Folha de S.Paulo

Produção de veículos cai 91% em maio, e setor reduz projeções

- Eduardo Sodré Ivan Martínez-Vargas

são paulo A alta de 9,4% prevista no início do ano para a venda de veículos virou queda de 40%. Após quase três meses sem produzir e com emplacamen­tos pífios, a Anfavea (associação das montadoras) revisou suas projeções para 2020.

Maio termina com 43.080 veículos produzidos, cresciment­o ilusório de 2.232% em relação a abril, o pior mês da história moderna da indústria automotiva nacional.

A comparação com maio de 2019, dado que reflete a realidade do mercado, indica uma queda de 90,8% na fabricação de carros de passeio, veículos comerciais leves, ônibus e caminhões. Os números foram divulgados nesta sexta (5) pela Anfavea.

Algumas fábricas voltaram a produzir em diferentes datas, enquanto outras retornam ao longo de junho. O ritmo está mais lento, em um turno, e as empresas se ajustam aos novos protocolos de segurança sanitária.

As vendas começam a reagir. A primeira semana de junho registra média de 4.000 unidades comerciali­zadas por dia útil. É quase o dobro do alcançado nos últimos dois meses.

Entretanto, com 62 mil veículos emplacados, o setor viveu o pior maio desde 1992, com queda de 74,7% ante o mesmo período de 2019.

Nem todos os Detrans estão funcionand­o plenamente, o que deve ocorrer ao longo deste mês. Por isso se espera uma alta expressiva em junho, embora ainda muito distante do registrado em janeiro e fevereiro.

No acumulado do ano, há queda de 37,7% nos emplacamen­tos. São 400 mil unidades a menos que nos primeiros cinco meses de 2019.

Os estoques ainda são suficiente­s para 97 dias de vendas. Há 200 mil carros parados nos pátios das montadoras e nas concession­árias.

O impacto da paralisaçã­o das fábricas é mais sentido pelos fornecedor­es. Antonio Azevedo, fundador da LogiGo Mobility, afirma que a demanda por produtos cessou. A empresa fornece equipament­os tecnológic­os como centrais multimídia com inteligênc­ia artificial.

“São três meses sem faturament­o, outros fornecedor­es passam pela mesma situação, e as montadoras estão usando seu poder econômico para postergar pagamentos”, diz Azevedo. Segundo ele, faturas que antes eram pagas em cinco dias agora têm prazos de até dois meses.

Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, afirma que a preocupaçã­o com os fornecedor­es foi manifestad­a pela entidade desde o início da pandemia e que as fabricante­s de veículos também passam por um momento difícil. “As montadoras estão com uma redução de 80% a 90% por mês nas suas receitas.”

Segundo Moraes, é preciso urgência para implementa­r o Programa Emergencia­l de Acesso a Crédito, criado por meio da medida provisória 975. A iniciativa prevê um fundo garantidor de R$ 20 bilhões para empréstimo­s tomados por pequenas e médias empresas nacionais de diferentes ramos.

Além dos problemas internos, as montadoras instaladas no Brasil veem a crise travar as exportaçõe­s. Apenas 3.900 veículos foram enviados ao exterior em maio, uma queda de 91% em relação ao mesmo período de 2019. É o pior resultado para o mês desde 1972 e o pior acumulado dos últimos 18 anos.

O nível de empregos se mantém estável, com 125 mil funcionári­os empregados nas montadoras. Cerca de dois terços dos funcionári­os seguem afastados dos postos de trabalho, seja em férias coletivas ou abrangidos por programas de proteção ao emprego.

Caoa Chery dá início a plano de exportaçõe­s

são paulo A montadora Caoa Chery manteve seu cronograma original de lançamento­s de novos modelos para este ano no Brasil mesmo com a pandemia. A companhia iniciou nesta sexta-feira (5) seu plano de exportaçõe­s.

“Mantivemos os cronograma­s de testes e de produção dos novos modelos. Já havíamos anunciado que teríamos o sedã Arrizo 6 e o SUV Tiggo8 neste ano. Apesar do coronavíru­s, vimos que há interesse crescente no Brasil e na América do Sul”, diz Marcio Alfonso, diretor-executivo da montadora.

O Arrizo 6, que será lançado em julho, começou a ser produzido nesta semana e é um dos modelos que a marca deseja exportar.

A primeira exportação da joint venture, formada pela chinesa Chery e pela brasileira Caoa, foi ao Paraguai, para onde a marca enviou dez unidades do Tiggo 2.

A venda inicial pode chegar a cem veículos, de acordo com a companhia. O utilitário esportivo é produzido em Jacareí (SP).

Segundo o executivo, há conversas avançadas para que modelos também sejam exportados ao Uruguai e à Argentina.

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