Folha de S.Paulo

Responder não ofende

Enquetes pululam de todos os lados e se esgotarão; ou não, que é o mais provável que aconteça

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

Qual foi o melhor time campeão brasileiro de futebol?

E o melhor jogo envolvendo um time nacional na história?

O Flamengo de hoje é melhor que o de 1981?

Que São Paulo foi o mais brilhante?

Pelé ou Di Stéfano? Pelé ou Eusébio? Pelé ou Maradona? Ele ou Messi?

O Cruzeiro de Alex foi superior ao de Tostão?

E o Inter campeão mundial era melhor que o de Falcão?

Quem foi o melhor goleiro brasileiro de todos os tempos? Quando o futebol vai voltar? Comecemos pelo fim. Tomara que volte o mais rapidament­e possível para parar o tiroteio de perguntas quase impossívei­s de serem respondida­s, tirante algumas, por terem respostas óbvias, embora até essas permitam divergênci­as.

Entre outros motivos, porque na maioria delas quem viu mais futebol leva vantagem, invariavel­mente em desacordo de quem não viu e para o rótulo de saudosista ser pespegado em sua testa.

Pespegado, por sinal, é bem antigo, um termo dessueto, palavra aprendida há dois dias, apesar de seu significad­o ser exatamente “em desuso”, ao ler monumental texto do repórter Fernando de Barros e Silva na revista piauí, sobre a calamidade Bolsonaro.

Ah, sim, a referência à volta da bola rolando assim que possível não significa apoio ao retorno açodado, porque irresponsá­vel e genocida. O possível, aí, demorará.

De resto, as respostas às perguntas acima são sempre pessoais e intransfer­íveis.

Nenhum outro time ganhou o Campeonato Brasileiro com tanta facilidade como o Flamengo no ano passado. Verdade que o Palmeiras, de 1994, e o Cruzeiro, de 2003, brilharam quase tanto quanto, mas o quase faz a diferença.

O melhor jogo com time brasileiro fica sem resposta.

Andaram escolhendo a virada de 0 a 3 para 4 a 3 do Vasco sobre o Palmeiras, na final da Copa Mercosul de 2000, de fato inesquecív­el.

Masquem viu o Santos de Pelé enfiar 5 no Botafogo de Mané, ouvir arde 0 a 2 para 4 a 2 sobre o Milan em decisão de torneio mundial, em 1963, ou fazer 6 a 5 no Palmeiras (1958), ou 7 a 4 no Corinthian­s (1964), ou 5 a 2 no Benfica, também em final de Mundial, em 1962, naquele que o Rei diz ter sido o melhor jogo de que participou na vida, levam a afirmar que pode ter sido qualquer um desses do Santos e não se fala mais nisso.

Para não falar de um Cru

Sobre as comparaçõe­s com Pelé basta dizer o seguinte: quase ninguém quer saber se Maradona foi melhor que Messi ou Di Stéfano ou Eusébio, ou Cruijff ou... A comparação é sempre com o Rei. O único Rei

zeiro 5, Inter 4, pela Libertador­es de 1976.

Segue o jogo: o Flamengo de Zico, campeão mundial de 1981, é, no mínimo, dois patamares melhor que o de 2019, sem nenhum demérito aos heptacampe­ões.

Como o São Paulo de Telê Santana e Raí é insuperáve­l até hoje, lembrando que só os muito mais velhos podem compará-lo ao dos anos 1940, o Rolo Compressor, de Leônidas da Silva.

Sobre as comparaçõe­s com Pelé basta dizer o seguinte: quase ninguém quer saber se Maradona foi melhor que Messi ou Di Stéfano ou Eusébio, ou Cruijff ou... A comparação é sempre com o Rei. O único Rei.

O Cruzeiro de Alex marcou época e ele merece sempre todos os aplausos. Mas o Cruzeiro de Tostão, além do Mineirinho de Ouro, tinha Dirceu Lopes também, outro gênio que, como Alex, precisa sempre ser destacado.

Ao chegar aos finalmente­s, resta dizer que o Inter de 1975/76, de Falcão, era também o de Paulo César Carpegiani, do gigantesco zagueiro chileno Elias Figueroa, do goleiro Manga, quatro degraus acima do Colorado campeão mundial, com todo respeito.

E Gylmar é Gylmar. Desculpe Taffarel. E ponto final.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil