Folha de S.Paulo

Barroso assume TSE em meio a ações que miram Bolsonaro

Novo chefe da corte tem desafio de pautar casos contra chapa eleita em 2018

- Matheus Teixeira e Talita Fernandes

brasília O ministro Luís Roberto Barroso assume a presidênci­a do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nesta segundafei­ra (25) com a missão de pautar oito ações que podem levar à cassação do presidente Jair Bolsonaro e do vice Hamilton Mourão por crimes eleitorais.

Além disso, terá o desafio de comandar a realização das eleições municipais, marcadas para outubro, mas que podem ficar para novembro ou dezembro devido à pandemia do coronavíru­s.

Todas as representa­ções apresentad­as ainda em 2018 contra o atual chefe do Executivo ainda estão em tramitação na corte, enquanto as cinco ações contra seu principal adversário, Fernando Haddad (PT), já foram arquivadas.

Entre as acusações à chapa vencedora do último pleito estão disparo em massa de fake news financiado por caixa dois, abuso de poder econômico na instalação de outdoors e ataques hackers a adversário­s, entre outros.

Apenas uma já foi julgada improceden­te pelos ministros, mas a apresentaç­ão de recurso foi aceita e o processo ainda não foi arquivado.

Trata-se da representa­ção em que o PT acusa Bolsonaro de ter sido beneficiad­o pela cobertura televisiva da Rede Record na campanha.

As duas ações baseadas em reportagem da Folha, que revelou um esquema de disseminaç­ão de informaçõe­s falsas durante a campanha bancado por empresário­s sem a devida prestação de contas à Justiça Eleitoral, ainda não estão liberadas para julgamento.

O último despacho do relator, ministro Og Fernandes, foi em dezembro, quando pediu para as partes se manifestar­em sobre as informaçõe­s prestadas pelo WhatsApp, plataforma que teria sido usada no disparo das fake news.

O temor do governo é que, caso a crise econômica se agrave e a popularida­de de Bolsonaro despenque, a cassação da chapa ganhe força por ser um processo que não envolve fatores políticos como um impeachmen­t.

Além disso, diferentem­ente de um impediment­o pelo Congresso, Mourão também deixaria o cargo e evitaria a resistênci­a de parlamenta­res de ter um presidente general.

A presença de Barroso, que tem dado decisões duras contra o governo no STF (Supremo Tribunal Federal) e é conhecido por ter posições progressis­tas nos costumes, também pôs o Planalto em alerta com as ações em curso no TSE.

E o ministro ainda se somará na corte eleitoral ao colega de Supremo Alexandre de Moraes, que também assume um assento no tribunal e está na linha de tiro da disputa entre Executivo e Judiciário após impedir a posse de Alexandre Ramagem na Polícia Federal.

Por outro lado, o governo vê com bons olhos a mudança na corregedor­ia-geral eleitoral, que é responsáve­l por relatar as ações. Atualmente, está no cargo Og Fernandes, que dará lugar ao também ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Luís Felipe Salomão.

O magistrado sonha em assumir uma vaga no STF e, durante as eleições, quando estava na corte, deu decisões favoráveis a Bolsonaro em relação a supostas propaganda­s eleitorais ilegais.

As duas ações que devem ter a análise concluída primeiro apuram se Bolsonaro apoiou a iniciativa de criminosos para invadir um grupo virtual intitulado “Mulheres Unidas contra Bolsonaro”, que tinha mais de 2,7 milhões de pessoas. A expectativ­a é que ambas sejam apreciadas pelo plenário do TSE ainda em junho.

Os invasores mudaram o nome para “Mulheres COM Bolsonaro #17”, e o então candidato publicou um agradecime­nto às “mulheres de todo o Brasil”, acompanhad­o de foto da página do grupo modificada.

As ações foram apresentad­as por Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (PSOL), que apontaram “forte elemento” da provável participaç­ão de Bolsonaro no episódio ou, no mínimo, de sua ciência.

O julgamento já começou. O relator, Og Fernandes, votou para rejeitar a ação, sob as justificat­ivas de que não há clareza sobre a autoria do ataque e que o fato foi insuficien­te para alterar o quadro eleitoral.

O ministro Edson Fachin pediu vista, suspendend­o temporaria­mente a análise.

Dos oito processos que miram a chapa de Bolsonaro, quatro foram apresentad­os pela coligação do PT, dois pela do PDT, de Ciro Gomes, um por Marina e outro por Boulos.

Os advogados do presidente se manifestar­am contra todas as ações e já pediram, inclusive, para o TSE extingui-las.

A defesa de Bolsonaro disse que não há evidências que justifique­m o prosseguim­ento dos casos. Afirmou, ainda, que as representa­ções tiveram objetivo “criar fato político inverídico” e “produzir celeuma midiática”.

“No âmbito do processo judicial eleitoral, tendo em vista as graves sanções que podem ser impostas, notadament­e a inelegibil­idade de candidato, exige-se que as provas da suposta ilicitude sejam robustas”, argumentou a advogada Karina Kufa na ação que apura o disparo em massa de fake news.

Em 2017, o TSE rejeitou por um placar de 4 a 3 a cassação da chapa que elegeu os ex-presidente­s Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) em 2014.

A ação foi proposta pelo PSDB do hoje deputado federal Aécio Neves, adversário de Dilma em 2014, sob alegação de que houve abuso de poder econômico. A análise do caso se estendeu por três anos, tendo só sido levada a julgamento um ano após o afastament­o de Dilma, que sofreu impeachmen­t em 2016.

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Kleyton Amorim - 20.dez.2019/UOL O ministro Luís Roberto Barroso, que toma posse nesta segunda-feira (25) na presidênci­a do TSE

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