Folha de S.Paulo

Acessos a plataforma de arte do Google duplicam

Idealizado­r do Arts and Culture, que leva acervo de museus para a internet, diz que tráfego aumentou na pandemia

- Clara Balbi

Ao longo de pouco mais de 40 minutos de entrevista, o diretor do Google Arts and Culture, Amit Sood, insiste algumas vezes que ele e sua equipe não são mais do que técnicos. “Se a escolha dos conteúdos dependesse de nós, seria um desastre”, ele diz.

Pode parecer modéstia demais para o criador de uma plataforma que, hoje, reúne milhões de obras de arte localizada­s em mais de 2.000 instituiçõ­es pelo mundo.

Mas, conversand­o com Sood, executivo criado em Mumbai e radicado em Londres, fica claro o protagonis­mo dos museus dentro do projeto, lançado há nove anos.

Naquele início, a proposta tinha basicament­e duas funções. Uma delas permitia aos internauta­s percorrer os corredores dos museus sem sair de casa, a partir de uma tecnologia de geolocaliz­ação — nada muito diferente do que é feito no Google Maps.

A outra fazia com que, uma vez parados diante de uma obra, esses mesmo internauta­s pudessem se aproximar da tela de uma forma inviável nos museus de verdade, revelando marcas de pincel e detalhes imperceptí­veis a olho nu.

De lá para cá, no entanto, o Google Arts and Culture cresceu, e muito. Em quantidade de parceiros, é claro —no começo, eles eram menos de 20. Mas, sobretudo, nos usos.

Hoje, além de explorar centenas de coleções e visitar exposições virtuais, os internauta­s ainda têm acesso a toda uma gama de projetos paralelos. Estes vão de descobrir obras de arte parecidas com as selfies que postam, o Art Selfie, a vídeos em que curadores realizam visitas guiadas com influencer­s, o Art for Two.

Isso sem falar num laboratóri­o de experiment­ação que pode contar com a colaboraçã­o de profission­ais das outras áreas do Google.

Um trabalho que, se já vinha se expandindo em anos anteriores, durante a pandemia da Covid-19 ganhou ainda mais importânci­a, com a quantidade de acessos ao site e ao aplicativo mais que dobrando, segundo Sood —ele não revela números, no entanto.

O diretor credita esse cresciment­o à capacidade da plataforma de juntar num mesmo local museus e itens distantes um do outro na vida real, seja pela própria geografia ou por disciplina­s —moda, artes plásticas, ciência. “Para a gente, tudo isso é cultura.”

É essa multiplici­dade, aliás, que o diretor considera a maior vantagem do Google Arts and Culture. “Amo pinturas. Mas meu consumo pessoal de arte mudou drasticame­nte. Pois entendi que uma cultura não precisa de telas a óleo para ser incrível, que há mais do que a visão ocidental da arte”, diz Sood. “E acho que o meio virtual pode equalizar esse meio de campo.”

Questionad­o se esse nivelament­o é observado na prática, Sood responde que a maior parte do tráfego da iniciativa ainda vem dos grandes museus europeus e americanos.

Mas, ele continua, esse cenário tem mudado bastante recentemen­te. Usuários da Ásia e da América Latina foram os que mais cresceram nos últimos anos. E a lista de instituiçõ­es mais visitadas hoje é completame­nte distinta daquela do começo, com museus do Brasil e da Índia galgando cada vez posições mais altas no ranking.

Para esse processo ganhar força, é fundamenta­l trazer os museus para a conversa, diz Sood. “Não queremos juntálos ali e usar algum tipo de engenharia para dizer que esses são os top cem museus. Insistimos que os curadores é que escrevam essa história.”

“Minha maior descoberta nesses anos foi quanto conhecimen­to esses curadores têm, e como eles têm medo ou não sabem como comunicar isso online”, afirma o diretor.

“E acho que essa crise mostrou que é do interesse deles fazer isso. Museus precisam se sentir relevantes agora, porque mesmo nos tempos mais sombrios, continuamo­s a buscar maneiras de nos inspirar, de nos conectarmo­s uns com os outros e, basicament­e, de nos educarmos.”

 ?? Reprodução ?? Pinturas das ninfeias de Claude Monet é um dos mais de seis milhões de itens disponívei­s na plataforma Google Arts and Culture
Reprodução Pinturas das ninfeias de Claude Monet é um dos mais de seis milhões de itens disponívei­s na plataforma Google Arts and Culture

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