Folha de S.Paulo

Presidente avisou Moro de troca na PF antes de reunião

- Renato Onofre e Danielle Brant

Em mensagens reveladas pelo jornal O Estado de S. Paulo, Jair Bolsonaro cobrou de Sergio Moro mudança na chefia da PF antes da reunião ministeria­l de 22 de abril, reforçando versão do ex-ministro de ingerência no órgão.

“Moro, Valeixo [então diretor] sai nessa semana”.

Bolsonaro avalia procurar o presidente do Supremo, Dias Toffoli, para tentar reduzir o mal-estar provocado pela reunião, na qual a prisão de membros da corte foi pedida.

brasília Novas mensagens de Jair Bolsonaro ao ex-ministro Sergio Moro (Justiça) reforçam a versão do ex-juiz de que o presidente tentou intervir na Polícia Federal trocando o ex-diretor-geral Maurício Valeixo.

Uma cobrança de troca de comando na PF ocorreu poucas horas antes da reunião ministeria­l do dia 22 de abril. Em texto enviado às 6h26 daquela quarta, Bolsonaro escreveu: “Moro, Valeixo sai esta semana”, afirmou. “Está decidido”.

A seguir, enviou: “Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex oficio [sic].” As mensagens foram divulgadas pelo jornal O Estado de S. Paulo e obtidas pela Folha.

Moro respondeu 11 minutos depois e pediu para conversar pessoalmen­te com Bolsonaro sobre o assunto. “Estou ah disposição para tanto”, escreveu.

As mensagens constam do inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura as acusações de Moro, que deixou o governo acusando o chefe de tentar interferir politicame­nte na Polícia Federal.

Valeixo foi exonerado no dia 24 de abril, um dia depois de o presidente avisar a Moro que havia decidido trocá-lo, o que levou à demissão do ex-juiz do Ministério da Justiça.

Na manhã do dia 23, o presidente enviou uma mensagem a Moro falando da troca de Valeixo. Ao citar matéria do site O Antagonist­a intitulada “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaris­tas”, Bolsonaro escreveu “Mais um motivo para a troca”, se referindo à sua intenção de tirar Valeixo do comando da corporação.

Bolsonaro nega que, durante a reunião no Planalto do dia 22 de abril, tenha se referido especifica­mente à PF em suas falas. Afirma que jamais buscou pressionar Moro para mexer na corporação com o objetivo de influencia­r em investigaç­ões ligadas a questões pessoais ou familiares.

Na última sexta-feira (22), foi divulgada a gravação da reunião entregue pelo governo ao STF no inquérito. O teor do vídeo e os depoimento em curso são decisivos para a PGR (Procurador­ia-Geral da República) concluir se irá denunciar Bolsonaro por corrupção passiva privilegia­da, obstrução de Justiça e advocacia administra­tiva por tentar interferir na autonomia da PF.

“Nunca interferi na PF, mas, coincidênc­ia, só depois da saída do Sergio Moro que a PF começou a andar pra frente. Eu nunca interferi, sempre liberdade total”, afirmou Bolsonaro na última sexta.

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