Elite política e jurídica do país rejeita cortar o próprio salário durante pandemia
O líder da bancada do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), apresentou no final de março projeto de redução escalonada dos salários do funcionalismo, mas o texto ficou na estaca zero.
O presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), também defendeu a discussão da medida, mas recuou após o ministro da Economia, Paulo Guedes, se manifestar no sentido contrário. “Até aqui, parece que não despertou o interesse da sociedade”, afirma o presidente do PSDB, Bruno Araújo.
De acordo com balanço detalhado mais recente do Ministério da Economia, 8,1 milhões de trabalhadores foram afetados (o governo usa o termo “beneficiados”, pois argumenta que a medida evitou a demissão). A maior parte teve o contrato suspenso, com 54,4% do total.
Diferentemente da redução voluntária em salários de alguns governadores e prefeitos, no plano federal os contracheques permanecem intocados, mesma situação de demais verbas.
Como a Folha mostrou, a cota parlamentar dos deputados caiu 60% no período da pandemia, em relação a 2019, mas vários deputados mantiveram gastos similares ou maiores do que os de período normais, com itens como combustível e aluguel de automóveis.
Em manifestação feita em abril à Folha, a PGR disse não haver avaliação sobre redução salarial ou de verbas no Ministério Público. “E nem seria possível, porque todos os cargos e remunerações no âmbito do Ministério Público da União são definidos por lei.”
O presidente Jair Bolsonaro e seus ministros recebem como remuneração mensal pela função R$ 30,9 mil. Congressistas, R$ 33,8 mil. Ministros do STF e o procurador-geral da República, R$ 39,3 mil, que é o teto constitucional.
O valor da aprovação do corte provisório no salário e benefícios de políticos e servidores dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), nas três esferas (federal, estadual e municipal), varia de acordo com os critérios (exclusão da área da saúde e segurança pública, por exemplo) a serem usados. De acordo com alguns cálculos, uma redução de 25% por três meses daria um caixa de mais de R$ 35 bilhões.