Folha de S.Paulo

Enem 2021 pode ser suspenso por falta de verba

Ministério da Educação alerta pasta da Economia sobre previsão de queda no orçamento, que ainda está em debate

- Paulo Saldaña e Fábio Pupo

“Convém destacar que o [...] Enem figura-se entre os programas que correm o risco de serem descontinu­ados Adalton Rocha de Matos subsecretá­rio de Planejamen­to e Orçamento do MEC

brasília A previsão de uma redução de R$ 4,18 bilhões no orçamento de 2021 do MEC (Ministério da Educação) pode colocar em risco, para o próximo ano, ações essenciais da pasta como a realização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), continuida­de no pagamento de bolsas de pesquisa e o custeio para funcioname­nto de universida­des públicas federais.

A situação consta em ofício encaminhad­o ao Ministério da Economia pelo próprio ministro Abraham Weintraub (Educação), com data desta quinta-feira (4).

A mensagem pede ampliação dos recursos do MEC para 2021 no âmbito da proposta orçamentár­ia, em discussão pela equipe do ministro Paulo Guedes (Economia).

O MEC reclama que a previsão de despesas discricion­árias à pasta para 2021 é 18,2% inferior à prevista na lei orçamentár­ia deste ano. Essa rubrica (que não leva em conta os gastos fixos como salários de servidores) passaria de R$ 22,96 bilhões neste ano para R$ 18,78 bilhões em 2021.

No documento, o MEC pede que o Ministério da Economia amplie em R$ 6,8 bilhões a previsão do orçamento discricion­ário da pasta para “cobertura de despesas com a continuida­de de suas políticas educaciona­is”. O montante equipara ao valor da lei orçamentár­ia deste ano e acresce suplementa­ção.

Para sensibiliz­ar a pasta de Paulo Guedes, o Ministério da Educação afirma que praticamen­te todas as ações importante­s da pasta têm risco de prejuízo, como o PNLD (Programa Nacional do Livro Didático)

e repasses às redes de ensino estaduais e municipais.

Ressalta, no entanto, que a redução desse orçamento “afetará gravemente e poderá interrompe­r” ações relacionad­as ao ensino superior, como a concessão de bolsas de pesquisa da Capes (Coordenaçã­o de Aperfeiçoa­mento de Pessoal de Nível Superior), funcioname­nto de campi das universida­des federais e também avaliações nacionais do estudantes, como é o caso do Enem, principal porta de acesso para o ensino superior público— na edição deste ano, o exame recebeu 6,2 milhões de inscritos— e para programas como o Prouni (Programa Universida­de para Todos), que concede bolsas de estudos integrais e parciais em cursos de graduação privados.

“Convém destacar que o consagrado Exame Nacional do Ensino Médio – Enem figura-se entre os programas que correm o risco de serem descontinu­ados, e soma-se a esse prejuízo o fechamento de cursos, campi e possivelme­nte instituiçõ­es inteiras, compromete­ndo a educação superior e a educação profission­al e tecnológic­a”, cita trecho de nota técnica assinada pelo subsecretá­rio de Planejamen­to e Orçamento do MEC, Adalton Rocha de Matos.

Ainda há tempo para que a solicitaçã­o do MEC seja analisada pelo Ministério da Economia. O governo federal tem até o fim de agosto para enviar ao Congresso o projeto do orçamento de 2021.

Procurado pela reportagem, o Ministério da Educação não respondeu aos questionam­entos sobre a previsão de corte orçamentár­io na pasta para o ano que vem.

Em nota, o Ministério da Economia informou que os referencia­s monetários, enviados aos ministério­s em 26 de maio, foram definidos com base em projeções globais das despesas e receitas da União para o próximo ano.

A área econômica cita a necessidad­e de cumpriment­o do teto de gastos e diz que os valores ainda são preliminar­es, sujeitos a alterações até o envio do Projeto de Lei Orçamentár­ia ao Congresso.

“Dada a necessidad­e de cumpriment­o do teto de gastos, é importante destacar que as despesas primárias obrigatóri­as vêm crescendo ao longo dos anos, o que comprime as dotações disponívei­s para as despesas primárias discricion­árias”, diz o ministério em nota, que argumenta caber a cada pasta alocar os valores entre os programas de acordo com a prioridade.

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