Folha de S.Paulo

Deputados invadem e fazem vídeos em hospital de campanha do Anhembi

- Luciano Trindade e Isabela Palhares

são paulo Cinco deputados estaduais acompanhad­os de seus assessores invadiram as instalaçõe­s do hospital de campanha no Anhembi na tarde desta quinta-feira (4), causando tumulto no local. Dizendo que fariam uma vistoria, eles criticaram o governador João Doria (PSDB) e afirmaram que o governo paulista mente sobre o número de casos e mortes no estado.

Na quinta-feira, o Brasil chegou à marca de 34.021 mortes e 614.941 casos confirmado­s; outras 4.159 mortes estão em investigaç­ão. Epicentro da pandemia no país, o estado de São Paulo chegou ao número de 8.561 óbitos e 129.200 casos confirmado­s.

O número real de casos e mortes por Covid-19, porém, tende a ser ainda maior, devido à subnotific­ação e a casos ainda à espera de análise.

Mesmo com esses números, os deputados Adriana Borgo (Pros), Marcio Nakashima (PDT), Leticia Aguiar (PSL), Coronel Telhada (PP) e Sargento Neri (Avante) forçaram a entrada nas instalaçõe­s hospitalar­es do Anhembi, inclusive em áreas com alto risco de contaminaç­ão.

Em vídeos divulgados em suas redes sociais, Nakashima afirma que encontrou leitos vazios, alguns sem respirador­es e criticou as medidas de isolamento social impostas no estado. Também em vídeo divulgado na internet, Adriana Borgo disse que “não tem doente porcaria nenhuma” no hospital de campanha.

Assim como os demais parlamenta­res, ela criticou as medidas de distanciam­ento social, recomendad­as pela OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) como principal forma de conter a pandemia enquanto não há remédio eficaz ou vacina para conter a doença.

Em postagem no Twitter, Nakashima afirmou que “após princípio de tumulto, pudemos conferir mais um exemplo de má gestão dos recursos públicos no hospital de campanha do Anhembi. O governo quer alugar leitos de hospitais privados e vemos esta estrutura inoperante”.

Os vídeos divulgados pelos parlamenta­res mostram funcionári­os do hospital de campanha pedindo para os deputados e assessores usarem, pelo menos, equipament­os de proteção individual para entrarem nos locais com alto risco de contaminaç­ão. “Isso

é frescura. A gente não tem medo disso”, reclamou Borgo.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, responsáve­l pela instalação do hospital de campanha, afirmou que “os deputados e assessores invadiram o HMCamp do Anhembi de maneira desrespeit­osa, agredindo pacientes e funcionári­os verbal e moralmente, colocando em risco a própria saúde porque inicialmen­te não estavam usando EPIs e a própria vida dos cidadãos que estão internados e em tratamento na unidade”.

A gestão Bruno Covas (PSDB) diz ainda que os parlamenta­res filmaram alas do hospital que não foram ativadas, mas que estão prontas para serem colocadas em funcioname­nto se for necessário. “E também gravaram pacientes sem autorizaçã­o prévia, muitos dos quais estavam sendo higienizad­os em seus leitos.”

Com capacidade para atender cerca de 1.800 pacientes, o hospital de campanha do Anhembi está, atualmente, com 397 pessoas internadas, segundo a prefeitura, que informa também que outros 3.700 pacientes já passaram pelo local, dos quais 2.800 foram curados e tiveram alta.

“A Prefeitura de São Paulo reitera total repúdio a atitudes violentas e ações deliberada­s para tentar enganar a opinião pública”, finaliza a nota divulgada pela gestão municipal.

Em entrevista à imprensa nesta sexta (5), o prefeito Bruno Covas (PSDB) classifico­u como “sensaciona­lismo barato” a tentativa de parlamenta­res de entrarem no hospital de campanha.

“Lamentável que parlamenta­res usem sua prerrogati­va de fiscalizaç­ão para exploração política. São os mesmos que acreditam que a terra é plana, pedem a volta do AI-5 e usam o que muitos lutaram para conquistar um parlamento livre e com poder de fiscalizaç­ão”, disse Covas.

Ele disse ainda não vai permitir que profission­ais da saúde sejam desrespeit­ados. “Não vamos atravessar a pandemia com vídeo para WhatsApp e produção de fake news”, disse.

“Isso é frescura. A gente não tem medo disso [Covid-19] Adriana Borgo (Pros-SP) deputada estadual

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