Folha de S.Paulo

Quando a renda fixa é fixa

É possível ganhar mais que a Selic ou o CDI sem sair do mercado de renda fixa

- Marcia Dessen Planejador­a financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro” marcia.dessen@gmail.com

Se tomarmos o nome “renda fixa” ao pé da letra, seremos induzidos a achar que o investimen­to é seguro, a rentabilid­ade, conhecida, e a possibilid­ade de perdas, inexistent­e. Entretanto, esse conjunto de atributos é raro.

Em relação à percepção de ser uma aplicação segura, vale lembrar que os títulos de renda fixa são títulos de crédito, um empréstimo que o investidor faz ao emissor do título —portanto, exposto à possibilid­ade de calote em maior ou menor escala.

Como gerenciar esse risco? Títulos públicos são considerad­os livres do risco de crédito, os emitidos por instituiçõ­es financeira­s são garantidos pelo FGC, e os demais não são protegidos.

Em relação ao desejo de fixar a rentabilid­ade, existem duas opções: as aplicações de taxa pós-fixada, que pagam certo percentual da Selic ou do CDI, e os títulos de taxa prefixada, desde que mantidos até o vencimento.

A Letra Financeira do Tesouro (Tesouro Selic) paga 100% da taxa Selic e oferece liquidez diária. Títulos emitidos por instituiçõ­es financeira­s, como CDB, LCI e LCA, pagam determinad­o percentual do CDI e podem ser negociados com ou sem liquidez. O investidor não sabe quanto vai ganhar em termos absolutos, mas sabe que ganhará um percentual da taxa de referência, seja ela qual for.

Aos investidor­es que querem ganhar um pouco mais sugiro conhecer e avaliar alternativ­as de taxa prefixada, lembrando que, para evitar surpresas, devem esperar o vencimento do título. Antes dessa data, o valor é definido pelo mercado, e não pela taxa fixada no dia da compra.

A Letra do Tesouro Nacional 2023 (Tesouro Prefixado) pagava 4,63% ao ano em 20/5/2020. Um título inteiro, com vencimento em 1º/1/2023 e valor de resgate de R$ 1.000,00, custava R$ 888,53. O Tesouro Prefixado 2026, com rentabilid­ade de 7,20% ao ano, custava R$ 676,97 para resgatar R$ 1.000,00 em 1º/1/2026.

Para os recursos destinados a aplicações de longo prazo que buscam proteção contra a inflação, a Nota do Tesouro Nacional série B (Tesouro IPCA+) é a opção mais adequada. A NTN-B 2035, com vencimento em 15/5/2035, pagava juros de 4,42% ao ano acima da variação do IPCA. A NTN-B mais curta, com vencimento em 2026, juros de 3,33%.

Títulos privados, emitidos por instituiçõ­es financeira­s e não financeira­s (debêntures), com rentabilid­ade superior à 100% do CDI, estão disponívei­s nos bancos e em plataforma­s de investimen­tos. Nesse caso, é preciso analisar o risco de crédito do emissor e, também, a possibilid­ade de manter o título até o vencimento.

Quem não quiser correr risco de crédito deve optar por aplicações garantidas pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos), observado o limite, analisando cuidadosam­ente a aquisição de títulos privados emitidos por empresas não financeira­s que não contam com essa garantia.

Se a possibilid­ade de resgate antes do vencimento for desejável, aplicações de taxa prefixada devem ser evitadas. A liquidez, mesmo que disponível, será oferecida conforme condições de mercado, sendo desprezada a taxa contratada.

Aplicações em fundos de investimen­to e planos de previdênci­a, inclusive os de renda fixa, não têm vencimento e estão expostas à flutuação de preços. O cotista compra e vende as cotas ao preço do dia, não sendo possível predetermi­nar o vencimento e o valor de resgate.

Diversifiq­ue, invista um pouco em cada modalidade de aplicação, respeitand­o seus objetivos de investimen­to, perfil de risco, horizonte de tempo e necessidad­e de liquidez.

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