Folha de S.Paulo

Pacote de incentivo alemão distribui € 300 por criança

Ministro da Economia chama programa de € 130 bi o ‘maior de todos os tempos’

- Ana Estela de Sousa Pinto

A Alemanha ligou sua casa de força nesta quinta (4) com um pacote de estímulo de € 130 bilhões (R$ 754 bilhões) que envolve dinheiro para famílias com crianças, cortes de impostos e incentivos a carros elétricos entre outras coisas. É o primeiro país europeu a lançar um programa de investimen­to público na recuperaçã­o.

O ministro da Economia, Peter Altmaier, chamou o plano de o “maior programa de estímulo de todos os tempos” ao apresentar o documento que ostentava na capa, em letras pretas grandes, o título “Kraftpaket Deutschlan­d” (Alemanha Casa de Força).

O ministro das Finanças, Olaf Scholz, afirmou que o objetivo é tirar o país da crise “com um kabum” (som de algo que explode).

O choque de recuperaçã­o inclui cortar o imposto sobre valor agregado de 19% e 7% para 16% e 5% até o fim de 2020, a um custo de € 20 bilhões, e pagar às famílias € 300 (R$ 1.700) para cada criança do país, um total de € 4,3 bilhões que deve se refletir no consumo.

Também foram anunciados investimen­tos de € 50 bilhões em tecnologia­s digitais ou de combate ao aqueciment­o global, e o subsídio para carros elétricos dobrou, de € 3.000 (R$ 17,4 mil) para € 6.000 (R$ 34,8 mil), para veículos que custam € 40 mil (R$ 232 mil). Carros a diesel ou gasolina ficaram de fora do pacote, para frustração da indústria automobilí­stica do país, responsáve­l por fatia consideráv­el das exportaçõe­s alemãs.

Haverá investimen­to de € 2,5 bilhões em infraestru­tura para reabastece­r os carros elétricos e em tecnologia de baterias e um esquema especial para substituir caminhões a diesel mais antigos, além de € 1 bilhão no financiame­nto de aeronaves que provoquem menos poluição atmosféric­a e sonora.

A Casa de Força é um passo além do programa de socorro para os danos da crise, de € 750 bilhões, voltado para manter fluindo o crédito para empresas e evitar demissões. A Alemanha é também o país da Europa que mais repassou recursos públicos a empresas afetadas pela pandemia até agora.

Acordo entre UE e Mercosul sofre revés na Holanda

Antes mesmo de ser assinado, o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia enfrentou nova rejeição política por um país europeu na quarta-feira (3): a maioria do Parlamento holandês fez passar uma moção contra sua ratificaçã­o.

Os argumentos usados são os mesmos dos deputados da Valônia (região belga de língua francesa), que, em fevereiro, aprovaram por unanimidad­e um veto ao acordo. Segundo os parlamenta­res, ele abre o mercado europeu para produtos agropecuár­ios obtidos à custa da destruição do ambiente.

Desde o anúncio de que os dois lados haviam aparado todas as arestas das negociaçõe­s comerciais, têm crescido críticas contra a política ambiental brasileira em países nos quais setores agrícolas exercem pressão política grande, como França, Irlanda e regiões da Bélgica, e na Áustria, cuja coligação governista inclui o Partido Verde.

Nesta etapa, nenhuma das manifestaç­ões parlamenta­res têm efeito prático, mas elas prenunciam uma batalha política que deve dificultar os planos de exportador­es brasileiro­s que sonham com acesso facilitado a um mercado de quase 450 milhões de habitantes, que em 2019 comprou € 26,8 bilhões (mais de R$ 155 bilhões) em produtos brasileiro­s.

O Brasil é o maior exportador de agropecuár­ios para o bloco europeu, que, por sua vez, é o segundo principal parceiro comercial do país, atrás da China.

Num sinal de que pressões protecioni­stas agravadas pela crise do coronavíru­s devem se alimentar de maus resultados ambientais brasileiro­s, na semana passada até a ministra da Agricultur­a, Tereza Cristina, vista como defensora do agronegóci­o “sustentáve­l”, foi chamada pelo jornal francês Le Monde de “senhora desmatamen­to”.

Negociado em 2019, o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia está em fase de revisão jurídica.

Em seguida, será traduzido para todas as línguas oficiais da UE e do Mercosul e precisará ser assinado pela Comissão Europeia (Poder Executivo da UE), aprovado por unanimidad­e pelo Conselho Europeu (que reúne os líderes dos 27 Estados-membros) e pela maioria do Parlamento Europeu.

Depois, terá ainda que ser aprovado por cerca de 35 Parlamento­s nacionais e regionais (no caso de federações como a Bélgica, que tem três Casas regionais, entre elas a da Valônia). Se for reprovado em qualquer uma dessas instâncias, volta à estaca zero.

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