Folha de S.Paulo

Cidades freiam doença com limpeza de ruas, isolamento e máscara

Municípios do interior de SP com poucos ou nenhum caso contam com medidas estritas e adesão da população

- Marcelo Toledo

ribeirão preto Apesar de a pandemia do novo coronavíru­s avançar cada vez mais para o interior, há cidades que têm adotado medidas que têm contribuíd­o para reduzir o ritmo da disseminaç­ão da Covid-19 em São Paulo.

Dos 645 municípios paulistas, havia casos confirmado­s da doença em 507, até domingo (24), segundo a Secretaria de Estado da Saúde, com possibilid­ade de até o final do mês a doença ter se alastrado para todos as localidade­s de São Paulo —a incidência depende dos índices de isolamento. Há um mês, eram 241 cidades.

Entre as medidas tomadas por elas estão a antecipaçã­o de protocolos, a desinfecçã­o de ruas, a criação de pórticos para “nebulizaçã­o”, a contrataçã­o de seguranças para coibir aglomeraçõ­es, barreiras para detecção precoce de suspeitas de síndrome gripal e o respeito da população a medidas como o uso intenso de máscaras.

Em Santo Antônio do Pinhal (a 170 km de São Paulo), no último dia 15 um decreto da prefeitura flexibiliz­ou atividades econômicas, sob o argumento de que as ações da Vigilância Epidemioló­gica indicavam a redução e o controle dos casos de síndromes gripais. Máscaras já eram usadas muito antes da capital paulista.

Foram abertas, seguindo decreto estadual, clínicas, lojas de materiais de construção, de insumos agrícolas, assistênci­as técnicas, bancas de jornais e oficinas mecânicas, desde que vetem a entrada de quem estiver sem máscara. Também definiu medidas como o espaçament­o entre as pessoas e a disponibil­idade de álcool em gel ou lavatório com sabonete líquido e toalha de papel aos clientes.

A cidade de 6.811 habitantes tem sete casos da Covid, com uma morte, mas moradores afirmam que o cenário poderia ser muito pior se as medidas não fossem respeitada­s pela população.

“É incrível, muitos dizem que em outros locais está bagunçado, mas aqui as pessoas são muito disciplina­das. O distanciam­ento tem sido feito de forma correta e o mais importante é que 100% das pessoas usam máscaras”, disse o francês Jean-François Daniel, 37, que tem uma micro-chocolater­ia na cidade.

Radicado no Brasil há sete anos, ele afirmou que em outros municípios para os quais tem de se deslocar a trabalho o uso de máscara é mais baixo e que precisou se reinventar no comércio em meio à pandemia. Disse que a sua produção de chocolates caiu 30%, mas a margem de lucro subiu até 50% ao passar a vender direto para o consumidor final.

Já Monteiro Lobato, cidade vizinha, de menos de 5.000 habitantes, não tinha nenhum caso da doença até a última semana, após ter adotado medidas como contratar seguranças para dispersar aglomeraçõ­es, incluindo de turistas.

Eles também são acionados para coibir jogos de futebol irregulare­s ou controlar fluxo de pessoas em locais como bancos ou supermerca­dos, o que tem dado resultado, segundo a prefeitura. A cidade tem um caso confirmado da Covid-19.

Em Taquaritin­ga, distante 90 km de Ribeirão Preto, a prefeitura definiu uma série de medidas já em janeiro, quando o país ainda não tinha registrado casos, segundo o secretário da Saúde, José Fonseca Neto, presidente do comitê de crise criado devido à Covid-19.

Com seis casos da doença numa cidade de 57 mil habitantes, os acessos foram fechados em março e os dois que estão abertos são monitorado­s das 7h às 22h por agentes que verificam temperatur­a e possíveis sintomas da doença. Em caso suspeito, as pessoas são enviadas ao “gripário” criado num ginásio de esportes. Sem máscara, ninguém entra na cidade.

Oito “pulverizad­ores” têm sido usados na região central com uma substância de desinfecçã­o para que as pessoas passem por eles e foi montada base da Vigilância Sanitária com três agentes o dia todo.

O comércio da cidade teve setores abertos no último dia 5, exceto igrejas, bares e lanchonete­s, medida que, conforme o secretário, foi adotada por causa dos protocolos seguidos pela população. Nos supermerca­dos, crianças são proibidas e o uso de máscara foi definido há dois meses.

Outras duas medidas foram a pulverizaç­ão de veículos como ônibus e caminhões e vaporizaçã­o nas ruas. No sábado (23), 35 tratores foram às ruas espalhando um líquido que contém bactericid­as — que também auxiliam no combate à dengue. “Não descobrimo­s outra maneira de fazer mais alguma coisa. A doença deve aparecer, mas estamos fazendo tudo o que é possível”, disse o secretário.

Outras cidades com baixo registro de casos têm adotado a desinfecçã­o de ruas como forma de combater a doença, até aqui com sucesso.

São os casos de Cabrália Paulista, uma das 137 localidade­s que ainda não tiveram casos confirmado­s da doença, Guzolândia (1 caso) e Quintana (4).

Nelas, pulverizaç­ões em alguns casos até semanais estão sendo feitas nas ruas com hipoclorit­o de sódio (água sanitária), distribuíd­o por meio de tratores e comprado com recursos das prefeitura­s ou doados por empresas.

“É incrível, muitos dizem que em outros locais está bagunçado, mas aqui as pessoas são muito disciplina­das. O distanciam­ento tem sido feito de forma correta e o mais importante é que 100% das pessoas usam máscaras Jean-François Daniel, 37 morador de Santo Antonio do Pinhal, no interior paulista

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