Folha de S.Paulo

Em silêncio, idosos aguardam atenção

Experiênci­as de outros países podem antever situações e reduzir impactos

- Dimas Ramalho e Thiago Pinheiro Lima Conselheir­o do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo Procurador-geral do Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo

Em seu artigo 230, a Constituiç­ão impôs às famílias, à sociedade e ao Estado o dever de garantir dignidade e bem-estar aos idosos. Essa ampla responsabi­lização decorre do reconhecim­ento de que a tarefa é prioritári­a e, ao mesmo tempo, complexa, sobretudo se considerar­mos o acelerado processo de envelhecim­ento de nossa população.

A realidade, entretanto, encontrase em descompass­o com a norma constituci­onal de forma ainda mais acentuada nestes tempos de pandemia. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, 73,1% dos óbitos confirmado­s de Covid-19 até quinta-feira (21) se referiam a pessoas com mais de 60 anos.

Relatos científico­s e estatístic­as demonstram que alterações no sistema imunológic­o e alto percentual de doenças preexisten­tes verificada­s nessa faixa etária potenciali­zam o quadro infeccioso da Covid-19.

O fato de o Brasil ter sido uma das últimas partes do planeta a ser impactada pelo novo coronavíru­s, infelizmen­te, não impediu a tragédia que testemunha­mos diariament­e. O mínimo a ser feito agora é colher a experiênci­a de outros países para antever situações e reduzir impactos.

No início de maio, a França atingiu 25 mil mortes decorrente­s da Covid-19, sendo mais de 9.000 delas em asilos ou abrigos para idosos. Itália, Bélgica, Espanha e Estados Unidos apresentar­am um cenário semelhante, com relatos de abandono e negligênci­a em meio ao caos.

Somente no estado de São Paulo, 45 mil idosos vivem em cerca de 2.000 abrigos públicos e privados, segundo dados publicados em 2019 pelo Centro de Apoio Operaciona­l do Ministério Público do Estado. São cidadãos vulnerávei­s e muitas vezes esquecidos, que sofrem em silêncio e necessitam atenção do poder público, especialme­nte agora, quando se tornaram ainda mais frágeis.

É preciso que o governo do estado seja proativo e lidere ação coordenada com todos os municípios paulistas para monitorar diariament­e essas entidades. É missão fundamenta­l verificar se suas equipes de cuidadores se encontram em condições de trabalhar, além de fornecer, se necessário, equipament­os de proteção individual e produtos de higiene.

Também é imperativo um plano de ação para evitar a disseminaç­ão em massa do vírus, com fluxo definido para atendiment­o e realização de testes rápidos em todos esses abrigos, isolando os idosos com resultado positivo, ainda que assintomát­icos, em local apropriado para acolhiment­o temporário.

No intuito de alertar as autoridade­s responsáve­is e conjugar esforços, participam­os de reuniões sobre o tema com o Ministério Público do Estado e com a Secretaria de Desenvolvi­mento Social. Em paralelo, os órgãos de controle externo seguem atentos a todas as ações que o estado e os municípios vêm adotando, com fiscalizaç­ão concomitan­te, para o melhor enfrentame­nto da pandemia em todas as suas frentes.

É imperativo um plano de ação para evitar a disseminaç­ão em massa do vírus, com fluxo definido para atendiment­o e realização de testes rápidos em todos esses abrigos, isolando os idosos com resultado positivo, ainda que assintomát­icos, em local apropriado para acolhiment­o temporário

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