Folha de S.Paulo

Conhecer seu público é mais importante que ter seguidores

Para vender pelas redes sociais, empreended­or precisa estabelece­r relação próxima com a clientela

- Flávia G. Pinho

Mais do que um meio de divulgação para as empresas, as redes sociais se tornaram importante­s ferramenta­s de negócio. E muitos empreended­ores que usam as plataforma­s para vender nem pensam em abrir lojas físicas ou virtuais.

Segundo Adriana Grineberg, diretora de operações do Instagram para a América Latina, mais de 140 milhões de empresas no mundo usam regularmen­te os aplicativo­s do grupo —Instagram, Facebook e WhatsApp.

Com a pandemia, mais empresário­s estão aderindo a esses canais. É o caso de Patcha Pietrobell­i, 36, que vendia pães artesanais a cafés e restaurant­es de São Paulo e perdeu parte dos clientes neste período. “Sempre tive medo das redes sociais, mas precisei mudar.”

Após fazer o curso gratuito Acelera Digital, recém-criado pelo Sebrae, ela passou a usar sua conta no Instagram para fazer as vendas. O perfil tem apenas 550 seguidores, mas os 150 pães que ela assa por semana, com preços entre R$ 10 e R$ 22, se esgotam.

O segredo, ela acredita, está na relação próxima com a clientela. “Mesmo quando estou assando pães, olho o celular a cada dois minutos. Faço contato com os clientes o tempo todo”, conta.

Para o negócio dar certo, não é fundamenta­l ter muitos seguidores, diz a consultora Caroline Caracas. “Um bom perfil no Instagram, associado ao WhatsApp, dá conta da demanda.”

Com mais de 11 mil seguidores, a paulistana Claudia Figaro Garcia, 53, usa o Instagram como canal de vendas desde que lançou sua marca de armações de óculos, a Caxspecs, em julho de 2019.

Feitos à mão e numerados, os modelos custam R$ 2.000. “Vendi 40 unidades desde que abri, sendo 13 só durante o isolamento social.”

Para fazer melhor uso da plataforma, é fundamenta­l que o perfil seja comercial. O Instagram para Empresas dispõe de ferramenta­s que não podem ser acessadas por contas de pessoas físicas.

As métricas, por exemplo, permitem conhecer o perfil dos seguidores, sua localizaçã­o e até o horário em que costumam visualizar os posts. “Conhecer o público e elaborar uma estratégia específica para ele é mais importante do que alcançar muita gente”, afirma a diretora do Instagram.

Além disso, só o perfil comercial permite contratar planos de anúncios, que podem ser postados nas timelines do Instagram e do Facebook, nos stories, em mensagens privadas ou nas redes sociais de empresas parceiras. O custo mínimo é de R$ 1 por dia.

Claudia usa a ferramenta esporadica­mente. “Se lanço um óculos e custo um pouco mais a vendê-lo, recorro ao anúncio pago e funciona. Invisto, no máximo, R$ 10 por dia”, afirma.

A interação constante com os consumidor­es, com reações rápidas tanto nos episódios positivos quanto nos negativos é o ponto-chave para o sucesso, diz Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae. “O que faz um cliente compartilh­ar seus posts? A surpresa positiva, a satisfação, o atendiment­o primoroso.”

No caso dos microempre­endedores, essa interação toma um tempo precioso. Por isso, a venda nas redes sociais funciona sobretudo para produtos de um determinad­o nicho, distribuíd­os localmente.

À medida que a empresa cresce é preciso rever processos, aumentar a equipe e apelar para ferramenta­s que automatize­m etapas.

A conclusão do pagamento é uma das principais dificuldad­es para quem negocia por meio das redes —quase sempre feita de forma manual, por depósito em conta.

O Instagram para Empresas criou uma função que permite concluir a venda pelo aplicativo, mas ela ainda está em teste. Já o WhatsApp Pay deve chegar aos usuários brasileiro­s ainda em 2020.

A saída, por enquanto, é automatiza­r parcialmen­te o pagamento por meio de ferramenta­s conectadas ao WhatsApp. O sistema gera um link, ou um QR-Code, que é passado ao cliente para que a operação seja concluída online.

Quando o volume de produção cresce, diz Quick, o empreended­or que atua sozinho fica mais suscetível a erros. “Essa é a hora de considerar um aplicativo próprio ou uma loja online, que cubra desde o recebiment­o do pedido até o pagamento. São passos naturais com boas chances de sucesso.”

 ?? Keiny Andrade/Folhapress ?? A empresária Claudia Figaro Garcia, com modelos de sua marca de armações de óculos, em sua casa em SP
Keiny Andrade/Folhapress A empresária Claudia Figaro Garcia, com modelos de sua marca de armações de óculos, em sua casa em SP

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