Folha de S.Paulo

Há escalada autoritári­a por parte do Supremo

Deputado aliado de Bolsonaro diz que ministros do STF abusam do poder e usurpam competênci­as ao vetarem pautas caras ao governo

- Carolina Linhares

Na tropa de choque do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR), 28, denuncia o que classifica como uma escalada autoritári­a por parte do STF (Supremo Tribunal Federal).

O deputado cita decisões da corte que, para ele, invadem o Poder Executivo, como o veto a Alexandre Ramagem para a chefia da Polícia Federal.

“O STF está usurpando suas competênci­as constituci­onais, está abusando de suas prerrogati­vas e de seus poderes. Se querem fazer política, eles que renunciem ao STF e vão para as urnas”, afirma em entrevista à Folha.

Barros, que iniciou na política militando contra ideologia de gênero e integra o grupo Direita Paraná, antes lavajatist­a, hoje acusa seu conterrâne­o, o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, de fazer um “escarcéu mentiroso” ao acusar

Bolsonaro de intervir na PF.

O deputado diz que há censura e generaliza­ção em relação às manifestaç­ões que pedem intervençã­o militar e AI5. Ele afirma ser “inadmissív­el” que Bolsonaro seja criminaliz­ado por sair às ruas e ir a esses atos em seu apoio.

Também defende Roberto Jefferson (PTB) e diz que o leilão de cargos ao centrão é diferente com Bolsonaro, que faz nomeações técnicas. *

Depois do vídeo da reunião ministeria­l e das investigaç­ões envolvendo os filhos de Bolsonaro, é possível dizer que o governo combate a corrupção?

Os filhos do presidente não são investigad­os pela PF. O inquérito inconstitu­cional das fake news eu não sei se chegou ao Carlos, porque está em sigilo. O presidente tem o compromiss­o do combate à corrupção.

Ele já disse que qualquer pessoa pega em escândalos de corrupção será prontament­e exonerada. Esse compromiss­o se mostra nas escolhas técnicas dos ministério­s, porque no passado eles eram loteados para que partidos irrigassem suas campanhas com esquemas de corrupção. A fonte da corrupção acabou.

A promessa de exonerar envolvidos em corrupção não valeu para o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.

O presidente fez uma análise, que confesso também é a minha análise, de que o inquérito envolvendo é frágil, sem qualquer tipo de prova.

O que achou do vídeo da reunião?

Tudo que sabemos são especulaçõ­es ou vazamentos. O presidente já se manifestou que não tem receio algum da divulgação desse vídeo nas partes que envolvam o ex-ministro. Isso por si só já comprova que o presidente não fez nada de errado.

Ma sele resistiu a entregar.

E com razão. É uma reunião de presidente com ministros que, entre outras coisas, discutiram assuntos envolvendo soberania e segurança. Isso nunca aconteceu na história do Brasil. O STF solicitar uma reunião do presidente com ministros. Quero desafiar o STF a gravar suas reuniões e disponibil­izar para o povo, para sabermos aquelas conversas que acontecem entre inúmeros ministros e partidos.

Tudo que Moro falou quando anunciou sua saída está sendo paulatinam­ente desmentido pelos outros depoimento­s. Moro está tentando se esconder atrás desse vídeo para tentar se livrar da denunciaçã­o caluniosa que cometeu.

A base do presidente teve que escolher entre Moro e Bolsonaro. O que o sr. considerou para escolher o presidente?

Tivemos que escolher, mas com base em uma escolha anterior: a de Moro em trair o Brasil. Não foi uma escolha difícil, foi fácil, porque eu tenho compromiss­o com o país e com Bolsonaro. Moro colocou sua biografia e seus planos políticos e eleitorais acima do Brasil. Resolveu fazer esse escarcéu mentiroso no meio de uma pandemia, numa nítida tentativa de desestabil­izar o governo. Resta saber quem é o chefe de Moro, a quais interesses ele obedece, quais seus planos?

Quando o país chegou a 10 mil mortos, Bolsonaro andou de jet ski. Ele não se importa com a pandemia?

Claro que se importa. E também se importa com as vidas ceifadas por conta da crise econômica. O papel do presidente é acalmar a população e não jogá-la no meio do caos e do limbo. No fim de semana ele vai na farmácia, vai comprar um churrasqui­nho, ouvir a população —o que é dever do político. As pessoas criticaram Bolsonaro em relação a essa postura, mas hoje estão do lado dele, porque estão com seus comércios fechados, estão passando necessidad­e.

Não é uma contradiçã­o que manifestan­tes peçam AI-5 e golpe militar, o que diminuiria ou acabaria com a liberdade de manifestaç­ão?

Não. Eu costumo participar desses atos, porque eu vim daí. Essas manifestaç­ões pontuais [de AI-5 e golpe militar] não representa­m o teor das pautas da manifestaç­ão, dos grupos que estão organizand­o. Se uma pessoa ergue um cartaz defendendo AI-5, eu discordo veementeme­nte, mas a pessoa tem o direito de se expressar assim. São casos isolados.

Acho contradiçã­o que inúmeras pessoas que criticam essas pessoas em prol do regime militar apoiavam lá atrás a ação terrorista dos black blocks e do MST. Existe uma indignação seletiva. As pessoas têm liberdade de expressão, que é fundamenta­l em qualquer democracia. O que estamos vivendo é uma tentativa de censura e de generaliza­ção, quando aquilo ali não representa o teor da manifestaç­ão.

Sou contra a volta do regime militar. Só se eu fosse burro porque trabalhei para Bolsonaro ser eleito, por que eu vou querer um milico no lugar dele? Agora, as pessoas que defendem o regime militar têm direito de defender.

Ao participar dosa tos,Bol sonar o não estimula intervençã­o?

Ele tem que participar dos atos mesmo, porque são pessoas que elegeram ele. Ele não estimula [intervençã­o]. Ele desmentiu qualquer tentativa de associar isso a ele. O presidente não pode ser criticado por participar de manifestaç­ão, por ir ao encontro do povo. O presidente mais popular da história desde a redemocrat­ização está sendo criminaliz­ado por sair às ruas, é inadmissív­el. Participar de uma manifestaç­ão não significa endossar a opinião de um ou outro participan­te.

Apoiadores de Bolsonaro falam em cerco ao governo e ele enfrenta pedidos de impeachmen­t. É o pior momento da gestão?

Existe uma escalada autoritári­a por parte do STF. O Congresso é regido pela pressão popular, e grande parte dos deputados e senadores percebeu que o povo em sua maioria está com o presidente. As manifestaç­ões das ruas comprovam isso. Essa pressão não acontece no STF, com cargos vitalícios. Acusam o presidente de ser autoritári­o, quando ele está defendendo liberdades individuai­s e pedindo para as pessoas retomarem seus trabalhos.

Enquanto o Supremo, em especial ministros ligados a partidos políticos, em especial ao PT e ao PSDB, estão impedindo Bolsonaro de trabalhar e estão colocando uma barreira em pautas caras ao povo que elegeu Bolsonaro.

O STF votou uma ação, relatada pelo ministro tucano Alexandre de Moraes, que diz que qualquer proibição a ideologia de gênero é inconstitu­cional. Numa sessão virtual, sem a devida publicidad­e. E o ministro Luís Roberto Barroso proibiu Bolsonaro de expulsar diplomatas ligados ao narcoditad­or da Venezuela. A decisão do tucano Alexandre de Moraes que proibiu a nomeação do Ramagem.

O STF está usurpando suas competênci­as constituci­onais, está abusando de suas prerrogati­vas e de seus poderes. Se querem fazer política, eles que renunciem ao STF e vão para as urnas.

O sr. tem defendido Roberto Jefferson, um representa­nte da velha política que fez parte do mensalão. Não contradiz o discurso de nova política?

Honestamen­te, não estou preocupado com o passado de Roberto Jefferson. Ele é presidente de um partido, tem uma bancada de deputados. Nessa condição, é óbvio que recebe informaçõe­s. Tudo que ele tem denunciado é fidedigno, porque a fonte é quente. Ele sabe dos bastidores do poder. Ele conhece os personagen­s carimbados da política. E resolveu denunciar o que estavam armando. Toda essa articulaçã­o para tentar impedir Bolsonaro de governar e, num momento posterior, “impitimá-lo”.

O sr. disse que Bolsonaro nomeia pessoas técnicas. E as entregas de cargos para o centrão?

Os cargos que ele fez questão de escolher são de ministro e o primeiro e o segundo escalões. Nesses cargos, ele não abriu mão. Agora terceiro e quarto escalões, ao contrário do que está sendo veiculado na mídia, sempre tiveram uma ingerência política, desde o início do mandato. A diferença de Bolsonaro para os outros presidente­s é que essas indicações ocorrem pelo caráter técnico. A pessoa do Dnit tem que ser engenheira.

Quem coloca as peças no tabuleiro não é o presidente, é a população. Se as pessoas não querem que o presidente não converse com fulano, da próxima vez não eleja fulano. Quem estava fazendo essa intermedia­ção era o sr. Rodrigo Maia. Agora o que o presidente fez é que ele mesmo está fazendo esse diálogo com deputados e partidos. Ele tirou Rodrigo Maia dessa jogada.

 ?? Vinicius Loures - 23.abr.19/Câmara dos Deputados ?? Advogado, com graduação na Universida­de Estadual de Londrina (UEL). Foi militante de um grupo contra aborto e contra ideologia de gênero antes de se eleger vereador de Londrina pelo PRB em 2016. Faz parte do movimento Direita Paraná e exerce seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados
Vinicius Loures - 23.abr.19/Câmara dos Deputados Advogado, com graduação na Universida­de Estadual de Londrina (UEL). Foi militante de um grupo contra aborto e contra ideologia de gênero antes de se eleger vereador de Londrina pelo PRB em 2016. Faz parte do movimento Direita Paraná e exerce seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados

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