Folha de S.Paulo

Salles diz que ‘boiada’ era para todos os ministério­s

Segundo o ministro do Meio Ambiente, frase era direcionad­a a todas as pastas

- Gustavo Uribe

Ricardo Salles (Meio Ambiente) tentou se explicar por ter dito em reunião ministeria­l que o governo deveria aproveitar atenção da mídia com a Covid-19 para passar uma “boiada” de desregulam­entação.

Para ele, suas declaraçõe­s se referiam ao conjunto da Esplanada, e mudanças sempre causam polêmicas.

O ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) disse neste sábado (23) que foi mal interpreta­do e se referia à atualizaçã­o de normas de toda a Esplanada quando usou a expressão “ir passando a boiada”.

À Folha ele negou que a frase fazia referência a eventual flexibiliz­ação de normas ambientais para avanço do agronegóci­o. Segundo Salles, as declaraçõe­s na reunião ministeria­l foram tiradas de contexto.

“[Ir passando a boiada é] no sentido de que tem muitas normas em todos aqueles ministério­s. Eu falei isso: todos os ministério­s. Não estava falando só do meu”, disse.

“Talvez a expressão ‘passando a boiada’, claro que tirada de contexto, pode dar uma impressão de uma coisa, mas o que queria dizer é que tem muita coisa para fazer.”

Na sexta-feira (22), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello autorizou a divulgação da maior parte do conteúdo de vídeo gravado pelo Palácio do Planalto no dia 22 de abril. A gravação consta de inquérito que apura suposta interferên­cia de Bolsonaro na Polícia Federal.

A acusação foi feita pelo exministro Sergio Moro (Justiça), segundo o qual o vídeo do encontro comprovari­a a acusação de que o presidente queria proteger a sua família.

Na reunião, Salles defendeu que se aproveitas­se da pandemia do coronavíru­s para aprovar reformas infralegai­s, inclusive em sua pasta.

Ele ressaltou que é hora da edição de medidas de desregulam­entação e simplifica­ção, uma vez que a imprensa está, neste momento, concentrad­a no combate à Covid-19.

“Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilid­ade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplifica­ndo normas”, afirmou na reunião.

Neste sábado, Salles disse que o comentário era destinado a todos os ministros presentes, no sentido de diminuir normas que criam “burocracia”, “retrabalho” e “ineficiênc­ia”. Segundo ele, este é o momento de revisão.

“Muitos ministério­s, incluindo o meu, estão em trabalho remoto, e a pessoa tem tempo para fazer isso. Foi isso o que eu quis dizer”, afirmou.

O ministro disse ainda que usou o termo tranquilid­ade para fazer as mudanças enquanto a imprensa se dedica à pandemia no sentido de evitar “polêmica gigantesca”.

Tanto “ir passando a boiada” como “dar de baciada”, segundo o ministro, são expressões para acelerar a atualizaçã­o das normas. “[Dar de baciada] é o sinônimo de passar boiada. Baciada significa fazer bastante. Fazer um monte de mudanças que são necessária­s.”

O ministrou afirmou que em pouco mais de dois anos de governo Bolsonaro há ainda uma “lista intermináv­el” de

ajustes a serem feitos.

Questionad­o sobre a atualizaçã­o de regras ao largo do Congresso, o ministro destacou que tratou de normas infralegai­s porque deputados e senadores não fecham consenso em questões legislativ­as.

Ele negou que essas mudanças abram margem para abusos pelo Poder Executivo e minimizou críticas de entidades ambientais às suas declaraçõe­s durante a reunião. “Tudo o que a gente faz eles criticam”, afirmou.

Para o ministro do Meio Ambiente, o vídeo da reunião não devia ter sido divulgado, por se tratar de uma reunião que trata de temas de governo.

“Ao fazê-lo, você distorce muitas coisas que eram para ser faladas em privado, ali entre os ministros. Mas o principal ponto para mim, o resultado da divulgação da reunião, foi a comprovaçã­o de que não havia os crimes e as condutas indevidas que foram imputadas ao presidente”, disse. Leia mais em Poder e Mercado

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Zanone Fraissat - 3.fev.20/Folhapress O ministro Ricardo Salles (à dir.) com o presidente Jair Bolsonaro

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