Folha de S.Paulo

Ministro da Defesa apoia nota de Heleno, mas rejeita golpismo

Fernando Azevedo crê que ‘consequênc­ia imprevisív­el’ dita pelo general é crise institucio­nal por choque entre Poderes

- Igor Gielow Colaborou Bernardo Caram, de Brasília

O ministro Fernando Azevedo (Defesa) concorda com nota emitida na sexta (22) pelo general Augusto Heleno, na qual o chefe do Gabinete de Segurança Institucio­nal previa “consequênc­ias imprevisív­eis para a estabilida­de nacional” por ato do Supremo Tribunal Federal.

Heleno criticou o envio para avaliação da Procurador­iaGeral da República, pelo ministro Celso de Mello, de um pedido para apreensão dos celulares do Jair Bolsonaro e de seu filho Carlos, no âmbito do inquérito que apura suposta interferên­cia política do presidente na Polícia Federal.

Segundo Azevedo, contudo, tais consequênc­ias não seriam um golpe ou intervençã­o militar, e sim uma crise institucio­nal. Para o ministro, ela existe como risco porque considera que a harmonia entre Poderes é “uma via de mão dupla”.

No entender de Azevedo, que falou primeiro sobre o caso na noite de sexta-feira à CNN Brasil, o celular do presidente é uma questão de “segurança institucio­nal”. Ele afirmou estar “bastante preocupado com o clima de tensão entre os Poderes”.

No último mês, o ministro editou duas notas reafirmand­o o compromiss­o das Forças com a Constituiç­ão após Bolsonaro participar de atos golpistas. Também exortou a harmonia entre Poderes.

A frase de Heleno, contudo, foi lida universalm­ente pelo mundo político como uma ameaça aos Poderes, o que querendo ou não Azevedo se arrisca a fazer ao apoiar o texto. Segundo o ministro, ele soube da nota antes de sua publicação e concordou com seus termos.

A manifestaç­ão de Azevedo busca ponderação, mas indica também o desconfort­o crescente da ala militar do governo, e de vários setores da ativa, com as atitudes do Legislativ­o, mas principalm­ente do Supremo ante o governo.

Até aqui, a mais grave na vi

são deles fora a liminar barrando a posse de Alexandre Ramagem no comando da PF.

Celso de Mello, como condutor do inquérito decorrente das acusações do ex-ministro Sergio Moro sobre a ingerência na corporação, já vinha sendo criticado pela celeridade no trâmite do caso.

O pedido à PGR sobre os celulares era meramente protocolar, obrigatóri­o aliás, mas por ter sido feito por parlamenta­res de esquerda e expedido rapidament­e ganhou ares de conspiraçã­o.

Isso gerou a reação de Heleno, referendad­a por Azevedo, ele também um general de quatro estrelas da reserva.

A crispação só piorou na sexta, com a divulgação por ordem de Mello do vídeo da reunião ministeria­l de 22 de abril, que corrobora a versão de interferên­cia de Bolsonaro na PF, e na qual o ministro Abraham Weintraub (Educação) pede a prisão de ministros do Supremo.

Embora vários oficiais da ativa e da reserva ouvidos pela

Folha tenham concordado com o que chamam de impropried­ade da ideia de confiscar o celular do chefe de Estado, o tom de Heleno foi criticado.

Um general de quatro estrelas, topo de carreira, que já ocupou postos altos no Exército e hoje está na reserva queixou-se de que as Forças Armadas estavam perdendo o capital político angariado desde a redemocrat­ização.

Já um brigadeiro, igualmente com quatro estrelas, diz que não há possibilid­ade de a Força Aérea embarcar em qualquer aventura autoritári­a.

Azevedo tenta demonstrar harmonia como pivô entre o serviço ativo e a ala militar do governo, ora envolvida na sobrevivên­cia política do chefe ante a crise inserida na pandemia do novo coronavíru­s.

Bolsonaro, por sua vez, voltou a ser questionad­o acerca da nota de Heleno neste sábado (23). “Somos um mesmo time: eu, [Augusto] Heleno, Fernando [Azevedo]. Somos um mesmo time.”

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