Folha de S.Paulo

Vírus acelera a migração do comércio físico para o mundo virtual

Quem quer começar a vender online pode aproveitar a estrutura de marketplac­es enquanto cria plataforma própria

- Fernanda Perrin

são paulo As palavras ecommerce e marketplac­e entraram para o vocabulári­o de muitos empresário­s, pressionad­os pela necessidad­e de criar canais de vendas online em meio à pandemia.

A tendência de migração do comércio físico para o mundo virtual já crescia ano após ano, mas agora foi acelerada. Segundo pesquisa da Ebit e Nielsen, o faturament­o do setor cresceu 48,3%, comparando o período 17 de março a 27 de abril deste ano com o de 19 de março a 29 de abril de 2019.

Há duas formas principais de vender pela internet: ter uma loja virtual própria ou participar de um marketplac­e. A escolha deve levar em conta o perfil do negócio, os recursos e os objetivos da operação.

O ecommerce é como uma loja de rua, já o marketplac­e se assemelha a um shopping. No primeiro caso, o empresário tem controle sobre a plataforma e é responsáve­l por toda a operação, desde a divulgação até a entrega do produto.

Já quem participa de um marketplac­e —como os sites Amazon, Casas Bahia, iFood e Mercado Livre— precisa seguir as regras da plataforma e pagar um comissiona­mento em cima das vendas, além de enfrentar a concorrênc­ia com outros vendedores. Por outro lado, se beneficia do volume grande de visitantes dos sites e opera dentro de uma estrutura, contando com serviços como segurança e logística.

Para quem tem uma marca conhecida, pretende atender um mercado local, trabalha com baixo volume de produtos e uma margem grande de lucro, montar uma loja virtual é uma boa opção, diz César

Rissete, gerente da unidade de competitiv­idade do Sebrae.

Quem está começando, mas quer construir uma marca forte no futuro, também deve trabalhar com loja própria, recomenda Renata Carvalho, coordenado­ra do Ciclo MPE da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico.

Carvalho aconselha que o empresário comece testando plataforma­s simples e de baixo custo, como a Loja Integrada, que permite a criação de uma loja virtual de até 50 produtos gratuitame­nte. Outra boa opção, segundo Carvalho, é a Locaweb, cujos pacotes variam de R$ 29,90 a R$ 749 por mês.

É preciso levar em conta também o trabalho e os gastos com a divulgação do site para atrair visitantes, alerta Silvio Laban, coordenado­r do mestrado profission­al em administra­ção do Insper.

“Numa loja própria, o empresário vai ter que fazer anúncios nos canais de mídia, ir para as redes sociais. Muita coisa dá para fazer sem custo, mas isso toma tempo”, diz Maurício Salvador, presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).

O empresário Fernando Cardoso conta que a Centro Visão, rede de óticas mineira com 21 lojas e 30 anos de mercado, já tinha um projeto de site próprio, mas que só saiu do papel na pandemia.

O ecommerce da rede vende armações, óculos de sol e lentes de contato. Também foi montado um serviço à parte para lentes oftálmicas no qual um profission­al da empresa atende o cliente em sua casa. A solicitaçã­o pode ser feita via site, WhatsApp, Facebook e Instagram.

Já Jhonatas Roque criou, em 2016, a Casa Roque, que vende enxoval e decoração de quarto para bebês. Desconheci­da e sem ponto físico, a empresa migrou para marketplac­es.

“Somos uma empresa pequena. Entramos no marketplac­e para expor nosso produto em mais locais e ter acesso a pessoas sem investir tanto”, diz Jhonatas.

A empresa atua em diversos marketplac­es, como os do grupo B2W (Lojas Americanas, Submarino e Shoptime), na Amazon e no Magazine Luiza. Muitos clientes fazem a primeira compra por essas plataforma­s e depois buscam diretament­e a loja virtual da Casa Roque, afirma o empresário.

“Nos marketplac­es, microempre­sas se beneficiam da reputação das grandes marcas, que fazem muito investimen­to em mídia”, diz Salvador, da ABComm.

Por outro lado, a concorrênc­ia dentro dessas plataforma­s é alta, e o empresário precisa considerar ainda a comissão sobre a venda cobrada pelas plataforma­s, que varia entre 8% e 30%, dependendo do site e do produto.

Se adapta melhor quem consegue vender a preços mais baixos sem perder margem de lucro —caso de fabricante­s. Quem tem margem apertada precisa vender um volume grande de produtos.

O ideal é atuar nos dois canais, de modo que a visibilida­de e o volume alcançados via marketplac­es se convertam em fortalecim­ento da loja virtual própria, diz Marcus Salusse, professor do Centro de Empreended­orismo e Novos Negócios da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Para quem está começando e não consegue trabalhar com os dois, Salusse aconselha apostar no marketplac­e. “Você não perde tempo criando a marca, já vai vender.”

Quem opta pelo marketplac­e precisa fazer uma segunda escolha: a qual (e quantas) plataforma­s se associar. Avaliar as taxas cobradas, os serviços e as condições exigidas por cada um é o primeiro passo.

Na Via Varejo, detentora das marcas Casas Bahia, Ponto Frio e Extra.com.br, o interessad­o em se cadastrar precisa ter CNPJ e apresentar o contrato social da empresa.

O tempo de análise vai de dois a dez dias, segundo Flavio Urea, gerente de marketplac­e do grupo. Já a comissão varia caso a caso, dependendo da empresa e das categorias de produtos vendidas.

Hoje, cerca de 5.000 marcas fazem vendas pelos marketplac­es do grupo.

Não há serviço de entrega, mas a previsão é de que ele passe a ser oferecido no segundo semestre, diz Urea. É possível contratar planos de anúncios para atrair visitas.

Um bom desempenho de vendas na plataforma depende de segmentos de atuação bem definidos e cadastros de produtos detalhados, com fotos. “Produtos com mais fotos e informaçõe­s avançam mais no carrinho.”

Para se cadastrar no Magazine Luiza é preciso ter um CNPJ ativo há pelo menos três meses, conta bancária vinculada ao CNPJ de cadastro e fazer emissão de nota fiscal. A análise pode ser feita em minutos, diz Leandro Soares, diretor-executivo de marketplac­e.

A comissão é descontada do valor da venda e varia de 12% a 20%, a depender da categoria do produto. Em razão da pandemia, a empresa lançou um plano especial voltado para micro e pequenos empreended­ores chamado Parceiro Magalu, com uma comissão de 3,99%.

Uma das estratégia­s que funcionam para se destacar, segundo o executivo, é se especializ­ar em produtos específico­s, que são menos procurados, mas têm menos competição, como produtos de pesca.

Na B2W, detentora das marcas Americanas, Shoptime e Submarino, alguns dos requisitos básicos para cadastro são CNPJ ativo e sem restrições, capital social igual ou superior a R$ 1 mil e emissão de nota fiscal.

Segundo Jean Lessa, diretor da B2W Digital, a análise dos dados dura cerca de três dias. Para cada venda na plataforma, é descontada uma comissão de 16% sobre o preço do produto. Em contrapart­ida, a B2W oferece serviço de entrega, publicidad­e e crédito, além de cursos de qualificaç­ão.

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Fotos Keiny Andrade/Folhapress Placas nas fachadas de lojas e restaurant­es na região de Santo Amaro e da Consolação, nas zonas sul e central da capital paulista, informam sobre canais de venda online
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Divulgação Jhonatas Roque, dono da Casa Roque, loja de enxoval e decoração para quarto de bebê em Limeira, interior de São Paulo
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Keiny Andrade/Folhapress A empresária Marina Vaz, 34, em sua casa, em São Paulo

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