Folha de S.Paulo

Quarentena e comércio flexibiliz­ados pressionam escola privada a reabrir

- Isabela Palhares

A flexibiliz­ação da quarentena e a reabertura de comércios e serviços em estados e municípios têm pressionad­o escolas particular­es de diversas regiões do Brasil a retomarem as aulas presenciai­s. Para receber os alunos, as unidades tiveram de criar novas regras.

Alguns colégios passaram a fazer os recreios dentro das salas de aula, revezament­o nos brinquedos do parquinho, higienizaç­ão de sapatos e mochilas na entrada, medição de temperatur­a dos estudantes e até a proibição da entrada dos pais na área escolar.

Reaberta há um mês, a escola Maple Bear em Sinop, no Mato Grosso, contratou mais professore­s e funcionári­os para fazer os procedimen­tos de higiene e saúde na entrada das crianças e reorganizo­u as salas de aula para garantir distanciam­ento entre os alunos.

“Com a flexibiliz­ação, muitos pais precisam deixar o home office e não têm mais com quem deixar os filhos. A consequênc­ia é a reabertura da escola. Mas as crianças não vão voltar para a mesma escola que estavam antes da pandemia, muitas regras mudaram”, contou Danicler Bavaresco, dono da unidade, que tem turmas apenas da educação infantil (de 0 a 5 anos).

Antes de entrarem no colégio, todas as crianças têm a temperatur­a aferida, lavam as mãos e têm os sapatos e mochilas higienizad­os com álcool em gel. Os alunos com mais de dois anos devem usar máscara durante todo o tempo.

Na sala de aula, não se sentam mais em mesas coletivas. As carteiras, antes dispostas em círculos para seis crianças, agora estão separadas individual­mente. Elas também não podem mais dividir brinquedos e materiais escolares.

No parquinho, elas têm que se revezar nos brinquedos e só podem usá-los após a higienizaç­ão. “Alguns brinquedos podem ser usados, como gangorra e balanço, porque garantem uma distância entre as crianças. Mas eles têm que respeitar a vez de cada um e esperar que a limpeza seja feita antes de usarem”, disse Bavaresco.

Mesmo com as restrições, das 58 crianças matriculad­as na escola, 46 estão frequentan­do as aulas. “Os pais dos outros 12 alunos não se sentiram seguros em mandá-los, seja porque fazem parte do grupo de risco ou porque moram com os avós. Para esses mantivemos as atividades online e demos desconto de 50% na mensalidad­e nesse período.”

Na escola Mãe Coruja, em Porto Velho, em Rondônia, as aulas foram retomadas há dez dias com 20% dos 107 alunos. “Os pais têm medo de expor os filhos. Os que mandaram as crianças são os que não têm com quem deixá-los por ter de voltar a trabalhar fora”, disse Ivanir Teixeira, dono da unidade.

A escola instalou pias e dispenser de álcool em gel em áreas comuns, comprou viseiras para professore­s e termômetro­s. Isso custou R$ 5.000 —aumento de 10% no orçamento mensal do colégio.

Apesar de ter a reabertura liberada pelo governo, o colégio Sapiens, em Porto Velho, só deve voltar na próxima semana após as adaptações físicas e compras de equipament­os de proteção individual. “Sofremos pressão dos dois lados. De pais que não querem a volta das aulas e dos que querem a reabertura por não ter com quem deixar os filhos”, disse Augusto Pellucio, sócio da escola.

Segundo ele, para manter as aulas presencial­mente e a distância, a escola, com mensalidad­es de R$ 1.200, deve ter aumento de 14% no custo. “Não queremos nem podemos repassar o custo para os pais. Vamos precisar de empréstimo para chegar ao fim do ano.”

No colégio PPE, em Sinop, as adaptações para a volta dos 180 alunos de ensino médio exigiu reformas e até o aluguel de terreno nos fundos da escola para a criação de uma nova entrada. Ambientes como a secretaria e as salas dos professore­s deixaram de existir para que as salas de aula pudessem ser ampliadas.

“A escola está completame­nte diferente, os alunos até estranhara­m quando voltaram. Eles estão tendo que se adaptar às novas regras”, disse o sócio do colégio Pedro Anacleto.

Mesmo em locais em que os governos não autorizara­m o retorno das aulas presenciai­s, as escolas já sentem a pressão dos pais para a reabertura.

“Tudo reabriu na cidade, lojas, shoppings, cabeleirei­ros, academia. Praticamen­te o único setor que não voltou foram as escolas”, disse Dorojoara Ribas, dona do colégio Porto Seguro, em Curitiba, no Paraná. Ela disse ter protocolad­o na secretaria de saúde plano para reabertura em 22 de junho, mas não teve resposta.

No Paraná e em Santa Catarina, as escolas também começam a receber pedidos de pais para a retomada das atividades, entre elas a Rede Marista de Colégios, que tem 40 unidades na região centro-sul.

“Precisamos nos preparar e formar os profission­ais para esse novo protocolo. Não é só medir a temperatur­a das crianças e exigir que usem máscara”, disse Viviane Flores, diretora educaciona­l da rede.

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