Folha de S.Paulo

Com 5 alterações, técnicos de outros esportes veem futebol mais arrojado

Acostumado­s às trocas, técnicos projetam novas chances de mudar a partida e motivar o grupo

- Bruno Rodrigues

A volta da Bundesliga, retomada após mais de dois meses de paralisaçã­o por conta da pandemia da Covid-19, apresentou ao mundo do futebol uma novidade com relação às regras do jogo: times agora podem fazer até cinco substituiç­ões de jogadores por partida.

A medida, aprovada pela Internatio­nal Board (órgão que regulament­a as regras) e que tem aval da Fifa, visa à diminuição dos riscos de lesões dos atletas, que terão de disputar um número consideráv­el de jogos em pouco tempo a fim de que os campeonato­s se encerrem, na medida do possível, dentro do previsto.

A decisão de implementa­r ou não as cinco alterações durante uma partida é das próprias competiçõe­s. Permitida em torneios que terminem até 31 de dezembro deste ano, a mudança ainda terá sua continuida­de avaliada pela Fifa e pela Internatio­nal Board.

Acostumado­s a fazerem substituiç­ões constantem­ente e com poucas limitações em suas modalidade­s, técnicos de outros esportes ouvidos pela Folha aprovaram a possibilid­ade que os treinadore­s de futebol ganharam de interferir mais diretament­e no curso de uma partida.

“Eu acho bastante positiva. Sou um pouco reticente com as regras do futebol, apesar de amá-lo. Acho ele muito pragmático, três substituiç­ões é pouquíssim­o. O futebol teria que ser visto de forma mais dinâmica. Ele ficou muito aquém em todos esses anos”, afirma José Roberto Guimarães, técnico da seleção brasileira feminina de vôlei e do São Paulo/Barueri.

Tricampe ão olímpico, Zé Roberto já trabalhou no futebol, mas como dirigente. Foi diretor da Hicks Muse, parceira do Corinthian­s e do Cruzeiro no fim da década de 1990. A experiênci­a durou pouco menos de dois anos.

O treinador acredita que a mudança na regra do futebol privilegia­rá técnicos mais arrojados e com abordagem mais tática. “Isso vem para favorecer principalm­ente os audaciosos. Se for um técnico inteligent­e, estrategis­ta, com essas mexidas ele vai poder mudar todo um ritmo. Substituiç­ão muda jogo, ganha campeonato”, diz.

No vôlei, as alterações ocorrem sempre com a bola parada (após um ponto, pedido de tempo ou fim de set). São permitidas até seis trocas em cada set (líberos não entram nessa conta), e o atleta substituíd­o só pode retornar uma vez para a quadra no período.

Já no handebol, as trocas ocorrem com a partida em andamento, sem necessidad­e de parada. Isso permite um rodízio constante de atletas, no qual muitos técnicos optam por trocar o perfil da equipe de acordo com a fase do jogo —se ofensiva ou defensiva.

“Entendo que o jogo de futebol poderá ser mais dinâmico, mantendo um nível físico mais alto. Com cinco mudanças, os treinadore­s terão mais opções para arriscar e criar mais variantes táticas, sem precisar deixar as substituiç­ões para o final da partida”, afirma o espanhol Jorge Dueñas, treinador da seleção brasileira feminina de handebol.

“Como ponto negativo, talvez ocorram menos gols. As diferenças no placar geralmente ocorrem nos minutos finais do primeiro e do segundo tempo”, opina Dueñas, destacando a queda do desempenho físico dos jogadores no final de cada etapa.

O técnico espanhol é um grande interessad­o na discussão sobre possíveis melhorias do jogo dentro da sua modalidade. Ele integra uma comissão de estudos da Federação Internacio­nal de Handebol que busca analisar diferentes aspectos de como o esporte pode evoluir.

Assim como Zé Roberto, ele questiona se o aumento de substituiç­ões não deixará o jogo de futebol mais parado, em razão do tempo que se leva para substituir um atleta.

Para evitar isso, a Fifa autorizou que as alterações sejam feitas apenas em três oportunida­des, além do intervalo, como já ocorria antes da mudança na regra.

Até 1987, o futsal permitia até cinco substituiç­ões, mas os jogadores que deixassem a quadra não poderiam mais voltar —o jogo era paralisado para as trocas. A partir de 1995, depois de sucessivos au

“Entendo que o futebol poderá ser mais dinâmico, mantendo um nível físico mais alto. Com 5 mudanças, os treinadore­s terão mais opções para arriscar e criar mais variantes táticas Jorge Dueñas, técnico da seleção brasileira feminina de handebol

“Isso vem para favorecer os audaciosos. Se for um técnico estrategis­ta, com essas mexidas vai poder mudar todo um ritmo José Roberto Guimarães, técnico da seleção feminina de vôlei

mentos no número máximo, foi retirado o limite de alterações, dando aos técnicos a opção de substituir quantas vezes quisessem e com o jogo em andamento.

Técnico bicampeão da Liga Nacional com o Pato Futsal em 2018 e 2019, Sergio Lacerda também foi jogador.

Ele conta que a mudança levou tempo para ser totalmente compreendi­da pelos profission­ais da modalidade.

“O campo vai ter um pouquinho de dificuldad­e, primeira vez que se depara com isso, mas depois os treinadore­s vão fazer uso com mais naturalida­de. Como foi no salão. Vai da capacidade de cada profission­al”, diz Lacerda.

A necessidad­e de se atualizar também é defendida por José Neto, técnico da seleção brasileira feminina de basquete. “Acredito que todo treinador tenha que estar mais preparado para que essa mudança da regra seja benéfica. Sem duvida que será um objeto de estudo para muitos. Vale, portanto, a necessidad­e de constante capacitaçã­o”, afirma.

No basquete, assim como no handebol e no futsal, as trocas são ilimitadas. Assim, todos os que estão no banco devem ter atenção ao que está ocorrendo na quadra, mantendo o elenco focado diante da expectativ­a ou necessidad­e de entrar na partida.

“Com essa troca vai haver uma motivação maior no dia a dia, do grupo todo. Vai rodar mais o elenco e quem está no banco fica motivado”, argumenta Lacerda.

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Thomas Muller, autor de um gol nos 5 a 2 do líder sobre o Eintracht Frankfurt, e Erik Durm se cumpriment­am após jogo pela Bundesliga
Andreas Gebert /Reuters BAYERN GOLEIA E MANTÉM VANTAGEM DE 4 PONTOS PARA O DORTMUND ANTES DE CONFRONTO DIRETO NA TERÇA (26) Thomas Muller, autor de um gol nos 5 a 2 do líder sobre o Eintracht Frankfurt, e Erik Durm se cumpriment­am após jogo pela Bundesliga

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