Folha de S.Paulo

Bolsonaro pede para TSE não usar provas do inquérito das fake news

- Matheus Teixeira

brasília O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que rejeite o compartilh­amento de provas entre o inquérito das fake news e as ações que podem levar à cassação de sua chapa por crimes eleitorais.

A solicitaçã­o para a corte eleitoral aproveitar elementos colhidos pela investigaç­ão em curso no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a disseminaç­ão de notícias falsas e ameaças a integrante­s da corte foi apresentad­a pelo PT.

O partido acredita que os fatos investigad­os pelo inquérito podem ter relação com um esquema de disparo em massa de informaçõe­s fraudulent­as em favor de Bolsonaro no pleito de 2018 —no segundo turno da eleição , o PT viu seu candidato, Fernando Haddad, ser derrotado pelo atual presidente.

A solicitaçã­o ocorreu depois de o ministro Alexandre de Moraes, do STF, ter determinad­o, no último dia 27 de maio, uma operação policial contra apoiadores e parlamenta­res ligados ao governo.

O magistrado determinou, entre outras coisas, a quebra dos sigilos bancário e fiscal do empresário e aliado de Bolsonaro Luciano Hang, um dos alvos da ação no TSE, a partir de junho de 2018, o que deu força à tese de que o inquérito das fake news pode trazer provas relativas às últimas eleições presidenci­ais.

A advogada Karina Kufa, que representa o chefe do Executivo no TSE, no entanto, afirma que os casos não têm conexão e que o compartilh­amento seria uma “clara afronta ao princípio da independên­cia das instâncias cível, penal e eleitoral”.

A defesa do presidente afirma, ainda, que a ação do PT não se sustenta e diz que o partido “confunde o TSE com local para manifestar seu inconformi­smo pela derrota no pleito de 2018”.

O ministro Og Fernandes, do TSE, é o relator da ação e ainda não decidiu se acolherá ou não o pedido para o compartilh­amento dos dados do STF no caso.

Na próxima semana, a corte eleitoral irá julgar duas ações contra a chapa encabeçada por Bolsonaro, então no PSL, que elegeu também Hamilton Mourão (PRTB) para vice.

As duas representa­ções apuram se o presidente apoiou a iniciativa de criminosos para invadir um grupo virtual intitulado “Mulheres Unidas contra Bolsonaro”, que tinha mais de 2,7 milhões de pessoas.

Os invasores mudaram o nome para “Mulheres COM Bolsonaro #17” e o então candidato publicou nas redes sociais um agradecime­nto “pela consideraç­ão das mulheres de todo o Brasil” acompanhad­a de foto da página do grupo modificada.

Essas ações foram apresentad­as por Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (PSOL), adversário­s de Bolsonaro em 2018. Os dois alegam que a publicação feita nas redes sinaliza “forte elemento” da provável participaç­ão de Bolsonaro no episódio ou, no mínimo, de sua ciência.

O julgamento já havia começado. O relator, Og Fernandes, votou para rejeitar a ação, mas o ministro Edson Fachin pediu vista e a análise do caso foi encerrada.

O relator disse que não há dúvidas de que a página foi alvo de ataques cibernétic­os e citou que o próprio Facebook, que abrigava o grupo, admitiu que houve a invasão entre os dias 15 e 16 de setembro de 2018.

Apesar disso, Og Fernandes defendeu que investigaç­ões não foram conclusiva­s quanto à autoria da invasão.

Ponderou, ainda, que o episódio durou menos de 24 horas e não teve gravidade suficiente para causar ofensa à normalidad­e e à legitimida­de das eleições.

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