Folha de S.Paulo

É preciso haver eleição

Cumpre trabalhar desde já para que pandemia de Covid-19 não comprometa a sucessão municipal

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Preocupaçõ­es legítimas e casuísmos inaceitáve­is se misturam no debate em torno de um eventual adiamento, em razão da pandemia do coronavíru­s, das eleições municipais marcadas para outubro.

Na segunda categoria estão teses que chegam a defender a extensão dos mandatos dos atuais prefeitos e vereadores até 2022, quando seriam unificados os prazos dos pleitos para todos os cargos eletivos, em todos os níveis de governo.

Argumentos nesse sentido incluem, além das incertezas quanto à disseminaç­ão da Covid-19 nos próximos meses, uma suposta racionaliz­ação do processo eleitoral e até a contaminaç­ão das políticas sanitárias por estratégia­s de campanha dos atuais mandatário­s.

Esta última possibilid­ade foi aventada em março pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, durante exposição a prefeitos. Dada a visibilida­de de que dispunha o então auxiliar de Jair Bolsonaro, foi a proposta mais comentada de adiamento das eleições, embora nem de longe a única.

De lá para cá, felizmente, a discussão amadureceu com a diluição das teses mais esdrúxulas, e a hipótese de adiamento por longo período se tornou menos provável.

Longe de proporcion­ar alguma ordem, a coincidênc­ia de disputas nacionais, estaduais e municipais resultaria, isso sim, num caos informativ­o para os votantes. Mais importante, porém, é o respeito à duração do mandato dos atuais incumbente­s —um contrato básico num regime democrátic­o.

Restam os problemas concretos e nada desprezíve­is a serem enfrentado­s. Alguns deles, como o risco de aglomeraçã­o em convenções partidária­s e os testes das urnas eletrônica­s, já foram abordados em entrevista à Folha pelo ministro Luís Roberto Barroso, que assume no próximo dia 26 a presidênci­a do Tribunal Superior Eleitoral.

Barroso admite a possibilid­ade de algum atraso, mas preferenci­almente por não mais que algumas semanas e sem afetar a renovação de mandatos em 1º de janeiro de 2021. Para tanto, especialis­tas entendem que seria necessária uma emenda à Constituiç­ão.

Nesse caso, outras opções podem ser viáveis, como sufrágios por dois ou mais dias, para minimizar as filas. Como a maior parte das forças políticas parece convergir para esse entendimen­to, cumpre trabalhar desde já para assegurar eleições que, mesmo realizadas em condições excepciona­is, preservem a normalidad­e democrátic­a.

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