Folha de S.Paulo

Procon-SP notifica rede de academias por dificultar cancelamen­to de contratos

- Ivan Martínez-Vargas

O Procon-SP notificou na quarta-feira (3) o grupo Bio Ritmo, dono da rede de academias Smart Fit, após ter recebido 838 reclamaçõe­s de consumidor­es durante a atual pandemia de coronavíru­s. A maioria das queixas é de clientes que não conseguira­m cancelar seus contratos.

Apenas entre os dias 1º e 3 de junho, o órgão recebeu 400 reclamaçõe­s contra a empresa. Nas redes sociais, clientes da rede afirmam que a empresa tem exigido que os pedidos de cancelamen­to sejam feitos presencial­mente.

As academias do grupo, porém, estão fechadas em decorrênci­a das quarentena­s decretadas pelas autoridade­s para combater a pandemia de coronavíru­s. Em suas queixas, os clientes dizem que não conseguem ser atendidos por telefone e que o grupo se nega a fazer cancelamen­tos por email.

A empresa tem sido alvo de campanhas na internet que estimulam boicotes e cancelamen­tos depois que Edgar Corona, dono das redes Bio Ritmo e Smart Fit e notório apoiador de Jair Bolsonaro, passou a ser alvo da operação da PF que investiga fake news.

Procurada, a Smart Fit diz que não fará cancelamen­tos enquanto as academias estiverem fechadas. “Porém, não existe nenhum prejuízo aos clientes, uma vez que as mensalidad­es não estão sendo cobradas”, afirma em nota.

Segundo o Procon-SP, no entanto, há reclamaçõe­s também de que as cobranças de mensalidad­es continuara­m durante a pandemia e que não houve devolução dos valores pagos, mesmo sem a prestação dos serviços.

O órgão questionou a Smart Fit sobre qual o procedimen­to adotado pela empresa nos casos em que o cliente solicita o cancelamen­to do contrato e a devolução dos valores pagos, qual a política de cancelamen­to, suspensão ou reagendame­nto dos serviços e quais os canais de atendiment­o ao consumidor.

A rede de academias terá 72 horas para responder ao Procon, contadas a partir desta quinta-feira (4), e pode ser multada se o órgão constatar irregulari­dades.

“Temos recebido mais de 80 protocolos contra a empresa por dia. A Smart Fit, pelo que parece, não tem negociado nem atendido ao consumidor durante a pandemia. Não atendem o telefone e não fazem cancelamen­to por email”, diz Rodrigo Tritapepe, diretor de atendiment­o do Procon-SP.

Segundo Tritapepe, a empresa deve negociar com o

“não existe nenhum prejuízo aos clientes, uma vez que as mensalidad­es não estão sendo cobradas

Smart Fit em nota

consumidor formas de prestação do serviço durante a pandemia, mas o cliente pode escolher rescindir o contrato.

Também não pode haver cobrança de mensalidad­es se não há serviço prestado. “Se houve pagamento sem acesso, a empresa precisa negociar um crédito, ou uma extensão do contrato”, diz Rodrigo Tritapepe. Fica a critério do cliente aceitar a proposta.

A recomendaç­ão aos que se sentirem lesados é abrir uma reclamação contra a empresa no órgão, afirma ele.

“O registro mostra que pode existir uma irregulari­dade. Nós exigimos que a empresa responda e que haja a negociação. Além disso, isso serve como prova de boa-fé.”

Para o advogado Renato Moraes, sócio do escritório Cascione, a Smartfit pode cobrar de quem deseja cancelar o serviço eventuais punições que estejam previstas em contrato, mas não pode se negar a fazer o cancelamen­to.

“Não faz sentido exigir que o cancelamen­to seja presencial durante a pandemia. Mesmo se estiver prevista no contrato, tende a ser considerad­a uma cláusula abusiva na Justiça.”

Um email ou mesmo uma carta com aviso de recebiment­o pode servir como prova de que o consumidor tentou cancelar o serviço.

“Não faz sentido exigir que o cancelamen­to seja presencial durante a pandemia. Mesmo se estiver prevista no contrato, tende a ser considerad­a uma cláusula abusiva na Justiça

Renato Moraes advogado, sócio do escritório Cascione

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