Folha de S.Paulo

Aprender com os erros

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

O Brasil tinha uma enorme vantagem sobre outros países no manejo da pandemia de Covid-19, mas não soube utilizá-la em seu favor. Como estivemos entre as últimas nações a ser atingidas, pudemos observar atentament­e o que aconteceu na Ásia, na Europa e na América do Norte. Lamentavel­mente, não usamos esse conhecimen­to para nos preparar para o que viria.

Meu receio é que a história se repita na saída do isolamento. Dentro de uns dois meses, se não houver uma catástrofe maior do que a já contratada, a curva de contágios deverá refluir e precisarem­os tentar retomar a economia, sem descuidar da questão sanitária, pois o vírus continuará em circulação e ainda teremos a maior parte da população suscetível a ele.

Vários países asiáticos e europeus já se encontram nessa fase. Seria um crime se não tentássemo­s aprender com seus acertos e erros. Logo saberemos quais são as atividades mais e as menos perigosas. Retomar aulas com cuidados extras parece algo seguro. Em breve teremos uma ideia do risco de frequentar praias, cultos religiosos, espetáculo­s etc.

De modo mais geral, dá para dizer que é complicado sair do isolamento sem uma boa capacidade de testagem e de rastreamen­to de contactant­es. Não creio que já as tenhamos alcançado.

Outro ponto que me parece fundamenta­l no caso do Brasil é assegurar que haja leitos de baixa complexida­de para todos os que precisarem. Dadas as condições de moradia presentes nas áreas mais pobres, são enormes as chances de um doente contaminar o resto da família. Pior, existe a suspeita de que infecções contraídas em casa sejam mais graves do que as pegas na rua, onde a dose viral tende a ser menor.

A possibilid­ade de monitorar de perto os pacientes, em especial os com comorbidad­es, permite ainda evitar o agravament­o de quadros, reduzindo a necessidad­e de UTIs.

Errar uma vez é ruim, mas repetir o erro já é burrice.

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