Listados em dossiê antifascista recorrem à polícia e à Justiça
Pessoas que tiveram seus dados divulgados nesta quinta-feira (4) em uma lista que compila supostos antifascistas irão recorrer à polícia e à Justiça para evitar ataques advindos dessa exposição e para buscar punir responsáveis pelos vazamentos.
O dossiê com quase mil nomes é atribuído ao deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP), aliado do presidente Jair Bolsonaro. O parlamentar, que considera os antifascistas terroristas, diz que nunca divulgou dados das pessoas, só os entregou a autoridades.
Douglas é um dos investigados pelo inquérito das fake news, conduzido no STF (Supremo Tribunal Federal).
Na Assembleia de São Paulo, o PSOL irá protocolar um pedido de cassação de Douglas. Ao mesmo tempo, pessoas expostas no documento se organizam para acionar a Justiça.
Além de nome, fotos e perfis nas redes sociais, o documento traz endereços de casa, de trabalho, telefones e números de documentos das pessoas listadas.
Ao longo da semana, Douglas pediu que seus apoiadores lhe enviassem perfis que fazem parte do que ele chama de “grupo terrorista Antifa”. Nesta terça, ele gravou vídeo mostrando o dossiê que havia reunido e disse que é preciso criar uma rede de combate ao terrorismo.
Os antifascistas integram movimento de oposição e com discurso pró-democracia, que ganhou corpo por meio de manifestos de entidades e por protesto no domingo (31) na avenida Paulista. O ato foi convocado por torcidas, incluindo o grupo
Somos Democracia, do Corinthians, alvo do dossiê.
Também nesta semana, Douglas teve seus dados vazados pelos hackers do Anonymous Brasil, que se declara antifascista. O deputado afirmou que “os grupos criminosos e terroristas que foram às ruas são a mesma galera” que divulgou suas informações.
O dossiê divulgado se parece com uma lista que passou a circular em grupos de extrema direita nesta quinta.
Além de estar na mira do STF, Douglas é investigado pelo Ministério Público de São Paulo. Na segunda-feira (1º), o órgão abriu inquérito civil contra ele e seu chefe de gabinete para investigar o uso de recursos públicos em suposto “gabinete do ódio” e na coleta de assinaturas para a criação do Aliança pelo Brasil.
Cerca de 50 pessoas que tiveram seus dados publicados se organizam para ir à Justiça. Segundo o advogado Jucemar da Silva Morais, que auxilia o grupo, cabe uma ação coletiva pedindo a suspensão da divulgação da lista na internet e o pagamento de indenização por danos morais, além de um pedido para que o Ministério Público investigue o vazamento de dados pessoais.
Os listados suspeitam que o dossiê seja uma versão de listas menores que já circulavam em grupos de extrema direita.
“Já é a segunda vez que apareço. É uma replicação de uma lista que circulou em novembro. A diferença é que a de agora é mais organizada e tem mais pessoas. Essa lista foi passada ao Douglas. Ele não é o criador da lista, que possivelmente foi elaborada por neonazistas”, diz Fábio Soares da Silva, 44.