Salles diz que ‘boiada’ era para todos os ministérios
Segundo o ministro do Meio Ambiente, frase era direcionada a todas as pastas
Ricardo Salles (Meio Ambiente) tentou se explicar por ter dito em reunião ministerial que o governo deveria aproveitar atenção da mídia com a Covid-19 para passar uma “boiada” de desregulamentação.
Para ele, suas declarações se referiam ao conjunto da Esplanada, e mudanças sempre causam polêmicas.
O ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) disse neste sábado (23) que foi mal interpretado e se referia à atualização de normas de toda a Esplanada quando usou a expressão “ir passando a boiada”.
À Folha ele negou que a frase fazia referência a eventual flexibilização de normas ambientais para avanço do agronegócio. Segundo Salles, as declarações na reunião ministerial foram tiradas de contexto.
“[Ir passando a boiada é] no sentido de que tem muitas normas em todos aqueles ministérios. Eu falei isso: todos os ministérios. Não estava falando só do meu”, disse.
“Talvez a expressão ‘passando a boiada’, claro que tirada de contexto, pode dar uma impressão de uma coisa, mas o que queria dizer é que tem muita coisa para fazer.”
Na sexta-feira (22), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello autorizou a divulgação da maior parte do conteúdo de vídeo gravado pelo Palácio do Planalto no dia 22 de abril. A gravação consta de inquérito que apura suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.
A acusação foi feita pelo exministro Sergio Moro (Justiça), segundo o qual o vídeo do encontro comprovaria a acusação de que o presidente queria proteger a sua família.
Na reunião, Salles defendeu que se aproveitasse da pandemia do coronavírus para aprovar reformas infralegais, inclusive em sua pasta.
Ele ressaltou que é hora da edição de medidas de desregulamentação e simplificação, uma vez que a imprensa está, neste momento, concentrada no combate à Covid-19.
“Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, afirmou na reunião.
Neste sábado, Salles disse que o comentário era destinado a todos os ministros presentes, no sentido de diminuir normas que criam “burocracia”, “retrabalho” e “ineficiência”. Segundo ele, este é o momento de revisão.
“Muitos ministérios, incluindo o meu, estão em trabalho remoto, e a pessoa tem tempo para fazer isso. Foi isso o que eu quis dizer”, afirmou.
O ministro disse ainda que usou o termo tranquilidade para fazer as mudanças enquanto a imprensa se dedica à pandemia no sentido de evitar “polêmica gigantesca”.
Tanto “ir passando a boiada” como “dar de baciada”, segundo o ministro, são expressões para acelerar a atualização das normas. “[Dar de baciada] é o sinônimo de passar boiada. Baciada significa fazer bastante. Fazer um monte de mudanças que são necessárias.”
O ministrou afirmou que em pouco mais de dois anos de governo Bolsonaro há ainda uma “lista interminável” de
ajustes a serem feitos.
Questionado sobre a atualização de regras ao largo do Congresso, o ministro destacou que tratou de normas infralegais porque deputados e senadores não fecham consenso em questões legislativas.
Ele negou que essas mudanças abram margem para abusos pelo Poder Executivo e minimizou críticas de entidades ambientais às suas declarações durante a reunião. “Tudo o que a gente faz eles criticam”, afirmou.
Para o ministro do Meio Ambiente, o vídeo da reunião não devia ter sido divulgado, por se tratar de uma reunião que trata de temas de governo.
“Ao fazê-lo, você distorce muitas coisas que eram para ser faladas em privado, ali entre os ministros. Mas o principal ponto para mim, o resultado da divulgação da reunião, foi a comprovação de que não havia os crimes e as condutas indevidas que foram imputadas ao presidente”, disse. Leia mais em Poder e Mercado