Presidente avisou Moro de troca na PF antes de reunião
Em mensagens reveladas pelo jornal O Estado de S. Paulo, Jair Bolsonaro cobrou de Sergio Moro mudança na chefia da PF antes da reunião ministerial de 22 de abril, reforçando versão do ex-ministro de ingerência no órgão.
“Moro, Valeixo [então diretor] sai nessa semana”.
Bolsonaro avalia procurar o presidente do Supremo, Dias Toffoli, para tentar reduzir o mal-estar provocado pela reunião, na qual a prisão de membros da corte foi pedida.
brasília Novas mensagens de Jair Bolsonaro ao ex-ministro Sergio Moro (Justiça) reforçam a versão do ex-juiz de que o presidente tentou intervir na Polícia Federal trocando o ex-diretor-geral Maurício Valeixo.
Uma cobrança de troca de comando na PF ocorreu poucas horas antes da reunião ministerial do dia 22 de abril. Em texto enviado às 6h26 daquela quarta, Bolsonaro escreveu: “Moro, Valeixo sai esta semana”, afirmou. “Está decidido”.
A seguir, enviou: “Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex oficio [sic].” As mensagens foram divulgadas pelo jornal O Estado de S. Paulo e obtidas pela Folha.
Moro respondeu 11 minutos depois e pediu para conversar pessoalmente com Bolsonaro sobre o assunto. “Estou ah disposição para tanto”, escreveu.
As mensagens constam do inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura as acusações de Moro, que deixou o governo acusando o chefe de tentar interferir politicamente na Polícia Federal.
Valeixo foi exonerado no dia 24 de abril, um dia depois de o presidente avisar a Moro que havia decidido trocá-lo, o que levou à demissão do ex-juiz do Ministério da Justiça.
Na manhã do dia 23, o presidente enviou uma mensagem a Moro falando da troca de Valeixo. Ao citar matéria do site O Antagonista intitulada “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”, Bolsonaro escreveu “Mais um motivo para a troca”, se referindo à sua intenção de tirar Valeixo do comando da corporação.
Bolsonaro nega que, durante a reunião no Planalto do dia 22 de abril, tenha se referido especificamente à PF em suas falas. Afirma que jamais buscou pressionar Moro para mexer na corporação com o objetivo de influenciar em investigações ligadas a questões pessoais ou familiares.
Na última sexta-feira (22), foi divulgada a gravação da reunião entregue pelo governo ao STF no inquérito. O teor do vídeo e os depoimento em curso são decisivos para a PGR (Procuradoria-Geral da República) concluir se irá denunciar Bolsonaro por corrupção passiva privilegiada, obstrução de Justiça e advocacia administrativa por tentar interferir na autonomia da PF.
“Nunca interferi na PF, mas, coincidência, só depois da saída do Sergio Moro que a PF começou a andar pra frente. Eu nunca interferi, sempre liberdade total”, afirmou Bolsonaro na última sexta.