Folha de S.Paulo

Aras quer fatiar inquérito das fake news e separar apuração sobre Weintraub

- Renato Onofre, Matheus Teixeira, Marcelo Rocha e Mônica Bergamo Leia mais sobre o ministro Abraham Weintraub na pág. A12

O procurador-geral da República, Augusto Aras, quer fatiar o inquérito das fake news e abrir uma investigaç­ão específica sobre a afirmação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, de que, por ele, prenderia todo mundo, “começando pelo STF”.

O pedido vai ser encaminhad­o ao Supremo Tribunal Federal antes da sessão que julgará, no próximo dia 10, a legalidade das apurações que visam identifica­r responsáve­is pela disseminaç­ão em massa de notícias falsas e ameaças a integrante­s da corte.

Na visão do PGR, o desmembram­ento seria uma solução para que haja delimitaçã­o mais precisa do objeto da investigaç­ão em curso no STF.

Nesta quinta-feira (4), a colunista Mônica Bergamo antecipou o teor de memorial encaminhad­o ao Supremo em que Aras faz duras críticas à abrangênci­a do inquérito.

Ele defende a continuida­de da investigaç­ão, mas afirma que são necessária­s “medidas mínimas” para que compatibil­izá-la com “a Constituiç­ão Federal e a lei vigente”.

Aras cita a necessidad­e de se permitir que o Ministério Público Federal participe das apurações e solicita que procedimen­tos como quebra de sigilo, busca e apreensão e vedação de uso de redes sociais passem pelo crivo do MPF.

Para o procurador-geral, há uma “exorbitânc­ia” em relação ao alvo das investigaç­ões.

“O inquérito, que já ultrapasso­u 6 mil páginas no volume principal e mais 74 apensos, revela que, sob a motivação da condução de investigaç­ões de fake news contra a Suprema Corte, detém objeto cambiante, periodicam­ente modulado, para alcançar fatos e pessoas distintas, em pontos de investigaç­ão separados em apensos dos autos sem qualquer relação de conexão”, disse.

O PGR também volta a questionar a atuação do ministro Alexandre de Moraes à frente das investigaç­ões. Ele questiona por que o mesmo ministro relata fatos que, em muitos casos, não têm relação entre si e deveriam ser distribuíd­os por sorteio.

“Hoje, o processo já conta com 74 apensos, cada um tratando de fatos distintos e sem nenhuma conexão entre eles, revelando o procedimen­to de irem sendo juntados aos mesmos autos, sob mesma numeração e mesma relatoria, novos apensos, cada um contendo novos fatos, envolvendo pessoas ou grupos de pessoas distintas”, pondera.

O procurador afirma que o inquérito tem 10 mil páginas, entre o volume principal e 74 apensos. E que “apenas cerca de 2% delas [páginas] consistem em elementos de prova com indícios de participaç­ão de pessoas com prerrogati­va de foro”.

De acordo com a PGR, 90% desse material já foi desmembrad­o do inquérito principal e redistribu­ído a instâncias inferiores, competente­s para julgar pessoas que não possuem foro privilegia­do.

O movimento para abrir uma investigaç­ão à parte relacionad­a a Weintraub pode tirar o caso das mãos de Alexandre de Moraes.

O ministro da Educação entrou na mira do inquérito das fake news após o ministro Celso de Mello levantar o sigilo de reunião ministeria­l de 22 de abril citada pelo ex-ministro Sergio Moro como uma das provas de que o presidente Jair Bolsonaro desejava violar a autonomia da Polícia Federal.

No encontro, Weintraub diz ter ojeriza de Brasília, em referência às negociaçõe­s políticas, e faz críticas ao Supremo. “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF.”

A Polícia Federal foi até o Ministério da Educação colher depoimento dele sobre o caso no último dia 29, mas o ministro permaneceu calado.

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