Quarentena e comércio flexibilizados pressionam escola privada a reabrir
A flexibilização da quarentena e a reabertura de comércios e serviços em estados e municípios têm pressionado escolas particulares de diversas regiões do Brasil a retomarem as aulas presenciais. Para receber os alunos, as unidades tiveram de criar novas regras.
Alguns colégios passaram a fazer os recreios dentro das salas de aula, revezamento nos brinquedos do parquinho, higienização de sapatos e mochilas na entrada, medição de temperatura dos estudantes e até a proibição da entrada dos pais na área escolar.
Reaberta há um mês, a escola Maple Bear em Sinop, no Mato Grosso, contratou mais professores e funcionários para fazer os procedimentos de higiene e saúde na entrada das crianças e reorganizou as salas de aula para garantir distanciamento entre os alunos.
“Com a flexibilização, muitos pais precisam deixar o home office e não têm mais com quem deixar os filhos. A consequência é a reabertura da escola. Mas as crianças não vão voltar para a mesma escola que estavam antes da pandemia, muitas regras mudaram”, contou Danicler Bavaresco, dono da unidade, que tem turmas apenas da educação infantil (de 0 a 5 anos).
Antes de entrarem no colégio, todas as crianças têm a temperatura aferida, lavam as mãos e têm os sapatos e mochilas higienizados com álcool em gel. Os alunos com mais de dois anos devem usar máscara durante todo o tempo.
Na sala de aula, não se sentam mais em mesas coletivas. As carteiras, antes dispostas em círculos para seis crianças, agora estão separadas individualmente. Elas também não podem mais dividir brinquedos e materiais escolares.
No parquinho, elas têm que se revezar nos brinquedos e só podem usá-los após a higienização. “Alguns brinquedos podem ser usados, como gangorra e balanço, porque garantem uma distância entre as crianças. Mas eles têm que respeitar a vez de cada um e esperar que a limpeza seja feita antes de usarem”, disse Bavaresco.
Mesmo com as restrições, das 58 crianças matriculadas na escola, 46 estão frequentando as aulas. “Os pais dos outros 12 alunos não se sentiram seguros em mandá-los, seja porque fazem parte do grupo de risco ou porque moram com os avós. Para esses mantivemos as atividades online e demos desconto de 50% na mensalidade nesse período.”
Na escola Mãe Coruja, em Porto Velho, em Rondônia, as aulas foram retomadas há dez dias com 20% dos 107 alunos. “Os pais têm medo de expor os filhos. Os que mandaram as crianças são os que não têm com quem deixá-los por ter de voltar a trabalhar fora”, disse Ivanir Teixeira, dono da unidade.
A escola instalou pias e dispenser de álcool em gel em áreas comuns, comprou viseiras para professores e termômetros. Isso custou R$ 5.000 —aumento de 10% no orçamento mensal do colégio.
Apesar de ter a reabertura liberada pelo governo, o colégio Sapiens, em Porto Velho, só deve voltar na próxima semana após as adaptações físicas e compras de equipamentos de proteção individual. “Sofremos pressão dos dois lados. De pais que não querem a volta das aulas e dos que querem a reabertura por não ter com quem deixar os filhos”, disse Augusto Pellucio, sócio da escola.
Segundo ele, para manter as aulas presencialmente e a distância, a escola, com mensalidades de R$ 1.200, deve ter aumento de 14% no custo. “Não queremos nem podemos repassar o custo para os pais. Vamos precisar de empréstimo para chegar ao fim do ano.”
No colégio PPE, em Sinop, as adaptações para a volta dos 180 alunos de ensino médio exigiu reformas e até o aluguel de terreno nos fundos da escola para a criação de uma nova entrada. Ambientes como a secretaria e as salas dos professores deixaram de existir para que as salas de aula pudessem ser ampliadas.
“A escola está completamente diferente, os alunos até estranharam quando voltaram. Eles estão tendo que se adaptar às novas regras”, disse o sócio do colégio Pedro Anacleto.
Mesmo em locais em que os governos não autorizaram o retorno das aulas presenciais, as escolas já sentem a pressão dos pais para a reabertura.
“Tudo reabriu na cidade, lojas, shoppings, cabeleireiros, academia. Praticamente o único setor que não voltou foram as escolas”, disse Dorojoara Ribas, dona do colégio Porto Seguro, em Curitiba, no Paraná. Ela disse ter protocolado na secretaria de saúde plano para reabertura em 22 de junho, mas não teve resposta.
No Paraná e em Santa Catarina, as escolas também começam a receber pedidos de pais para a retomada das atividades, entre elas a Rede Marista de Colégios, que tem 40 unidades na região centro-sul.
“Precisamos nos preparar e formar os profissionais para esse novo protocolo. Não é só medir a temperatura das crianças e exigir que usem máscara”, disse Viviane Flores, diretora educacional da rede.