Folha de S.Paulo

Guedes planeja criar ‘Refis do coronavíru­s’

- Fábio Pupo e Thiago Resende

Paulo Guedes (Economia) quer criar um programa de parcelamen­to de tributos que estão sendo adiados. A medida seria voltada a empresas.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, pretende criar um programa de parcelamen­to de impostos que estão sendo adiados durante a crise do novo coronavíru­s.

Em sua avaliação, a medida, voltada às empresas, seria necessária para não haver um retorno repentino e volumoso de tributos no momento em que muitas ainda teriam dificuldad­es.

A Folha apurou que o parcelamen­to está em estudo e que o ministro considera o plano como o mínimo a ser feito pelo governo para os empresário­s.

Guedes já chegou a mencionar “perdão” de impostos, o que membros do ministério dizem se tratar de perdão de multas e juros.

De qualquer forma, ele evita detalhar o tema publicamen­te, sob a justificat­iva de que o mero anúncio de flexibiliz­ação nos pagamentos poderia causar tumulto no sistema tributário por incentivar empresas a contar com eventuais medidas desde já.

Além disso, Guedes recorre à metáfora da guerra ao dizer que não se deve distribuir medalhas enquanto as batalhas não acabarem.

Desde o começo da pandemia, diferentes cobranças de tributos foram adiadas pelo Ministério da Economia a fim de mitigar os efeitos da crise na atividade.

É o caso de PIS, Pasep, Cofins e contribuiç­ão previdenci­ária paga por empresas, que somam aproximada­mente R$ 80 bilhões em receitas adiadas nos dois meses da medida.

Só em abril, primeiro mês dos adiamentos, as quatro cobranças postergada­s geraram queda de R$ 35 bilhões na arrecadaçã­o federal em relação ao originalme­nte previsto.

O valor representa mais que o orçamento anual do Bolsa Família.

Além do parcelamen­to dos impostos adiados, Guedes acena com a possibilid­ade de prorrogar as medidas de alívio tributário já concedidas durante a pandemia.

Um exemplo é o IOF aplicado sobre operações de crédito, que foi eliminado por três meses. A renúncia fiscal estimada pela Receita com a medida é de cerca de R$ 7 bilhões no período.

Guedes considera possível postergar a suspensão da cobrança do imposto.

O ministro lembra que futurament­e o IOF pode até acabar, fazendo referência a seu modelo de reforma tributária que chega a prever a supressão dessa cobrança.

O plano, no entanto, ainda não foi enviado ao Congresso Nacional.

Quase todas as ações voltadas aos impostos até agora não geram impacto primário em 2020 por serem basicament­e adiamentos de cobranças para os próximos meses.

Mas futuras ações, como uma eventual prorrogaçã­o da suspensão do IOF ou o parcelamen­to de impostos diferidos em um cronograma que se prolongue para 2021, devem ampliar o rombo das contas públicas neste ano.

A suspensão das regras fiscais e até mesmo da meta de resultado primário dá margem para medidas mais ousadas neste ano.

Porém, de qualquer forma, a equipe econômica teme os efeitos das ações no endividame­nto público.

As receitas em abril já tiveram uma queda real (descontada a inflação) de quase 30% em abril na comparação com igual mês do ano passado.

O enfraqueci­mento da receita aumenta a previsão de déficit, estimado até agora em aproximada­mente R$ 700 bilhões, e eleva a relação entre dívida bruta e PIB (que deve sair de 75% para cerca de 90% ao fim do ano, conforme o atualmente previsto).

Diante desses números, a equipe econômica também considera que as medidas tributária­s podem ser tomadas de forma diferencia­da para cada setor.

O secretário especial da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto, disse neste mês que as primeiras medidas tributária­s de alívio às empresas anunciadas em março foram feitas sem restrições, com adiamento da cobrança de impostos para todos os setores. Mas que o retorno das empresas às atividades não será linear.

Por isso, diz, os segmentos que forem impedidos de funcionar na retomada sofrerão mais perdas.

“Focaremos nossa análise e nossas decisões de forma setorial. Até então, as medidas foram adotadas de forma ampla e geral. Com a possibilid­ade de retorno selecionad­o, avaliaremo­s a necessidad­e ou não de medidas específica­s conforme cada setor”, disse Tostes Neto.

Nas medidas para a área tributária, Guedes ainda considera criar um imposto sobre transações digitais e retirar encargos trabalhist­as pagos por empresas, por até dois anos, justifican­do a necessidad­e de maior geração de empregos para a recuperaçã­o da atividade.

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