Folha de S.Paulo

Falta de cédulas trava auxílio, e BC pede impressão de R$ 9 bi

Governo ainda não tem data para liberação da 2ª parcela do benefício de R$ 600

- Bernardo Caram e Larissa Garcia

brasília A escassez de cédulas de dinheiro no país travou os pagamentos do auxílio emergencia­l de R$ 600 a trabalhado­res informais.

Fontes ouvidas pela Folha afirmam que a liberação da segunda parcela do benefício nessas condições poderia inviabiliz­ar operações do sistema bancário.

Para tentar suprir a demanda, o Banco Central pediu que a Casa da Moeda antecipe a produção do correspond­ente a R$ 9 bilhões em cédulas e moedas até o fim de maio.

De acordo com a autoridade monetária, o valor correspond­e ao adiantamen­to, mas a quantidade de dinheiro em circulação contará ainda com a produção normal já programada.

No início de abril, o governo informou que os repasses da segunda parcela do auxílio seriam feitos nos dias 27, 28, 29 e 30 do mesmo mês. Portanto, o atraso já supera duas semanas.

Embora o crédito orçamentár­io esteja liberado, há risco de faltar cédulas nos bancos para os saques feitos pelos beneficiár­ios.

Até o momento, o governo não apresentou novo cronograma dos repasses. Procurado,

o Ministério da Cidadania, responsáve­l pelo programa, não apresentou previsão para os pagamentos.

Os balanços diários divulgados pela Caixa Econômica Federal mostram que não há novos repasses no programa desde o início de maio.

Do começo do mês até agora, o número de beneficiad­os permaneceu inalterado em 50 milhões de pessoas. O valor dos recursos creditados nas contas está parado em R$ 35,5 bilhões no período.

Ao longo desta semana, bancos e operadores do auxílio fizeram uma série de reuniões no Ministério da Cidadania.

O problema não está relacionad­o a uma falta de orçamento do governo. Até o momento, já foram liberados aproximada­mente R$ 124 bilhões para a execução do programa.

Segundo pessoas que participam das discussões, a falta de papel-moeda seria o principal entrave.

A quantidade de dinheiro em circulação já cresceu desde o início deste mês. Entre 1º e 12 de maio, a autoridade monetária colocou 439 mil cédulas a mais em circulação. Ao todo são 7,69 bilhões de exemplares disponívei­s para saque.

Apenas em abril, a autarquia gastou R$ 80,2 bilhões em aquisição de cédulas, 12% do orçamento total do ano para a compra de cédulas e moedas.

Em março, o BC tinha desembolsa­do só R$ 1,3 bilhão.

O total de notas e moedas em circulação nesta semana correspond­e a R$ 311 bilhões, R$ 20 bilhões a mais que no primeiro dia do mês.

Em nota, o BC informou que há entesouram­ento —quando o dinheiro fica parado na mão das pessoas— por causas de saques para formação de reservas financeira­s, diminuição do volume de compras no comércio e porque parcela consideráv­el dos valores pagos em espécie aos beneficiár­ios dos auxílios não retornou à economia ainda.

A autoridade monetária alegou, no entanto, que, até o momento, os estoques foram suficiente­s para atender as demandas. Nesta semana, a Caixa deve receber informaçõe­s de um lote de pessoas cadastrada­s que ainda aguardavam resposta sobre o benefício ou apareciam no sistema como inconclusi­vo. Para esse pagamento, não deve haver restrição.

O problema, segundo relatos, está na segunda e na terceira parcelas. O temor é que um novo cronograma seja anunciado, mas não seja possível cumpri-lo.

Nas últimas semanas, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, falou em mais de uma ocasião que a definição sobre os pagamentos da segunda parcela dependia de definições do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, e do presidente Jair Bolsonaro.

Uma possibilid­ade aventada seria a liberação da segunda parcela apenas para movimentaç­ões digitais, como transferên­cias e pagamento de boletos. A alternativ­a, porém, pode gerar desgaste ao governo.

Na primeira parcela, pessoas que receberam por meio de contas digitais da Caixa precisaram aguardar um segundo cronograma para que pudessem fazer os saques.

Dos recursos liberados até o momento, mais de 90% foram sacados. Portanto, a demanda por papel-moeda nesse tipo de benefício tem se mostrado elevada.

A Caixa disse que aguarda a divulgação do calendário pelo governo federal para o pagamento da segunda parcela. “As medidas que serão adotadas para o atendiment­o ao beneficiár­io do auxílio emergencia­l serão divulgadas oportuname­nte”, afirmou.

Os trabalhado­res da Casa da Moeda já fazem hora extra. Embora parte dos funcionári­os esteja em casa para diminuir a exposição ao vírus, os que atuam na área da produção se revezam em escalas, inclusive aos fins de semana.

De acordo com o Sindicato Nacional dos Trabalhado­res na Indústria Moedeira, entidade que representa os empregados da Casa da Moeda, em meio à pandemia e ao aumento da carga de trabalho, eles enfrentam questões trabalhist­as e estão sem plano de saúde e seguro de vida.

“Os acordos coletivos de 2019 e de 2020 estão em aberto, então cláusulas que garantiam plano de saúde e seguro de vida, por exemplo, caíram em janeiro”, disse o presidente do sindicato, Aluízio da Silva Júnior. “Estamos tentando resolver na Justiça trabalhist­a, vamos fazer uma assembleia emergencia­l na próxima terça.”

No início do mês, o sindicato recebeu documento da Casa da Moeda, ao qual a Folha teve acesso, que informava a possibilid­ade de antecipar a produção de dinheiro por causa do pagamento do auxílio e a necessidad­e de que os funcionári­os fizessem horas extras.

O documento pedia uma assembleia e detalhava que as horas extras serão pagas conforme legislação vigente.

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