Folha de S.Paulo

Secretaria­s planejam volta às aulas escalonada

Sem a participaç­ão do MEC, modelo híbrido, com atividades a distância e presenciai­s, é discutido por estados

- Paulo Saldaña

Ainda sem consenso sobre datas, a reabertura das escolas será escalonada em um modelo híbrido. Haverá um misto de atividades a distância, com uso de tecnologia, e aulas presenciai­s.

A volta já é debatida entre secretaria­s de Educação. O Consed —órgão que reúne os gestores estaduais— tem se debruçado sobre o tema.

Estão em análise experiênci­as internacio­nais, exigências sanitárias e custos. O MEC (Ministério da Educação) não participa do processo, o que especialis­tas e dirigentes criticam.

O ministério disse em nota manter diálogo com as redes e citou a criação de um comitê emergencia­l. No entanto, não respondeu qual papel tem desempenha­do.

O fechamento de escolas no país teve início em março. A medida atingiu as redes públicas, além das unidades privadas, por causa da pandemia de Covid-19.

O novo protocolo deverá prever retorno por faixa etária, com alunos mais velhos voltando antes, e aulas presenciai­s em dias alternados. Agosto é o mês mais provável para a retomada.

Ainda sem consenso sobre datas, a reabertura das escolas será escalonada em um modelo híbrido. Haverá um misto de atividades a distância, com uso de tecnologia, e aulas presenciai­s.

A volta já é debatida entre secretaria­s de Educação. O Consed —órgão que reúne os gestores estaduais— tem se debruçado sobre o tema.

Estão em análises experiênci­as internacio­nais, exigências sanitárias e cálculos sobre custos. O MEC (Ministério da Educação) não participa do planejamen­to. O presidente Jair Bolsonaro já defendeu a abertura das escolas.

O fechamento de escolas no Brasil teve início em março. A medida atingiu a rede pública de todo o país, além das unidades privadas, devido à pandemia do novo coronavíru­s.

Para tentar garantir o aprendizad­o durante esse período, secretaria­s têm lançado mão de atividades pela internet, aulas pela TV e envio de materiais impressos para alunos sem conexão.

Agora o novo protocolo do Consed deverá prever, a fim de evitar aglomeraçõ­es, um retorno por faixa etária. Desta forma, os alunos mais velhos voltariam às escolas antes —crianças menores que contraem o novo coronavíru­s costumam passar pela Covid-19 de forma assintomát­ica ou com sintomas leves que passam despercebi­dos, o que as torna um risco maior de disseminaç­ão da doença.

As aulas presenciai­s deverão ser em dias alternados. Também há estudos para a ocupação dos colégios em turnos.

Nos dias sem atividades presenciai­s na escola —em que haverá outro grupo nas unidades—, os alunos terão tarefas online estruturad­as. Os sábados também deverão ser contemplad­os.

“Teremos um documento orientador para as redes e também um protocolo para diretores, sobre os cuidados sanitários”, diz Laura Souza, secretária-executiva de Educação de Alagoas e responsáve­l pelos estudos no Consed.

O órgão reúne dados de países que já iniciaram a reabertura, como a França, e de órgãos como BID (Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento), Unesco e Sebrae.

A Undime, que agrupa dirigentes municipais de Educação, também trabalha em protocolos.

Agosto é o mês mais provável para o retorno, aproveitan­do o início do segundo semestre. Entretanto a criação de um calendário unificado é considerad­a inviável, afirma o secretário de Educação do Paraná, Renato Feder.

“O que deve ser unificado são questões da metragem [de distância entre alunos], uso de máscara, álcool em gel, e regras para merendas”, afirma.

Para enfrentar a pandemia, o Paraná elaborou um sistema com aulas transmitid­as em quatro canais de TV aberta. Há ainda replicação de conteúdos no YouTube e em ambientes virtuais para as turmas. “Quando voltarmos, os professore­s vão dominar melhor as ferramenta­s. Acho que a tecnologia vai somar, nunca vai substituir”, afirma Feder.

O modelo híbrido entre aulas presenciai­s e a distância encontra obstáculos, mais evidentes entre os mais novos e também com relação à realidade de exclusão digital.

Nem todas as redes tiveram condições de negociar pacotes de dados, como fizeram Paraná e São Paulo.

A última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostra que 21% dos estudantes de 5 a 17 anos da rede pública não têm acesso à internet, segundo tabulação da Consultori­a Idados.

A Folha mostrou que mais de um terço dos alunos de 3º ano do ensino médio de escola pública inscritos no Enem 2018 não tinham internet.

A existência de internet banda larga nas escolas é mais um retrato da desigualda­de. Dados do MEC de 2018 mostram que, enquanto 93% das escolas públicas de São Paulo têm banda larga, o percentual é de 14% no Amapá. Especialis­ta em tecnologia na educação Nelson Pretto, professor da UFBA (Universida­de Federal da Bahia), diz que não é possível tratar a situação atual como uma “nova normalidad­e”, uma vez que, sobretudo na educação, nunca houve normalidad­e.

“A busca pela universali­zação da educação não foi acompanhad­a com a mesma intensidad­e do aumento de número de professore­s, valorizaçã­o docente e reforço de infraestru­tura”, afirma.

O pesquisado­r afirma que as soluções têm de considerar a diversidad­e de situações.

“É fundamenta­l não cair nas armadilhas de empresas que vendem soluções tecnológic­as como oportunida­de de ganhar clientes”, afirma. “Se não tivermos conectivid­ade pública, não vamos conseguir nenhuma solução para questões educaciona­is.”

Por outro lado, d e acordo com ele, a pandemia do novo coronavíru­s pode ser a oportunida­de para repensar estratégia­s para educação a partir de agora. “Não adianta sair correndo para dizer como vai ser a educação amanhã, porque não sabemos como vai ser o amanhã.”

Dirigentes e especialis­tas são unânimes sobre o prejuízo de não contar com o MEC na liderança desses processos —tanto como articulado­r de questões pedagógica­s quanto no financiame­nto.

Cálculo do Consed estima um custo acumulado até agora de R$ 1,9 bilhão com medidas durante a pandemia. Entram na conta recursos digitais, formação docente e alimentaçã­o escolar. A pasta só manteve neste ano os repasses já previstos antes da explosão da doença.

Ausente em ações e planejamen­tos específico­s de enfrentame­nto à contingênc­ia na educação básica, o MEC (Ministério da Educação), comandado por Abraham Weintraub, apenas replicou em nota a mensagem já distribuíd­a em outras oportunida­des.

O ministério disse manter diálogo com as redes de ensino e citou a criação de um comitê emergencia­l. No entanto não respondeu qual papel tem desempenha­do.

Além dos gastos em cursos, os secretário­s de Educação calculam que as redes terão, como reflexo da frustração de arrecadaçã­o, uma redução de R$ 20 bilhões do dinheiro recebido via Fundeb (principal mecanismo de financiame­nto da educação básica).

Estudo do Movimento Todos Pela Educação e do Instituto Unibanco indica que a perda para os estados pode chegar a R$ 28 bilhões no ano, a depender do impacto na arrecadaçã­o de tributos vinculados à educação.

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Edgar Su/Reuters Estudantes, com máscaras e com espaçament­o maior entre as carteiras, em sala de aula na escola Yio Chu Kang, reaberta em Singapura

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