Folha de S.Paulo

A ressaca de Bolsonaro e Witzel

- Alvaro Costa e Silva

rio de janeiro Além de chamá-lo de “estrume” no furdunço ministeria­l de 22 de abril, Jair Bolsonaro mandou um recado a Wilson Witzel: “Brevemente, já sabe onde ele deve estar”. Com sua bola de cristal e seu português estropiado, o que o presidente quis dizer? Que o governador sofrerá impeachmen­t? Ou que será preso, tal e qual cinco ex-ocupantes do cargo (Pezão, Cabral, os Garotinhos, Moreira Franco)? Ou que irá direto para o pelotão de fuzilament­o?

Alvo de dez pedidos de impeachmen­t desde que foi deflagrada a Operação Placebo (comemorada pelo presidente e apelidada por deputados bolsonaris­tas de Operação Covidão), a qual investiga irregulari­dades na área da saúde durante a pandemia, WW ainda teve as contas de 2019 rejeitadas pelo TCE.

Para diminuir a pressão dos deputados e das investigaç­ões criminais que também envolvem a primeirada­ma Helena Wizel, ele fez uma limpa no governo, trocando seis secretário­s, entre os quais seu braço direito, Lucas Tristão, que comandava a Secretaria de Desenvolvi­mento Social e Econômico. Tristão tinha um relacionam­ento próximo com o empresário Mário Peixoto, preso na Operação Favorito.

Bolsonaro e WW são produtos irmanados da “nova política”, que surgiu na campanha de 2018 com a promessa de dar um fim à corrupção. O governador hoje encrencado poderia responder ao presidente —não menos encrencado com o inquérito das fake news e a acusação de interferên­cia na PF— usando a mesma frase: “Brevemente, já sabe onde ele deve estar”. Quem se estrepar primeiro terá a certeza da antiga propaganda de vodca: “Eu sou você amanhã”.

Ao relaxar as medidas de combate ao coronavíru­s no momento mais dramático da escalada da doença, em que morre um brasileiro por minuto, fica evidente nossa vocação de país inacabado, que deixa tudo pela metade, sem caminho nem futuro.

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