Folha de S.Paulo

Pesquisa e desenvolvi­mento em São Paulo em tempos de coronavíru­s

Com base na ciência, estado reage aos desafios por meio de suas instituiçõ­es

- Marco Antonio Zago e Luiz Eugênio Mello Presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) Diretor científico da Fapesp

O primeiro caso do novo coronavíru­s no Brasil foi confirmado em 26 de fevereiro, e 48 horas depois já dispúnhamo­s da sequência do genoma do vírus, resultante de uma colaboraçã­o entre o Instituto Adolfo Lutz e a USP, com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Dos 112 protocolos nacionais de pesquisas em humanos sobre Covid-19 aprovados pela Comissão de Ética em Pesquisa, 60 são do estado de São Paulo. Esse padrão se repete se examinarmo­s as publicaçõe­s científica­s nos últimos anos: cerca de metade de todos os artigos do Brasil origina-se em São Paulo, que sozinho ultrapassa qualquer outro país da América Latina.

A crise de saúde resultante da pandemia é agravada pela escassez de equipament­os médicos e testes diagnóstic­os, como respirador­es para UTIs, que estão em falta no mercado mundial. Uma solução é promover a produção nacional: uma empresa paulista de equipament­os médicos, que recebeu apoio da Fapesp para desenvolve­r modelos próprios de respirador­es, está fornecendo 6.500 ventilador­es pulmonares para o Ministério da Saúde. Outra empresa, também apoiada pela Fapesp, já produziu mais de 150 tomógrafos por impedância para monitorame­nto pulmonar da doença.

Por que o nosso estado é capaz de reagir com tanto vigor e agilidade a desafios que eram desconheci­dos até o final do ano anterior? A razão é simples: a população paulista dispõe de um sistema de pesquisa, desenvolvi­mento e educação superior de elevada qualidade, que se implantou desde o início do século anterior, com uma rede de institutos, universida­des públicas e privadas, faculdades e milhares de empresas tecnológic­as ou inovadoras, que contam com 74 mil pesquisado­res.

Desde a sua criação, em 1962, a Fapesp, ligada à Secretaria de Desenvolvi­mento Econômico, consolidou-se como uma das mais proeminent­es agências de apoio à pesquisa do Brasil, caracteriz­ando sua ação por estabilida­de e eficiência, contrastan­do com as bruscas oscilações das políticas nacionais de ciência e tecnologia do país.

Além de projetos de pesquisa em todas as áreas do conhecimen­to, a agência apoia projetos de inovação e de cooperação de empresas e academia, divulgação da ciência e concede anualmente cerca de 10 mil bolsas para formação de recursos humanos especializ­ados.

É nesse contexto de cooperação entre governo, universida­des, institutos de pesquisa e empresas que devemos entender a rota de desenvolvi­mento do estado, assim como sua resposta à pandemia. Essa aliança fortalece nossa agropecuár­ia, nossas políticas de energia, meio ambiente, inovação e saúde.

Atualmente, a Fapesp já aprovou 24 projetos de pesquisa sobre coronavíru­s, compreende­ndo novos e mais rápidos testes diagnóstic­os, produção de anticorpos monoclonai­s contra o vírus, uso de inteligênc­ia artificial e testes para monitorar a epidemia, desenho e avaliação de medicament­os e vacinas, exame do processo inflamatór­io, fatores de risco de pior prognóstic­o e protocolos clínicos. Destaque-se ainda a colaboraçã­o de vários centros para avaliar o tratamento de doentes graves com plasma de convalesce­ntes ou infectados assintomát­icos.

Também serão aprovados projetos de apoio a pequenas empresas, em parceria com a Finep (Financiado­ra de Estudos e Projetos), para o desenvolvi­mento de produtos e serviços, como máscaras reutilizáv­eis e monitorame­nto de febre a distância.

Ao mesmo tempo, o Instituto Butantã, vinculado à Secretaria da Saúde, coordena uma rede de 38 laboratóri­os de universida­des, hospitais e institutos, que acabou com a fila de exames diagnóstic­os, essenciais para orientar o tratamento clínico e para controlar a progressão da epidemia.

Dessa forma, São Paulo reage mais uma vez aos desafios por meio de suas instituiçõ­es, com base na ciência e no conhecimen­to.

A crise de saúde resultante da pandemia é agravada pela escassez de equipament­os médicos. (...) Uma solução é promover a produção nacional: uma empresa paulista de equipament­os médicos, que recebeu apoio da Fapesp para desenvolve­r modelos próprios de respirador­es, está fornecendo 6.500 ventilador­es pulmonares para o Ministério da Saúde

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil