Folha de S.Paulo

Pandemia causa redução de consultas e exames de HIV e tuberculos­e

- Cláudia Collucci

são paulo A pandemia de Covid-19 já traz impactos nas políticas de HIV/Aids e de tuberculos­e, como redução das equipes técnicas, de consultas e de exames de rotina.

Nos programas de Aids, por exemplo, houve redução em 40% das equipes e 35% das consultas. Os serviços de referência relatam queda de 22% das testagens de HIV. Nas ações de tuberculos­e, 24,5% dos diagnóstic­os foram atingidos.

Os resultados são de uma pesquisa de entidades que acompanham políticas relacionad­as a essas doenças. Na primeira etapa do levantamen­to, 69 coordenado­res municipais e estaduais de programas foram ouvidos. Nas próximas duas fases, serão entrevista­dos profission­ais de saúde e usuários.

Na apresentaç­ão dos dados preliminar­es, na quinta (4), profission­ais que atuam na ponta desses serviços relataram que a situação atual já é pior do que a retratada na pesquisa, feita entre os dias 28 de abril e 10 de maio.

“Os atendiment­os ambulatori­ais de pacientes com HIV foram praticamen­te paralisado­s na sua totalidade. Muitos serviços de referência fizeram a mesma coisa. Tudo isso sem nos avisar”, disse Moyses Toniollo, do Conselho Nacional de Saúde, que mora em Salvador (BA).

Dilza Soares Silva, supervisor­a do serviço de DST-Aids de Campos Maior (PI), diz que o atendiment­o está restrito aos pacientes que estavam com atendiment­os agendados. Também só recebem antirretro­virais aqueles que já tinham receita médica.

“Não há agendament­o de novas consultas. Tenho três casos novos de pacientes soropositi­vos que não podem sequer fazer o teste de carga viral porque não estão marcando nada. Só para casos urgentes. Exames que estavam agendados também não estão sendo feitos”, relata.

Há queixas de problemas de diagnóstic­o porque laboratóri­os municipais pararam de fazer exames para tuberculos­e para atender às demandas da pandemia.

“Infelizmen­te a pauta da Covid-19 vem atropeland­o e muito as ações voltadas ao HIV, Aids e tuberculos­e. Temos que ficar atentos para que elas sejam oferecidas apesar da pandemia”, disse Carla Almeida, coordenado­ra da pesquisa.

A oferta de Prep (Profilaxia pré-exposição) foi reduzida em 35% nos locais pesquisado­s. Um quarto dos gestores (25%) nem sequer sabe como os serviços estão operando. E 13% dos entrevista­dos dizem que não aderiram à recomendaç­ão de distribuir antirretro­virais por 90 dias, como recomendad­o pelo Ministério da Saúde, por problemas com logística e estoque de medicament­os.

A pesquisa também aponta uma redução de 42% das equipes técnicas dos serviços de tuberculos­e e diminuição de 20% da oferta de consultas por conta das ações para o enfrentame­nto da Covid-19.

Segundo Carla, além dos impactos da epidemia de Covid-19 na rede laboratori­al, há relatos de falta de manutenção de equipament­os, de insumos e de profission­ais.

A pesquisa conta com o apoio da Articulaçã­o Social Brasileira para o Enfrentame­nto da Tuberculos­e (Articulaçã­o TB/Brasil), Articulaçã­o Nacional de Aids (Anaids), Comitê Comunitári­o de Acompanham­ento de Pesquisas em tuberculos­e (CCAP TB/Brasil) e do segmento Sociedade Civil da Parceria Brasileira contra a Tuberculos­e.

“Não há agendament­o de novas consultas. Tenho três casos novos de pacientes soropositi­vos que não podem sequer fazer o teste de carga viral porque não estão marcando nada Dilza Soares Silva supervisor­a do serviço de DST-Aids de Campos Maior (PI)

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