Folha de S.Paulo

Sozinha em Malta, grávida corre para levar a mãe antes de bebê nascer

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viçosa (mg) No nono mês de gestação, a milhares de quilômetro­s da família e sem rede de apoio nem o suporte do pai da criança, uma brasileira que vive em Malta está numa corrida contra o tempo para tentar viabilizar a chegada de sua mãe antes do parto em plena pandemia de Covid-19.

Há dois meses, Mariana (que pediu para não ser identifica­da), 38, busca um caminho para que sua mãe viaje ao país europeu, que desde março está com as fronteiras fechadas para não cidadãos.

Vivendo há um ano em Malta, a brasileira engravidou de um ex-namorado, que não quis assumir a criança. “‘Não estou preparado para ser pai. Ou você aborta ou tem o filho sozinha’. Foi a última frase que ele me falou”, conta. “Abortar nunca me passou pela cabeça.”

Ela diz que sua família tem lhe dado suporte e que a mãe planejou a ida do Brasil para Malta, para acompanhá-la no parto e no pós-parto. “Minha mãe está desde abril trancada em casa, em quarentena, só esperando para vir.”

Mariana também não pode viajar ao Brasil, já que está no fim da gravidez e, de qualquer forma, não estão saindo voos com essa rota. Outros brasileiro­s retidos em Malta afirmam que há cerca de 30 deles aguardando repatriaçã­o.

No momento, só chegam voos vindo de três outros países da Europa, mas apenas para malteses. Mariana tenta uma autorizaçã­o especial para que a mãe embarque em um desses voos e há dois meses entra em contato com diversos órgãos do governo e com a embaixada do Brasil em Roma, responsáve­l pelo país, sem retorno. Nesta semana, ela conseguiu falar com a embaixada e enviou um relato para que seu caso seja analisado.

Questionad­o pela Folha ,o Itamaraty diz que não pode comentar casos específico­s, mas afirma que a embaixada em Roma acompanha a situação dos brasileiro­s retidos no país e em Malta e “presta todo apoio possível aos seus nacionais, mantendo contato constante” com esses brasileiro­s.

Afirma ainda que não pode emitir autorizaçã­o de ingresso em outro país, mas que mantém contato com o governo maltês. Outra possibilid­ade é o aeroporto de Malta reabrir em junho, já que o governo anunciou que ao menos até 31 de maio ficará fechado. Mas a chance é incerta, já que o fechamento pode ser prorrogado.

Há mais de dois meses sem sair de casa por ser grupo de risco, ela diz que está muito vulnerável emocionalm­ente com toda a situação. “Não peço voo de graça, só quero que os governos se falem para que eu consiga uma autorizaçã­o para minha mãe vir”, diz. “Como vou parir sozinha, cuidar de um bebê sem nenhuma ajuda? Ninguém parece se importar.” Flávia Mantovani

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