Folha de S.Paulo

Promotoria do DF age contra grupo apoiador de Bolsonaro

Ação pede busca e apreensão de armas em acampament­o dos 300 do Brasil

- Renato Machado e Daniel Carvalho

O Ministério Público do Distrito Federal ingressou na tarde desta quarta-feira (13) com uma ação civil pública contra os integrante­s do movimento 300 do Brasil, próBolsona­ro, que vem atuando em Brasília há quase um mês.

A ação, assinada pelos promotores Flávio Augusto Milhomem e Nísio Tostes Ribeiro Filho, pede o fim do acampament­o do grupo na capital federal e busca e apreensão e revista pessoal em seus integrante­s, para encontrar armas de fogo em situação irregular ou cujos donos não possuam autorizaçã­o legal para o porte.

Em entrevista à Folha por escrito, na terça (12), a líder do movimento, Sara Winter, ex-feminista convertida ao conservado­rismo, reconheceu que integrante­s do 300 do Brasil têm armas de fogo. Ressaltou que elas eram usadas apenas para a defesa dos próprios membros do acampament­o e não nas atividades de militância.

“Em nosso grupo existem membros que são CACs [Colecionad­or, Atirador, Caçador], outros que possuem armas devidament­e registrada­s nos órgãos competente­s. Essas armas servem apenas para a proteção dos próprios membros do acampament­o e nada têm a ver com nossa militância”, afirmou Winter.

O movimento ganhou notoriedad­e ao anunciar um grande acampament­o para treinar militantes dispostos a defender o governo.

Os promotores descrevem o grupo como milícia armada e afirmam que sua presença no centro da capital federal “representa inequívoco dano à ordem e segurança públicas”. A ação coloca Sara Winter na posição de ré, assim como o próprio Distrito Federal.

A medida pede em caráter liminar que o DF aplique a política de distanciam­ento social contra o novo coronavíru­s e por isso proíba aglomeraçã­o de pessoas para manifestaç­ões populares; a aplicação de sanções administra­tivas para as infrações às medidas de restrição social; o encaminham­ento dos infratores que mantenham as manifestaç­ões às delegacias de polícia; além da desmobiliz­ação do acampament­o dos 300 do Brasil.

Também nesta quarta, a Polícia Militar do DF informou que monitora diariament­e o movimento, mas até agora não encontrou armas de fogo com seus representa­ntes.

A corporação reconhece que não promoveu nenhuma operação específica para revistar os membros do grupo, mesmo após a notícia de que alguns deles estariam armados.

“A Polícia Militar do DF (PMDF), como faz rotineiram­ente, está realizando policiamen­to nesta quarta-feira (13), no local do ato promovido pelo grupo intitulado de ‘300 do Brasil’”, disse, em nota.

“A corporação destaca, ainda, que não foram encontrada­s armas de fogo entre os participan­tes do grupo. Se houver suspeita ou denúncia, a PMDF é a primeira a agir, uma vez que a própria Constituiç­ão Federal proíbe manifestaç­ão armada”.

O texto acrescenta que os membros do grupo costumam ficar ao lado do Ministério da Justiça e que realizam ao final de cada dia um ato na rua das Bandeiras, o que estaria ocorrendo de forma pacífica.

Especialis­tas afirmam que o porte de armas por um movimento é considerad­o inconstitu­cional, independen­temente de uso para a sua atividadef­im ou não. “A mesma Constituiç­ão que assegura o direito de reunião e de manifestaç­ão é expressa ao proibir que isso seja feito por grupos armados”, afirma Marcus Vinicius Furtado Coêlho, advogado constituci­onalista.

“A Lei Maior não faz qualquer exceção a depender da finalidade do uso das armas, seja para a defesa do grupo, seja para atividades da militância. A conduta é expressame­nte vedada pela Constituiç­ão”, completa.

O Instituto Sou da Paz encaminhou parecer à Câmara Legislativ­a do DF em que aponta haver indícios de crimes por parte do movimento por causa do porte de armas. Seriam violações do artigo 5º da Constituiç­ão e do artigo 288, do Código Penal, que trata de grupos paramilita­res.

 ?? Pedro Ladeira/ Folhapress ?? A líder Sara Winter entre apoiadores de Bolsonaro no portão do Alvorada, na manhã desta quarta-feira
Pedro Ladeira/ Folhapress A líder Sara Winter entre apoiadores de Bolsonaro no portão do Alvorada, na manhã desta quarta-feira

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