Folha de S.Paulo

Prisão no STF era só para alguns, diz Weintraub

- Camila Mattoso painel@grupofolha.com.br

Abraham Weintraub (Educação) defendeu posição pela prisão de ministros do STF, expressa na reunião de 22 de abril, ressalvand­o que o pedido era para “alguns, não todos”. Ameaçado de processo, negou atacar instituiçõ­es.

Os ataques de Jair Bolsonaro ao STF têm na mira principalm­ente dois ministros, Alexandre de Moraes e Celso de Mello, que o presidente elegeu como inimigos próprios. Neste domingo (24), Bolsonaro compartilh­ou um artigo da lei de abuso de autoridade, em indireta a Mello. Estão nas mãos deles os inquéritos mais relevantes para o presidente: com Moraes, o das fake news, que tem bolsonaris­tas como alvos, e com Mello, o da tentativa de interferên­cia de Bolsonaro na Polícia Federal.

é comigo

O presidente considera ambos antibolson­aristas e assim tenta transforma­r a questão institucio­nal em problema pessoal. Bolsonaro atacou Moraes ao menos duas vezes recentemen­te: disse que ele toma decisões políticas e que só chegou ao STF por amizade com Michel Temer (MDB). Ele também acha que a proximidad­e que Moraes teve com o PSDB perdura e influencia suas decisões.

por quê

Bolsonaro se enfureceu quando o ministro barrou a nomeação de Alexandre Ramagem, amigo de seus filhos, para a direção-geral da PF.

paz

A despeito dos avanços contra os ministros, Bolsonaro costura uma relação pacífica com o presidente do STF, Dias Toffoli, na qual se fia para garantir estabilida­de institucio­nal mínima. A partir dela, consegue manter os ataques aos ministros desafetos.

uns dois

Neste domingo (24), o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que as ofensas na reunião ministeria­l foram dirigidas a só alguns do STF, em sintonia com o que pensa o presidente. Ele disse que “botava os vagabundos na cadeia, começando pelo STF.”

de confiança

Criticado pela crise gerada, que reforçou os pedidos de parlamenta­res para que ele seja demitido, Weintraub recebeu apoio de Bolsonaro na reunião, tendo sido citado por ele diversas vezes.

pela culatra

Negacionis­ta de levantamen­tos feitos por institutos de pesquisa, Bolsonaro desafiou, em 15 de março, os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), a passarem por seu teste de popularida­de. “Saiam às ruas e vejam como são recebidos”, afirmou à CNN Brasil.

bumerangue

Dois meses depois, no sábado (23), Bolsonaro colheu resultados ruins nessa metodologi­a. Ele saiu para comer cachorro-quente na rua, em Brasília, e jantou ao som de panelaço e xingamento­s.

calma

Causou perplexida­de entre ministros do Tribunal de Contas da União a declaração do presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, de que o órgão é “usina de terror”, feita na reunião de 22 de abril.

sem medo

Novaes disse que fica entre o temor de ser preso por trabalhar e o receio de ser processado por inação. Ministros do TCU dizem que só julgaram dois casos relacionad­os ao BB desde 2019, e em nenhum deles foi aventada a responsabi­lização de gestores.

falador...

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), irritouse com propaganda­s que a Febraban, federação dos bancos, tem feito para divulgar ações durante a pandemia. Ele diz que os bancos são unanimidad­e negativa na crise.

...passa mal

“Fiquei indignado. Eles tentam fazer propaganda de que os bancos estão ajudando. O que a gente vê é reclamação geral, especialme­nte dos pequenos empresário­s, que não conseguem ter acesso a crédito. Não adianta ter taxa de juros baixa se as pessoas não conseguem chegar no dinheiro”, diz ACM. A Febraban não se manifestou.

desvio

A Associação de Advogadas e Advogados Públicos pela Democracia divulgou nota crítica à instrument­alização da Advocacia-Geral da União pelo governo Bolsonaro. Segundo a APD, a função de assessoram­ento jurídico tem sido desviada para “a defesa de teses de ocasião.” Na semana passada, a AGU argumentou que é preciso conviver com “interpreta­ções divergente­s” sobre a ditadura militar.

ilegal

Ainda que Bolsonaro tenha dito a apoiadores neste domingo (24) que poderia ter destruído o chip da reunião ministeria­l, ele estaria infringind­o a Lei de Acesso à Informação. É o que diz Valdir Simão, ex-ministro da Controlado­ria-Geral da União. Ele também afirma que causa preocupaçã­o a possibilid­ade de que os registros das demais reuniões estejam sendo eliminados.

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