Folha de S.Paulo

Paz, amor e cargos

- Julianna Sofia

brasília Jair Bolsonaro entregou mais um anel ao centrão na bufonaria que promove com cargos públicos para tentar blindar seu mandato. Nomeou para a Secretaria de Vigilância do Ministério da Saúde — área nevrálgica no combate à pandemia— um afilhado político dos partidos com os quais negocia verbas e postos-chave em troca de apoio.

Mais de uma dúzia de posições foram franqueada­s pelo Palácio do Planalto a essas legendas desde que as fagulhas do impeachmen­t passaram a chispar mais alto. Outras secretaria­s da própria Saúde são objeto da cobiça, e a presidênci­a da Funasa foi parar nas mão do PSD.

(Aliás, sob a interinida­de do general Eduardo Pazuello, o Ministério da Saúde passa por uma extravagan­te mutação e adquire feições híbridas entre o fisiologis­mo político e a burocracia militariza­da. Já são ao menos 26 fardados no órgão.)

Na barganha desmedida, o Banco do Nordeste ganhou novo presidente na terça-feira (2) para perdê-lo na quarta. Passou despercebi­da pelos arapongas da Abin uma investigaç­ão do TCU sobre malfeitos do nomeado. Com a divulgação do caso, o Planalto determinou a demissão. Há um mês, no entanto, deu de ombros ao saber que, dias após a nomeação do novo diretor-geral do Dnocs, o deputado que o apadrinhou foi alvo de operação policial.

Embora custe pontos à popularida­de cadente de Bolsonaro —segundo o Datafolha, 67% dos eleitores avaliam que o presidente age mal ao negociar com o centrão—, os préstimos do bloco têm sido satisfatór­ios. Há seis meses dormita no Conselho de Ética o caso em que o deputado Eduardo Bolsonaro cogitou a volta do AI-5. Os novos capangas de Bolsonaro frearam tentativas de ampliar benefícios a trabalhado­res afetados por cortes de salários, o que afetaria as contas públicas.

O centrão paz, amor e cargos também desistiu da disputa de R$ 25 bilhões do orçamento impositivo. Em fevereiro, Augusto Heleno (GSI) xingou parlamenta­res e acusou-os de chantagem na briga pelos recursos.

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