Folha de S.Paulo

Bolsonaro sugere Força Nacional em manifestaç­ões contra o governo

Presidente pede que polícias militares ‘façam seu devido trabalho’ e volta a criticar protestos

- Daniel Carvalho

águas lindas de goiás O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu ajuda das polícias militares nos estados e disse que vai usar forças de segurança federais contra manifestan­tes que, no domingo (7), extrapolar­em os “limites da lei” em atos contra o governo.

Sem máscara, na inauguraçã­o de um hospital de campanha para vítimas do novo coronavíru­s em Águas Lindas de Goiás, a 57 km de Brasília, o presidente cobrou que a PM faça “seu devido trabalho” e sugeriu o uso da Força Nacional em manifestaç­ões que se denominam antifascis­tas. Bolsonaro pediu que seus apoiadores não saiam às ruas.

Segundo integrante­s do Ministério da Justiça, a Força Nacional de Segurança ainda não foi convocada, o que dependeria de um acerto entre o governo Bolsonaro e a administra­ção do Distrito Federal.

“O outro lado, que luta por democracia, que quer o governo funcionand­o, quer um Brasil melhor e preza por sua liberdade, que não compareçam às ruas nesses dias para que as forças de segurança, não só estaduais, bem como a nossa, federal, façam seu devido trabalho porventura estes marginais extrapolem os limites da lei”, disse Bolsonaro.

O presidente afirmou que os manifestan­tes contra seu governo “geralmente são marginais, maconheiro­s, desocupado­s que não sabem o que é economia, o que é trabalhar para ganhar o pão de cada dia”.

“Querem quebrar o Brasil em nome de uma democracia que nunca souberam o que é e nunca zelaram por ela”, disse.

Apesar de afirmar que não há previsão de atos em Goiás neste fim de semana, Bolsonaro disse ter certeza que, caso apareçam no estado, o governador Ronaldo Caiado (DEM) irá tratá-los “com a dureza da lei que eles merecem”.

Bolsonaro tem trabalhado com aliados uma estratégia para tentar diferencia­r esses atos das manifestaç­ões semanais de seus apoiadores em favor do governo. Com isso, tentará insistir na tese de que os que o apoiam têm como hábito organizar movimentos pacíficos, enquanto a oposição adota métodos violentos.

Na última terça (2), o presidente classifico­u os protestos contra seu governo de “marginais e terrorista­s”.

Seus auxiliares aguardam com expectativ­a as manifestaç­ões de domingo para aferir o tamanho da oposição nas ruas. Na segunda-feira (1º), o presidente já havia dito a apoiadores que não deveriam sair de casa no fim de semana.

Bolsonaro afirmou na quinta-feira (4) que “liberdade de expressão tem que valer para todo mundo”. A declaração ocorreu em resposta a um apoiador que, em frente ao Palácio da Alvorada, disse que o mandatário deveria processar críticos que se referem a ele como “genocida”.

Na noite do mesmo dia, em live nas redes sociais, o chefe do Executivo chamou aqueles que se manifestam contra seu governo de idiotas, marginais e viciados.

Em meio a esse acirrament­o, alguns integrante­s do Palácio do Planalto fazem um esforço para arrefecer a temperatur­a da crise institucio­nal. Contudo, auxiliares veem com reticência a possibilid­ade de o presidente realmente se compromete­r a baixar o tom, dado seu histórico intempesti­vo.

Há leituras diferentes sobre a orientação dada por Bolsonaro para que seus apoiadores não apareçam na Esplanada dos Ministério­s, por exemplo.

Há quem defenda que, de fato, ele queira evitar confrontos. Porém também há quem diga que o presidente apenas procurou uma vacina para o caso de haver mais manifestan­tes contrários a ele do que a favor. Além disso, outros argumentam que, caso o ato seja marcado por violência, Bolsonaro poderá apontar o dedo para seus opositores.

Partidos de oposição, como Rede e PSB, divulgaram notas sobre os atos marcados para domingo no país, que devem ocorrem em meio ao agravament­o da crise do novo coronavíru­s, que já deixou mais de 34 mil mortos no Brasil. Ambos desencoraj­am os filiados a participar das manifestaç­ões.

Nesta sexta, Bolsonaro foi a Águas Lindas de Goiás de helicópter­o. Ao cumpriment­ar bombeiros próximo ao local onde pousou, escorregou no barro e levou um tombo.

Numa cerimônia rápida, fechada à imprensa, mas transmitid­a pela TV oficial do governo, Caiado e Bolsonaro, que haviam rompido no início da pandemia, trocaram afagos em seus discursos.

O governador de Goiás fez uma apresentaç­ão com feitos da gestão Bolsonaro no estado. “O governo federal impulsiona o cresciment­o de Goiás”, dizia um dos slides do governador, que comemorou as oito visitas oficiais do presidente.

Bolsonaro retribuiu os afagos do aliado. “Depois de ouvir o Caiado, me animei. Confesso que não queria falar. Mas com suas palavras amáveis, verdadeira­s, me tocou”, disse.

O presidente enfrenta o seu pico de rejeição desde o início do mandato, segundo pesquisa Datafolha.

Leia mais sobre os atos nas págs. A12 (Poder) e B14 (Esporte) e sobre o hospital de Águas Lindas de Goiás na pág. B6 (Saúde)

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Isac Nóbrega/Divulgação Presidênci­a O presidente Jair Bolsonaro, ao centro, em encontro com lideranças evangélica­s na tarde desta sexta, em Brasília

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