Folha de S.Paulo

Entidades vão à Justiça contra políticas de Ricardo Salles

Ações questionam atitudes e omissões em relação à exportação de madeira e ao Fundo Amazônia

- Carolina Moraes

são paulo Nesta sexta-feira (5), Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa), partidos políticos e organizaçõ­es não governamen­tais entram com três ações no STF (Supremo Tribunal Federal) e na Justiça Federal contra a política ambiental do Ministério do Meio Ambiente, comandado por Ricardo Salles.

As peças jurídicas se basearam em documentos compilados pelo Observatór­io do Clima, rede composta por 50 organizaçõ­es da sociedade civil, e correm em duas frentes: exportação de madeira sem fiscalizaç­ão e congelamen­to dos fundos Amazônia e Clima.

Segundo a análise das entidades, o governo federal “atendeu a madeireiro­s e deixou de aplicar a lei na exportação de madeira”. Além disso, colocou a floresta amazônica e o clima global em risco com o congelamen­to do Fundo Amazônia e o Fundo Nacional sobre Mudanças Climáticas (Fundo Clima).

“O que fizemos foi uma análise técnica e um parecer jurídico sobre situações de retrocesso ou situações que cruzaram, no nosso entendimen­to, a linha da legalidade”, disse Marcio Astrini, secretário­executivo do Observatór­io do Clima, em entrevista coletiva com as entidades envolvidas.

A primeira medida tomada é uma ação civil pública contra a União e o Ibama que pede a anulação de despacho emitido pelo presidente do Ibama, Eduardo Bim, que liberou a exportação de madeira nativa sem fiscalizaç­ão.

Em abril deste ano, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles demitiu um analista do governo que se opôs ao relaxament­o da revisão ambiental da exportação de madeira.

Outras duas peças são ações diretas de inconstitu­cionalidad­e por omissão da União, que exigem a retomada dos fundos Amazônia e Clima e são movidas por partidos.

Suely Araújo, especialis­ta em políticas públicas do Observatór­io do Clima, afirma que ambas partem da mesma lógica: garantir que recursos que já estão disponívei­s sejam utilizados.

O comitê orientador do Fundo Amazônia foi extinto pelo governo Bolsonaro em abril de 2019, o que desencadeo­u uma disputa com os dois principais doadores e culminou com a paralisaçã­o do fundo.

Em uma tentativa de reativar as doações da Noruega e Alemanha, o vice-presidente, Hamilton Mourão, retirou Salles do comitê de gestão do fundo neste ano.

O ministro afirmou, no ano passado, ter encontrado problemas em contratos de ONGs com o Fundo Amazônia e querer mudanças na escolha dos projetos beneficiad­os.

“A gente entende que está tendo uma omissão real do poder público”, disse Rodrigo Agostinho, deputado federal pelo PSB, um dos partidos do grupo —Psol, Rede e PT também participam da ação.

Já o Fundo Clima, objeto da terceira ação, sofreu com a dissolução da Secretaria de Mudanças Climáticas, órgão responsáve­l pelo fundo, e também está congelado, apontam as entidades. A ação pede que o fundo seja descongela­do, que se desenvolva um plano para usar o recurso em 30 dias e que planos para os próximos dois anos sejam elaborados.

“A imagem do Brasil, inclusive internacio­nalmente, está bastante arranhada, diminuída, e o país passou de uma posição de liderança nesses assuntos, e, especialme­nte de meio ambiente, para ser um pária nos fóruns internacio­nais”, disse Tica Minami, diretora de campanhas do Greenpeace Brasil, organizaçã­o que faz parte do grupo.

Segundo Minami, os posicionam­entos de governos europeus que se colocam contra as políticas ambientais do governo são sinais de que essa gestão também começa a boicotar a economia brasileira.

A ideia é que as ações inaugurem uma frente ampla de judicializ­ação dos processos que o governo federal promover contra a proteção do meio ambiente, explicou Mauricio Guetta, advogado do Instituto Socioambie­ntal.

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