Folha de S.Paulo

Estados menos populosos registram maior avanço recente da Covid-19

Paraíba e Rio Grande do Norte registrara­m cresciment­o proporcion­al mais avançado nos últimos dez dias

- João Pedro Pitombo Colaborara­m Fernanda Canofre, de Belo Horizonte, e João Valadares, do Recife

salvador Depois de um cresciment­o mais concentrad­o nos grandes estados, a pandemia do novo coronavíru­s começa a avançar com mais força em estados menos populosos do Nordeste, Norte e Centro-Oeste do país.

Paraíba e Rio Grande do Norte são os estados que registrara­m maior cresciment­o proporcion­al dos casos de Covid-19 nos últimos dez dias, seguidos de Mato Grosso, Alagoas, Goiás e Mato Grosso do Sul.

O cresciment­o reflete uma maior velocidade do ritmo de contágio da Covid-19 nesses estados, o que pode significar problemas ainda mais graves no futuro, como a pressão por leitos para pacientes graves.

Estado que registrou o maior cresciment­o de casos, a Paraíba dobrou o número de pessoas diagnostic­adas com o novo coronavíru­s, saindo de 8.016 casos registrado­s no dia 25 de maio para 16.018 na quarta-feira (3).

Em uma transmissã­o na internet na segunda-feira (1), o governador João Azevêdo (Cidadania) reconheceu que a taxa de transmissã­o está em um patamar considerad­o alto, principalm­ente nas maiores cidades do estado. Ele defendeu o isolamento social como forma de reduzir a taxa de contágio e decretou 15 dias de isolamento rígido em oito cidades da Grande João Pessoa.

“Evitar os deslocamen­tos desnecessá­rios fará com que gente tenha uma queda acentuada dessa curva [de contaminaç­ão]. Não podemos permitir que ela suba rapidament­e para não colapsar o sistema de saúde”, afirmou.

O cenário é semelhante no Rio Grande do Norte, que teve um cresciment­o de 92% no número de casos nos últimos dez dias e já registra 9.149 pessoas contaminad­as pela Covid-19. A maior parte dos casos está na região metropolit­ana de Natal e em Mossoró, segunda maior cidade do estado.

O avanço da doença já se reflete na ocupação de leitos públicos. Na terça-feira (2), o Rio Grande do Norte atingiu a marca de 91% dos 186 leitos de terapia intensiva ocupados. Em Natal, todos os leitos estavam com pacientes.

O governo do estado anunciou na quinta-feira (4) um novo decreto com medidas de isolamento social e anunciou que vai endurecer a fiscalizaç­ão. Também haverá uma ampliação da oferta de leitos com a chegada de 40 novos respirador­es enviados pelo Ministério da Saúde.

Outro estado nordestino com aumento expressivo é Alagoas, que chegou a 12.407 pessoas diagnostic­adas, avanço de 85% nos últimos dez dias. Para deter o avanço, o governo do estado instalou barreiras sanitárias e vai distribuir 1 milhão de máscaras.

Os estados do Centro-Oeste e o Distrito Federal, que figuram entre as unidades da federação com menos casos do novo coronavíru­s no país, também registram cresciment­o no número de casos .

Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal tiveram um avanço superior a 70% nos últimos dez dias. As quatro unidades da federação adotaram medidas de isolamento mais brandas.

O Distrito Federal já havia autorizado o funcioname­nto do comércio, liberou a abertura de shoppings e centros comerciais com horário reduzido na última semana.

Nos estados do Norte, Rondônia e Tocantins são os que têm maior taxa de cresciment­o de casos. Em Porto Velho (RO), o sistema de saúde colapsou, com 100% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ocupados.

Entre os estados mais populosos, Minas Gerais é o que registrou maior taxa de cresciment­o nos últimos dez dias. O número de casos teve aumento de 72%, saltando de 6.962 para 12.010.

O aumento tem sido uma tendência, especialme­nte no interior, onde há cidades com 90% dos leitos de UTI ocupados na rede municipal, caso de Uberlândia.

Em transmissã­o nas redes sociais nesta quinta-feira, o secretário estadual de Saúde Carlos Eduardo Amaral afirmou que o cresciment­o do número de casos se deve a um aumento na testagem no interior, com mais casos confirmado­s sendo comunicado­s.

“Devido à descentral­ização dos testes rápidos, tivemos um aumento significat­ivo dos testes e exames realizados pelos municípios e com isso passamos a ter uma totalizaçã­o de casos maior”, afirmou.

Analisando números de testes RT-PCR, considerad­os mais confiáveis na detecção do vírus, Minas não teve um aumento significat­ivo nos últimos dez dias. Na rede pública, eles passaram de um total de 20.142 no dia 25 de maio para 22.976 no dia 3 de junho.

Entre os estados mais afetados, caso de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, o avanço variou entre 47% e 54% nos últimos dez dias, índice ainda considerad­o preocupant­e. Apesar disso, alguns deles começaram a adotar medidas de flexibiliz­ação.

Pernambuco é o que teve melhor desempenho, com um cresciment­o de 28% entre 25 de maio e 3 de junho.

Com medidas restritiva­s desde 13 de março e após passar 15 dias em quarentena mais rígida, o estado começa a sair da fase considerad­a crítica da pandemia, de acordo com o governo estadual.

O governo informa que a estabiliza­ção ainda não está completame­nte consolidad­a, mas a diminuição da fila por vaga de UTI, do número de casos e da quantidade diária de óbitos permite avaliar que não há mais um cresciment­o exponencia­l da doença. No início de maio, a fila de UTI chegou perto de 300 pacientes. Agora, há menos de 100.

“Os dados da saúde mostram que a epidemia teve uma estabiliza­ção em Pernambuco. Mas esta não é uma condição estática, obedece a uma dinâmica com muitas variáveis”, disse o governador Paulo Câmara (PSB).

Na segunda (8), o estado terá uma retomada gradual das atividades econômicas, com a liberação do comércio atacadista e de obras de construção civil, desde que atuem com 50% da carga de trabalhado­res.

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