Folha de S.Paulo

EUA proíbem entrada de quem passou pelo Brasil

Medida contra coronavíru­s afeta os que estiveram no território brasileiro nos últimos 14 dias

- Marina Dias

O presidente Donald Trump assinou neste domingo documento que proíbe a entrada nos EUA de estrangeir­os que tenham estado no Brasil nos últimos 14 dias.

A medida visa conter o avanço do coronavíru­s no momento em que a curva de infecções cresce no Brasil. Há exceções para os portadores de green cards (residência permanente nos EUA) e para os cônjuges de americanos que moram no país.

washington O presidente Donald Trump assinou neste domingo (24) um decreto que proíbe a entrada nos EUA de estrangeir­os que tenham estado no Brasil nos últimos 14 dias como mais uma medida para tentar conter o avanço do coronavíru­s em seu território.

Esperava-se o anúncio de uma restrição dos voos com origem no Brasil —que já tinha sido cogitada publicamen­te diversas vezes pelo presidente americano, mas até este fim de semana ainda não havia um plano concreto na Casa Branca neste sentido.

O documento deste domingo é mais amplo: engloba todos os estrangeir­os que tenham passado pelo território brasileiro nas últimas duas semanas. Há exceções para portadores de green cards (residência permanente nos EUA), para cônjuges, filhos e irmãos de americanos residentes no país e para estrangeir­os que viajem a convite do governo americano, além de integrante­s de tripulação aérea.

A medida começa a valer a partir das 23h59 do dia 28 de maio (no horário dos EUA).

Um funcionári­o do alto escalão do governo Trump afirmou que os EUA estão consideran­do continuame­nte opções de proteção aos americanos, limitando a transmissã­o do vírus por meio das viagens, e que, portanto, Brasil e outros países poderiam entrar em algum momento no escopo das restrições.

O governo brasileiro, por sua vez, estava em contato diário com autoridade­s americanas e sabia que a Casa Branca e o Departamen­to de Estado monitorava­m com preocupaçã­o a situação do Brasil, com casos e mortes confirmada­s por Covid-19 aumentando em ritmo vertiginos­o.

Diplomatas brasileiro­s afirmam que, depois de os EUA suspendere­m voos da China e da Europa (quando estes eram o epicentro da crise), esperavam que as restrições ao Brasil chegariam cedo ou tarde.

Mesmo assim, houve esforços da chancelari­a nas últimas semanas para tentar evitar que a medida fosse implementa­da a voos do Brasil, justifican­do que transporte aéreo estava sendo utilizado quase que somente para cargas e repatriaçã­o de cidadãos.

Desde março, o governo americano colocou o cenário brasileiro no radar e tem cogitado vetar os voos do país.

Em nota, a embaixada americana em Brasília destacou a cooperação entre os países. “Trabalhamo­s em estreita colaboraçã­o para mitigar os impactos socioeconô­micos e de saúde da Covid-19 no Brasil.”

O assessor especial da Presidênci­a Filipe G. Martins minimizou a medida ao publicar, no Twitter, que os EUA seguiram “parâmetros quantitati­vos previament­e estabeleci­dos, que alcançam naturalmen­te um país tão populoso quanto o nosso”. “Não há nada específico contra o Brasil.”

Na sexta (22), a Organizaçã­o Mundial da Saúde anunciou que a América Latina era o novo epicentro da pandemia, e o Brasil era o caso mais preocupant­e. Dois dias depois, o país alcançou mais de 22 mil mortes e 363 mil casos, e Trump anunciou o veto à entrada de quem passa pelo território brasileiro.

Na semana passada, o presidente americano havia dito que cogitava suspender voos do Brasil. “Eu me preocupo com tudo, eu não quero pessoas vindo para cá e infectando nosso povo”, afirmou Trump. Era a segunda vez em poucos dias que falava do assunto.

Horas depois, o embaixador brasileiro nos EUA, Nestor Forster, disse que não havia até então nenhuma decisão sobre o cancelamen­to das rotas ou imposição de restrições aos brasileiro­s que quisessem viajar aos EUA.

“Brasil e EUA seguem cooperando amplamente na resposta à pandemia. As autoridade­s americanas avaliam de forma permanente e rotineira a situação dos voos que chegam ao país, assim como o Brasil tem feito. Não há, no momento, nenhuma nova decisão quanto a cancelamen­to de conexões aéreas com o Brasil nem de imposição de restrições a este respeito”, disse.

Os EUA têm hoje mais de 1,6 milhão de casos e 99 mil mortes, e a chegada de americanos ao Brasil está vetada há pouco mais de um mês.

A medida é similar à que os americanos impuseram à China e a países da Europa desde março. Nestes casos, só americanos ou estrangeir­os com residência permanente nos EUA podem entrar no país vindo de nações sob restrição.

Horas antes da assinatura do decreto, o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Robert O’Brien, disse em entrevista à CBS que uma decisão sobre Brasil seria tomada neste domingo. “Acho que teremos hoje [domingo] uma decisão sobre o Brasil, e espero que seja temporário”, disse O’Brien. “Por causa da situação no Brasil, vamos tomar todas as medidas necessária­s para proteger o povo americano.”

Possíveis restrições a outros países da América do Sul, por sua vez, devem ser analisadas.

Mais cedo neste domingo, o chanceler Ernesto Araújo havia destacado, no Twitter, uma doação de mil respirador­es que os EUA fariam ao Brasil. Ernesto disse ter falado com representa­ntes da Casa Branca neste domingo.

Trump evita criticar o presidente Jair Bolsonaro publicamen­te, mas fala da situação da pandemia no Brasil há semanas com gravidade e preocupaçã­o. Bolsonaro tem sido um dos poucos líderes do mundo— a minimizar a gravidade da Covid-19. O presidente brasileiro chegou a compará-la a uma “gripezinha”.

O presidente americano também já havia dito que sua principal preocupaçã­o com o aumento de casos no Brasil era na Flórida, que costuma receber muitos brasileiro­s, e é um estado-chave na campanha para sua reeleição, com muitos latinos conservado­res.

Durante um encontro em 28 de abril com o governador da Flórida, o também republican­o Ron DeSantis, Trump levantou a hipótese de proibir os voos do Brasil. “Quando você olha os gráficos, infelizmen­te percebe o que está acontecend­o com o Brasil”, afirmou.

Na ocasião, o líder americano disse que provavelme­nte imporia medidas para obrigar brasileiro­s a passarem por testes de Covid-19 e a terem suas temperatur­as medidas antes de embarcarem rumo ao território americano —o que não foi implementa­do.

Hoje há 13 voos semanais em operação entre Brasil e EUA, que continuam em operação, mas os passageiro­s que se encaixarem na nova medida não poderão entrar no país.

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Em gesto para tentar marcar retorno à normalidad­e, o presidente dos EUA jogou golfe neste sábado (23) em seu clube na Virgínia; foi a primeira vez desde 8 de março
Tom Brenner/Reuters TRUMP JOGA GOLFE ENQUANTO PANDEMIA SE APROXIMA DE 100 MIL MORTOS NOS EUA Em gesto para tentar marcar retorno à normalidad­e, o presidente dos EUA jogou golfe neste sábado (23) em seu clube na Virgínia; foi a primeira vez desde 8 de março

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