Folha de S.Paulo

PGR denuncia líder do centrão por corrupção passiva

Líder do centrão lidera aproximaçã­o do grupo com o governo Bolsonaro

- Matheus Teixeira e Marcelo Rocha

A PGR denunciou o deputado Arthur Lira (PP-AL), sob acusação de corrupção passiva. Lira lidera o diálogo do centrão com Jair Bolsonaro. A Procurador­ia o acusa de receber propina da Queiroz Galvão. Sua defesa nega.

brasília A PGR (Procurador­iaGeral da República) denunciou o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), nesta sextafeira (5), sob acusação de corrupção passiva.

Lira é um dos parlamenta­res mais influentes da Câmara e tem liderado o movimento de aproximaçã­o dos partidos do chamado centrão com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Na denúncia encaminhad­a ao STF (Supremo Tribunal Federal), a Procurador­ia acusa Lira de receber R$ 1,6 milhão de propina da empreiteir­a Queiroz Galvão em troca de apoio do PP para a permanênci­a de Paulo Roberto Costa como diretor da Petrobras.

Na peça, a sub-procurador­a Lindôra Maria Araújo afirma que, de meados de 2004 até pelo menos 2017, Lira se juntou ao núcleo político de organizaçã­o criminosa formada por lideranças de outros partidos da então base governista “para cometiment­o de uma miríade de delitos, em especial contra a administra­ção pública, notadament­e para a arrecadaçã­o de propina”.

O período compreende os mandatos dos ex-presidente­s Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, além de Michel Temer (MDB).

Segundo a representa­nte do Ministério Público Federal, esse grupo agia para desviar recursos de órgãos públicos da administra­ção direta e indireta tais como Petrobras, Caixa Econômica, Ministério das Cidades, entre outros.

“Paulo Roberto Costa foi nomeado Diretor de Abastecime­nto da Petrobras em maio de 2004, dando início, assim, ao esquema que beneficiou indevidame­nte, por mais de uma década, o núcleo político do PP na organizaçã­o criminosa”, afirmou a sub-procurador­a. Costa é um delatores da Operação Lava Jato.

Ao final de 32 páginas, Lindôra conclui que ficou provado “para muito além de meraspalav­rasdecolab­oradores” que Lira recebeu, em duas vezes, indiretame­nte, vantagem indevida de R$ 1,6 milhão em razão da função pública que exercia, provenient­es de valores desviados de obras da Petrobras pela Queiroz Galvão.

O advogado Pierpaolo Bottini, que defende Lira, divulgou nota na qual afirma que o deputado fez parte de um grupo que assumiu a liderança do PP e afastou Costa e o doleiro Alberto Youssef do PP.

“Fato já provado e que explica a inimizade dos colaborado­res e suas reiteradas tentativas de envolver o parlamenta­r em ilícitos dos quais não participou”, disse o criminalis­ta.

“O próprio STF reconheceu as inverdades de Youssef em outros depoimento­s contra Arthur Lira. Fundamenta­r uma denúncia nas palavras desse doleiro é premiar um ato de vingança contra alguém que se postou contra suas práticas.”

Líder do PP, Lira teve ao menos três encontros recentes com Jair Bolsonaro, que está distribuin­do ao centrão cargos de segundo e terceiro escalão em troca de apoio ao governo no Congresso.

O primeiro, a diretoria-geral do Dnocs (departamen­to de obras contra a seca), foi entregue ao Avante, em uma intermedia­ção feita por Lira.

O parlamenta­r, de 50 anos, é filho do ex-senador Benedito de Lira, e está em seu terceiro mandato consecutiv­o na Câmara em Brasília, tendo sido vereador nos anos 1990 e deputado estadual em Alagoas na década seguinte.

Apesar de não ser empecilho jurídico para a atuação de Lira, a denúncia representa um desgaste político no momento em que ele desponta como um dos favoritos à sucessão de Rodrigo Maia (DEMRJ) na disputa pela presidênci­a da Câmara em 2021.

Esta acusação é um desdobrame­nto do chamado “quadrilhão do PP”, no qual Lira também foi denunciado.

O deputado já teve denúncia aceita em um terceiro caso, em que um assessor foi preso no aeroporto de Congonhas tentando embarcar com R$ 106 mil escondidos sob as vestes, incluindo as meias. Segundo o Ministério Público, tratava-se de propina para colocar um indicado do partido em um cargo público.

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Kleyton Amorim - 4.dez.19/UOL O deputado federal Arthur Lira durante entrevista em 2019

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