Frete grátis volta a ser regra no comércio eletrônico para tentar elevar vendas
Varejistas de itens considerados não essenciais suspendem taxa de entrega para contornar aumento da concorrência virtual
são paulo Comportamento pouco usual antes da pandemia, pequenas e grandes varejistas agora oferecem frete grátis nas compras online, uma tentativa de enfrentar a acirrada concorrência pelos parcos clientes com renda e ainda dispostos a comprar produtos não essenciais na crise.
A taxa de entrega mais barata ou isenta cresceu mesmo em mercados estabelecidos, formados pela classe média que já comprava pela internet e intensificou esse comportamento na quarentena. O frete grátis era a norma do ecommerce quando ele engatinhava.
O esforço para atrair consumidores com esse subsídio, porém, pouco influenciou no faturamento geral do setor, que já vinha em escalada de crescimento e apresenta números altos durante a pandemia de coronavírus, de acordo com consultorias que monitoram o setor.
O faturamento do ecommerce cresceu 35,8% ante março de 2019, segundo dados dados da Nielsen. Na mesma comparação, o varejo brasileiro caiu 1,2%, apontou o IBGE nesta quarta-feira (13).
Empresas como Casas Bahia, Dafiti, lojas de marketplace da B2W, e Magazine Luiza intensificaram o benefício a várias regiões do país desde o início da pandemia.
A ViaVarejo, dona de Casas Bahia, Extra.com e Pontofrio, ampliou a oferta de frete grátis nas regiões Sul e Sudeste, definidas pela alta demanda.
“Temos um grupo grande de clientes nessas regiões, cruzamos com os itens mais vendidos e antecipamos essa demanda; com isso, temos um prazo de entrega ao cliente final reduzido e um valor de frete mais baixo”, diz Fernando Gasparini, diretor de logística.
A regionalização dos estoques auxiliou em investimentos nas campanhas com fretes grátis sem comprometer os resultados da empresa durante a pandemia, segundo o diretor.
Além da procura natural por itens de limpeza, que antes eram adquiridos em grande parte nos supermercados, itens de alto valor agregado, como TVs, notebooks e produtos de ginástica, também registraram aumento de demanda na varejista.
O Magazine Luiza zerou o frete a produtos de mercado e saúde em qualquer valor em todas as cidades durante o período de isolamento. Também subsidiou o frete aos vendedores de suas plataformas, movimento que já vinha implementando desde 2019, após a chegada da Amazon Prime, assinatura da Amazon que inclui frete, no Brasil.
“Para conseguirmos entregar sem ferir a operação com custo alto, foram vitais nossas lojas físicas. Avançamos ferozmente em nosso projeto de “ship from store” [loja usada como centro de distribuição para produtos comprados online] e conseguimos acelerar semanas de desenvolvimento em dias”, afirma Felipe Cohen, diretor de operações do ecommerce do Magalu.
Lojas de roupas como Khelf, TNG e Básico.com, que tinham no ponto físico parte essencial de renda, estão usando o benefício para driblar o impacto de estabelecimentos ou shoppings fechados.
“As marcas estão precisando se esforçar ao máximo para captar clientes para o online”, diz Fernando Abilio, sócio-diretor da Khelf, que tem 36 lojas em São Paulo, sendo apenas uma fora de shopping.
No caso da empresa, o frete é gratuito se o cliente utilizar o código do vendedor —outra tendência durante a quarentena, vendedores que buscam ativamente sua lista de clientes para lançar ofertas diretas.
Apesar da alta na procura geral pelo ecommerce, vendedores de itens considerados não essenciais, como roupas, lazere eletrônicos, adotaram flexibilização no custo do frete e descontos promocionais como alavancas de demanda para sobreviver à pandemia.
“Esse movimento foi visto principalmente nas primeiras semanas. Depois, o prazo de entrega se tornou um fator de importância, porque a procura aumentou muito, e varejistas não estavam preparados ao desafio logístico desse incremento nos pedidos”, diz Roberto Butragueño, diretor de atendimento ao varejo e ecommerce da Ebit| Nielsen.
Nas últimas semanas de março, segundo ele, o prazo médio de entrega do comércio eletrônico era de 21 dias —o que não se aplica a marcas com programas já consolidados de prazo, como a Amazon. Hoje, o intervalo baixou para 16 dias.
Segundo a Nielsen, 41% dos pedidos tinham frete grátis na primeira semana de abril, ante 38% no fim de janeiro.
Dados da Compre&Confie, que monitora transações online de grande parte do mercado, mostram que a média de preço de frete caiu 6,2% na comparação entre fevereiro e março de 2020 e o mesmo período do ano passado.
“A tendência seria elevar mais o frete grátis, mas muitas lojas entenderam que não faz sentido porque os clientes chegam por necessidade”, diz André Dias, diretor-executivo do Compre&Confie.
Um forte impulso para a alta do faturamento do varejo eletrônico está nos consumidores de primeira viagem, que nunca haviam adquirido alimentação pela internet, por exemplo. Nas primeiras semanas de pandemia ,40% dos compradores do setor alimentício comprava online pela primeira vez.