicloroquina. A pesquisa com 1.438 pacientes foi publicada na segunda (11) na revista Jama (Journal of the American Medical Association), um dos principais periódicos médicos do mundo.
Na última semana, outra pesquisa, com 1.376 pacientes de Nova York, publicada no The New England Journal of Medicine, também apontou que não encontrou evidências de que o uso da hidroxicloroquina influencia na redução de mortes ou nas intubações.
Os pesquisadores analisaram pacientes com Covid-19 de 25 hospitais entre 15 e 28 de março. Cerca de 25,7% dos medicados com hidroxicloroquina e azitromicina morreram, assim como 19,9% dos que tomaram só hidroxicloroquina, 10% dos que receberam só azitromicina e 12,7% dos que não tomaram essas drogas.
“É preciso cautela para que medicamento sem eficácia comprovada não cause mais danos ao paciente do que a doença”, disse Leonardo Weissmann,infectologistadoInstituto de Infectologia Emílio Ribas.