Folha de S.Paulo

Decisão na pandemia

Bayern é favorito diante do Borussia, mas equipe de Lucien Favre voltou da parada melhor do que saiu

- Paulo Vinicius Coelho Jornalista, autor de “Escola Brasileira de Futebol”, cobriu seis Copas e oito finais de Champions

Borussia Dortmund e Bayern driblaram a lógica de que jogar sem torcida tira a vantagem do dono da casa. Foram os únicos, além do Hertha, a vencerem como mandantes depois do retorno do Campeonato Alemão, que teve mais vitórias de visitantes.

Os bávaros atropelara­m o Frankfurt por 5 a 2, no sábado (23), e o Borussia fez 4 a 0 no clássico da Norte-Vestfália, contra o Schalke, na semana anterior. Esta terça (26) terá a visita do líder, Bayern, ao vice-líder, Dortmund. São quatro pontos de vantagem para a equipe de Munique, o que significa que pode ser a primeira decisão de um grande campeonato durante a pandemia. Mesmo sem consagrar o campeão matematica­mente.

O Bayern é favorito pelo histórico de sete troféus consecutiv­os, quatro deles com o Borussia como seu vice. Acumula ainda a Champions League, de 2013, e as finais da Copa da Alemanha de 2014 e 2016, sempre vencedor contra o Dortmund.

Os bávaros melhoraram depois de levarem uma surra do Frankfurt no primeiro turno. A derrota por 5 a 1 derrubou o técnico Nico Kovac, substituíd­o por Hans Dieter Flick. Como jogador, Flick foi um meiocampis­ta mediano, vice-campeão da Copa dos Campeões da Europa em 1987, final perdida para o Porto, em Viena.

Por ser jogada na Áustria, a decisão ficou marcada como zebra. Não se imaginava o Porto, do argelino Madjer e do brasileiro Juary, vencendo o Bayern, tricampeão alemão sob o comando de Udo Lattek, primeiro campeão da Europa pelo time de Munique.

Como técnico, Flick fez uma troca simples no meio e escalou Goretzka como terceiro homem, em vez de ter Muller ou Coutinho com os pontas Gnabry e Coman. O setor ganhou consistênc­ia. O Bayern era quarto colocado quando Kovac foi demitido, na décima rodada. Na 20ª, oitavo jogo de Flick, assumiu a liderança para não mais perdê-la.

A chance do Borussia Dortmund é triunfar no clássico desta terça. Depois, terá compromiss­o difícil contra o Leipzig, fora de casa. O Bayern visitará o Bayer Leverkusen e receberá o Borussia Mönchengla­dbach. Serão seus dois rivais mais complicado­s.

Será também o duelo entre Lewandowsk­i e Halland, artilheiro e vice-artilheiro da Champions League. O norueguês é a terceira versão dos centroavan­tes rápidos e infalíveis descoberto­s pelo Borussia. O primeiro foi justamente

Lewa, autor de quatro gols na goleada por 4 a 1 sobre o Real Madrid, de José Mourinho, no jogo que ajudou a levar o time à decisão da Champions de 2013. O segundo foi Aubameyang. O Dortmund é dirigido pelo suíço Lucien Favre e voltou da parada da pandemia melhor do que estava.

A dupla de armadores formada pelo alemão Brandt e pelo belga Thorgan Hazard deu quatro passes para os seis gols depois do retorno. É provável que tenham sempre por perto, como marcadores, os volantes Kimmich e Thiago Alcântara, este filho da globalizaç­ão. Nascido em Bari, na Itália, viveu em São Paulo quando Mazinho, seu pai, atuava pelo Palmeiras. Cresceu no Rio de Janeiro, passou a adolescênc­ia na Espanha (seleção que defende) e atua por um clube alemão.

O Bayern tem outro filho destes tempos em que nem o vírus escolhe pátria. O lateral Alphonso Davies nasceu num campo de refugiados da guerra civil da Libéria, na cidade de Buduburam, em Gana. Mudou-se para o Canadá aos 5 anos e recebeu a nacionalid­ade canadense aos 17, dois anos antes de ser negociado pelo Vancouver com o Bayern. Joga como ponta, meia ou lateral. É global e polivalent­e.

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