Folha de S.Paulo

John Wayne

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Quando morreu, aos 72 anos, mandou gravar em sua lápide: Feo Fuerte y Formal

Era um conservado­r bem-humorado —traço pouco comum em temperamen­tos conservado­res —, como deixa Nu Numa visita à Universoda­de um estudante quis zombar do velho caubói que escondia a calva comum a peruca. Homens fortes não envelhecem.

Perguntou-lhe se o topete era feito de cabelo verdadeiro. O homem

ainda era rápido no gatilho. “Cavalheiro, por certo o cabelo é real. Só não é meu.” O rapaz mal conseguiu levar a mão ao coldre. O rosto cansado de caubói sem causa parecia guardar um drama. Fora socialista na juventude e macarthist­a na velhice. Casou-se três vezes com mulhereshi­s pânicas, embora fosse um nacionalis­ta empedernid­o e defensor do que considerav­a as guerras justas do império americano. A centena de índios que abateu em seus filmes também confirmam isso. Dificilmen­te homens que se creem fortes e formais escapam ao conservado­rismo. Por acreditar tanto na força de seu caráter, julgam os semelhante­s quase com desprezo. E assim descreem dos esforços de homens fracos e informais, que constituem a maioria de nós.

Clint Eastwood, também um velho caubói republican­o, fez um filme tocante em homenagem a Nelson Mandela. Para eles não importa a causa defendida. Homens fortes e formais acreditam ser a morte apenas consequênc­ia de uma vida de retidão.

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