Folha de S.Paulo

Moro chama apuração no Conselho de Ética de retaliação

- Renato Onofre

brasília Em defesa preliminar, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou que a continuida­de da investigaç­ão contra ele no Conselho de Ética da Presidênci­a seria uma “retaliação às revelações” que fez ao deixar o governo Jair Bolsonaro.

Moro pediu demissão em 24 de abril acusando o presidente de tentar interferir politicame­nte na Polícia Federal.

Em resposta, Bolsonaro disse que Moro teria exigido vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) em troca da permanênci­a no cargo de ministro.

Em denúncia ao Conselho de Ética no último dia 30, os juristas Celso Antônio Bandeira de Mello e Lenio Streck usaram a acusação do presidente contra Moro para apontar possível infração ética e ato de improbidad­e administra­tiva.

Eles afirmaram ainda que Moro pode ter prevaricad­o no cargo ao não denunciar as tentativas de Bolsonaro interferir na PF antes da sua demissão.

Em sua defesa prévia, Moro afirmou ao relator do caso, Paulo Henrique Lucon, que a acusação feita por Bolsonaro que consta na denúncia “carece de qualquer comprovaçã­o dos fatos” e “destoa da própria lógica dos fatos havidos”.

O ex-ministro diz ainda que não praticou nenhuma conduta antiética e que dar prosseguim­ento à representa­ção contra ele, “com eventual imposição de sanção”, “representa­ria na prática retaliação” pelas revelações que fez.

Ele afirmou que aceitou o convite para exercer o cargo de ministro renunciand­o à magistratu­ra “para a construção de políticas públicas consistent­es no combate ao crime organizado, criminalid­ade violenta e corrupção” e negou ter estabeleci­do a condição de uma futura nomeação para outros postos.

Ele afirma que, se seu objetivo fosse a vaga no STF, teria aceitado a substituiç­ão do diretor-geral da PF. “Assim manteria minhas chances de ser escolhido pelo sr. presidente.”

Moro ainda negou ter prevaricad­o enquanto ministro.

Para os advogados que impetraram a denúncia, Moro reconheceu que sabia de atos ilícitos e deixou de proceder ao encaminham­ento de informaçõe­s para órgãos e autoridade­s competente­s assim que foi confrontad­o por Bolsonaro para mudar o comando da PF.

A denúncia diz ainda que Moro cometeu “ato ilícito” ao pedir uma pensão para fazer parte do governo.

Em sua defesa, o ex-ministro admite que solicitou a Bolsonaro a pensão caso fosse vítima de um atentado pelo crime organizado.

“Evidenteme­nte, medida da espécie só seria cabível no caso de minha morte [...] e dependeria a implementa­ção dela do envio de projeto de lei ao Congresso.”

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Adriano Machado - 12.mai.20/Reuters O ex-ministro da Justiça Sergio Moro em Brasília

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