Folha de S.Paulo

Acordo falha, e SP deve ter atos pró e contra Bolsonaro amanhã

Governo Doria tinha pedido separação de protestos, mas não houve consenso

- Carolina Linhares

são paulo Contrarian­do a determinaç­ão do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de que manifestaç­ões opostas não acontecess­em no mesmo dia e local, grupos contra e a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) irão se manifestar na avenida Paulista neste domingo (7).

A decisão foi tomada em reunião na manhã desta sextafeira (5) entre os organizado­res de ambos os lados, convocada pela Polícia Militar e pelo Ministério Público. Uma nova reunião, na parte da tarde, tentou novamente que algum grupo cedesse, mas os dois atos foram mantidos.

No último domingo (31), um ato contra Bolsonaro convocado por torcidas organizada­s acabou sendo dispersado por bombas de gás lançadas pela PM. Na avenida Paulista, também havia uma manifestaç­ão a favor de Bolsonaro e houve conflito entre as partes.

Para evitar que isso se repetisse, a PM tentou fazer com que um dos lados aceitasse mudar o dia ou o local da nova manifestaç­ão, mas não houve consenso nas reuniões.

As autoridade­s sugeriram que bolsonaris­tas se manifestas­sem na região do Ibirapuera, onde há um acampament­o desses grupos, mas eles não aceitaram. Diante do impasse, ficou acertado que os dois atos ocorrerão no domingo.

A manifestaç­ão pró-Bolsonaro está marcada para as 11h, em frente ao prédio da Fiesp. Os principais grupos bolsonaris­tas, porém, não irão, para evitar conflitos. Só grupos pequenos e intervenci­onistas endossam a convocação.

Já o protesto em oposição ao governo foi agendado para as 14h, em frente ao Masp. Ele é organizado pela Frente Povo Sem Medo, da qual Guilherme Boulos (PSOL) faz parte, e terá a participaç­ão das torcidas organizada­s, como o movimento Somos Democracia, de torcedores do Corinthian­s.

Às 10h, no Masp, haverá protesto de movimentos negros contra o racismo.

Na reunião desta sexta, ficou acertado que a PM isolará os dois atos. A estação de metrô Trianon-Masp deve ficar fechada para que os manifestan­tes não se encontrem ali —eles devem usar as estações Brigadeiro e Consolação.

A PM também informou que fará revista na saída das estações para apreender armas e objetos que possam ser usados para agressão.

O secretário paulista de Segurança Pública, general João Camilo Campos, disse que a PM está preparada “da melhor forma” para controlar multidões e que iria atuar da mesma forma nos atos de sábado e domingo —dando a entender que os atos ocorreriam em dias diferentes, algo que a PM não conseguiu.

Segundo ele, a PM adotará como estratégia o uso de agentes “mediadores”, que vão esti

Mario Sarrubbo procurador-geral de Justiça de São Paulo

mular o diálogo entre os manifestan­tes para evitar que “ordem seja quebrada”.

Os atos contra o governo foram convocados ao longo da semana. Os eventos chegaram a reunir mais de 50 mil interessad­os.

“Chamamos mobilizaçã­o há uma semana. É uma manifestaç­ão organizada, com cara e com pessoas. A nós não interessam conflitos e provocaçõe­s, isso só interessa ao bolsonaris­mo”, afirma Boulos.

Já a maior parte dos grupos pró-Bolsonaro, que vinham fazendo carreatas em São Paulo todos os fins de semana, afirmou que no domingo atenderia ao pedido do próprio presidente e ficaria em casa.

Só grupos pequenos insistem em ir à Paulista. “Eles defendem AI-5, artigo 142, coisas de que eu discordo”, afirma o major Costa e Silva, bolsonaris­ta que pediu aos seus seguidores que fiquem em casa.

Para ele, essa minoria “quer confrontar-se com os antifascis­tas” e há “grande probabilid­ade de confronto”. “Acho que com menos gente é mais fácil para a PM controlar e há menos chance de confusão.”

Nesta sexta, Bolsonaro voltou a pedir que seus apoiadores fiquem em casa. Ele cobrou que a Polícia Militar faça “seu devido trabalho” e sugeriu o uso da Força Nacional em manifestaç­ões que se denominam antifascis­tas caso “estes marginais extrapolem o limite da lei”.

Segundo o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mario Sarrubbo, a ideia da reunião foi resolver a questão com base em diálogo e consenso.

Ele afirmou que atos contrários no mesmo dia e local poderiam virar “campo de batalha” e colocar em risco a vida e a segurança de manifestan­tes.

O risco de confrontos entre grupos opostos não é, contudo, a única polêmica em relação à manifestaç­ão do próximo domingo. A aglomeraçã­o vai contra as indicações de médicos e ocorre num momento em que o país bate recorde de mortos pelo coronavíru­s.

Até quinta, nem bolsonaris­tas nem os oposicioni­stas haviam comunicado oficialmen­te às autoridade­s a intenção de fazer o protesto na av. Paulista no domingo, segundo integrante­s do governo. A PM monitorou as redes sociais para entrar em contato com organizado­res de ambos os lados e marcar a reunião.

Sarrubbo afirma que as manifestaç­ões não podem atentar contra a democracia e o poder público, e que caso isso ocorra, a PM deve apreender faixas e dialogar com os manifestan­tes para proibir os ataques às instituiçõ­es.

“Não pode ser admitida manifestaç­ão que peça golpe militar, intervençã­o militar, fechamento do Congresso ou do STF. Isso atenta contra o Estado democrátic­o de Direito.”

De acordo com o procurador-geral, o procedimen­to da PM nesses casos deveria ser de dissolver a manifestaç­ão, mas o Ministério Público não recomenda isso devido aos riscos.

“A ideia é dialogarmo­s, não é o caso de entrar em confronto e criar uma tragédia.”

“O Ministério Público reconhece o direito de manifestaç­ão mesmo em tempo de pandemia, desde que regras sanitárias sejam seguidas

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