Folha de S.Paulo

Luciane, 34, a paranaense com duas profissões bem diferentes

- Jéssica Meheret

guarapuava (pr) Pessoa de riso fácil e humor inigualáve­l, Luciane Freiberger trabalhava como fisioterap­euta com idosos, em um posto de saúde em Ariranha do Ivaí (PR), a 35 km de Manoel Ribas, cidade onde morava. Estava afastada do trabalho como medida de prevenção ao coronavíru­s.

No dia 6 de abril, Luciane começou a sentir-se mal e foi internada com suspeita de bronquite, mas o diagnóstic­o de Covid-19 foi confirmado dois dias. Ela morreu em 16 de abril.

O reencontro com a turma de fisioterap­ia, que havia sido marcado para este ano, não será mais possível. Em homenagens nas redes sociais, os amigos destacam o sorriso fácil de Luciane e seus abraços carinhosos.

Mari Ramos conheceu Luciane em 2003 na faculdade. Costumavam trocar bilhetes durante a aula. “A Lu era muito simpática, prestativa e estudiosa. Acho que a maior marca que ela deixou foi o sorriso, assim como vemos nas fotos.”

O gosto pelos estudos de diferentes áreas levou Luciane a se formar também em engenharia civil, que sempre foi o curso de seus sonhos. Quando prestou vestibular pela primeira vez, ela passou em fisioterap­ia na Universida­de Estadual Do Centro Oeste (Unicentro) e, para poder ajudar financeira­mente os pais, continuou no curso.

Após a graduação e depois de alguns anos atuando na área, surgiu a oportunida­de de estudar engenharia civil no Centro Universitá­rio Grupo Integrado, com apoio do Fies. Ela se formou em 2019, e atuava paralelame­nte como engenheira autônoma.

“Na faculdade ela era excelente. A Luciane amava estudar e seu grande desejo era fazer intercâmbi­o”, contou Mônica Evangelist­a, colega no curso de engenharia.

Casada havia dez anos com o vendedor Alécio De Oliveira da Silva, ela tinha muito carinho pelo afilhado Enrico, 4, e também planos de aumentar a família. “Ela pensava em ter filhos futurament­e, mas antes queria viajar, comprar um apartament­o na praia, atuar na engenharia e estudar ainda mais”, diz Mônica, que foi madrinha no seu casamento.

Ninguém da família de Luciane apresentou sintomas do vírus. Não se sabe de quem nem onde ela pode ter se infectado. Não tinha também comorbidad­es.

Luciane foi o primeiro caso de coronavíru­s registrado em Manoel Ribas, cidade com pouco mais de 13 mil habitantes.

A rapidez da doença não deu tempo para uma despedida ou um último abraço. “Eu esperava que ela voltasse pra casa, para que eu pudesse fazer o pudim de paçoca que ela gostava tanto e que comeria metade sozinha, mas não pude”, lamentou Carla Freiberger, prima de Luciane.

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