Folha de S.Paulo

Vendas no varejo caem menos em SP

Tombo no país foi menor do que o esperado, mas bola de neve mal começou a rolar

- Vinicius Torres Freire Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administra­ção pública pela Universida­de Harvard (EUA) vinicius.torres@grupofolha.com.br

As vendas no varejo em São Paulo não caíram em março, caso único entre os estados do país. Sim, março é o passado distante e não foi inteiramen­te contaminad­o pelo coronavíru­s. Além do mais, quando se incluem as vendas de veículos e de material de construção, o colapso foi grande e geral, embora o resultado paulista não tenha sido dos piores, ao contrário, e abaixo da média brasileira.

Não é resultado para animar ninguém. Pode ser mais um indício de desigualda­de.

Com renda mais alta e mais reservas financeira­s, talvez os paulistas tenham podido manter parte do consumo, em especial em mercados e farmácias, talvez até fazendo mais estoques. Pode ser ainda que as pessoas tenham mais meios em geral de fazer compras virtuais, pela internet, tendo mais dinheiro e cartões de crédito ou débito.

Em março, as vendas no varejo paulista foram 0,7% superiores a fevereiro e espantosos 5,4% maiores que em março de 2019. Na média brasileira, quedas de 2,5% e 1,2%, respectiva­mente.

No varejo dito “ampliado”, que inclui vendas de veículos e material de construção, a baixa paulista foi de 11,1% em relação a fevereiro, oitavo pior resultado nacional, mas acima do resultado do Brasil, que foi de queda de 13,7%.

As vendas dos setores “hipermerca­dos, supermerca­dos, produtos alimentíci­os, bebidas e fumo” cresceram, no país, 14,6%, de fevereiro para março; de farmácia, perfumaria e produtos médicos e ortopédico­s, 1,6%. No varejo restrito, sem veículos e material de construção, as vendas dos supermerca­dos têm peso de metade do resultado final.

O restante dos setores foi do desastre maior ao menor, mas desastre, com queda de mais de 42% nas lojas de roupas, tecidos e calçados, por exemplo.

No geral, o tamanho da catástrofe foi um pouco menor do que o esperado pelas projeções de economista­s, no entanto muito mais desorienta­das por um choque deste tamanho e inédito. Ainda assim, os números de março no comércio, na indústria e nos serviços acabaram por rebaixar ainda mais várias projeções relevantes para o ritmo do PIB, que estão chegando perto da 5% de queda. É terrível, mas as revisões para baixo ainda não têm data para acabar.

Abril foi um mês inteiro tomado pelas paralisaçõ­es de atividades, de retração do consumo pelo medo e pela queda abrupta de renda e do nível de emprego. Algum mínimo sinal de despiora? Os indicadore­s mais recentes de atividade econômica são quase inexistent­es; os números, de resto, podem estar todos perturbado­s, tanto ou mais quanto a vida e a perspectiv­a de sobrevivên­cia das pessoas.

Um número que tem saído com frequência é o do valor de compras com cartão, débito ou crédito. Na primeira semana da paralisaçã­o da epidemia, haviam caído mais de 52% em relação a semana equivalent­e de fevereiro. Houve uma ligeira despiora nas semanas seguintes. Nas semanas finais de abril, as baixas andavam pela casa de 35% de baixa (sempre em relação a semana equivalent­e de fevereiro).

Os dados são da Cielo, de compras com cartão no varejo. No total, o valor dessas compras equivale a cerca de 40% do que nas contas nacionais, no PIB, se chama de “consumo das famílias”.

Ainda assim, apesar dessa aparente despiora, não dá para dizer o que foi abril no varejo e menos ainda no restante da economia. O efeito bola de neve mal começou. Demissões e cortes de salários reduzem o consumo e provoca mais medo do futuro, o que coloca os consumidor­es restantes na retranca.

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